Somos Anjos e Mestres!
Todos nós sabemos alguma coisa que alguém, em algum lugar, precisa aprender e, por vezes, nós mesmos recordarmos.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

"Lição De Moral... Carta De Natal À Presidente Do Brasil"

Meu nome é Ary Fontoura, sou brasileiro, tenho 81 anos, e exerço o ofício de ator. Acredito que, por também ser uma figura pública, Vossa Excelência tenha assistido algum dos meus trabalhos, seja no teatro, no cinema, ou na televisão. Visto que vivemos num país onde a liberdade de expressão é primazia, venho solicitar, através desta carta, me utilizando desta rede social, em nome de mais de duzentos milhões de brasileiros, a sua renúncia. Esforço-me, contudo, em explicar o meu pedido e, antes, permita-me algumas considerações.
Já vivi o bastante e ao longo de todos esses anos pude ver um grande número de presidenciáveis que, desde a Proclamação da República, seja por indicação direta das Forças Armadas, por movimentos revolucionários, por Golpe Militar, ou por voto direto, governaram este país. Assim como a Senhora, sobrevivi aos duros Anos de Chumbo e, confesso, fui um admirador dos companheiros, cujos ideais socialistas lutaram contra o Regime Militar. Mas, depois de todo esse tempo, ainda aguardo um grande Presidente para o nosso país. E acrescento que continuaremos sem tê-lo, enquanto houver um “telefone vermelho” entre Brasília e o Guarujá ou São Bernardo do Campo.
Em 24 de agosto de 1954, o Presidente Getúlio Vargas se matou em seu quarto com um tiro no peito. Na carta-testamento ele registrou: “Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada temo. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”, preferindo o suicídio a se submeter à humilhação que os adversários queriam com a sua renúncia.
Em 1961, o então Presidente Jânio Quadros, alegando “forças ocultas”, renunciou e disse: “Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do exterior.
Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração”.
No próximo dia 1º, Vossa Excelência subirá a Rampa do Planalto em direção à governança. No entanto, a subida será solitária, ainda que partidária e com bases aliadas. Mas saiba que duzentos milhões de brasileiros, mais uma vez, subirão com a Senhora, na esperança de se desenvolverem como cidadãos, e de ascenderem coletivamente num país melhor. Por isso, reforço o meu pedido inicial de “renúncia”.
Como chefe maior dessa Nação, como Presidente ou Presidenta, renuncie à corrupção, aos corruptores, aos corrompíveis, aos corrompidos; renuncie à roubalheira política, aos escândalos na Petrobras; renuncie à falta de vergonha e aos salários elevados de muitos parlamentares; renuncie aos altos cargos tomados por ladrões; renuncie ao silêncio e ao “eu não sabia”; renuncie aos Mensaleiros; renuncie ao apadrinhamento político, aos parasitas, ao nepotismo; renuncie aos juros altos, aos impostos elevados, à volta da CPMF; renuncie à falta de planejamento, à economia estagnada; renuncie ao assistencialismo social eleitoreiro; renuncie à falta de saúde pública, de educação, de segurança (Unidade de Polícia Pacificadora não é orgulho para ninguém); renuncie ao desemprego; renuncie à miséria, à pobreza e à fome; renuncie aos companheiros políticos do passado, a velha forma de governar e, se necessário, renuncie ao PT.
Dizem que o Natal é uma época de trégua e que em Brasília a guerra só recomeça depois do Ano Novo. Para entrar na história, porém, não será necessário ser extremista como Getúlio e Jânio e renunciar a Presidência da República, mas será necessário não renunciar ao seu país, ao seu povo. Governe com os opositores, governe com autonomia. Faça o seu Natal ser particularmente inspirador e se permita que a sua história futura seja coerente com o seu passado, porque o brasileiro tem o coração cheio de sonhos e alma tomada de esperanças.

Ary Fontoura


quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

" Materialismo Do Papai Noel E Espiritualidade do Menino Jesus"!!!!

Um dia, o Filho de Deus quis saber como andavam as crianças que outrora, quando andou entre nós,“as tocaca e as abençoava” e que dissera:”deixai vir a mim as criancinhas porque delas é o Reino de Deus”(Lucas 18, 15-16). 
À semelhança dos mitos antigos, montou num raio celeste e chegou à Terra, umas semanas antes do Natal. Assumiu a forma de um gari que limpava as ruas. 
Assim podia ver melhor os passantes, as lojas todas iluminadas e cheias de objetos embrulhados para presentes e principalmente seus irmãos e irmãs menores que perambulavam por aí, mal vestidos e muitos com forme, pedindo esmolas.
Entristeceu-se sobremaneira, porque verificou que quase ninguém seguira as palavras que deixou ditas:”quem receber qualquer uma destas crianças em meu nome é a mim que recebe”(Marcos 9,37). E viu também que já ninguém falava do Menino Jesus que vinha, escondido, trazer na noite de Natal, presentes para todas as crianças. O seu lugar foi ocupado por um velhinho bonachão, vestido de vermelho com um saco às costas e com longas barbas que toda hora grita bobamente:”Oh, Oh, Oh…olhem o Papai Noel aqui”. 
Sim, pelas ruas e dentro das grandes lojas lá estava ele, abraçando crianças e tirando do saco presentes que os pais os haviam comprado e colocado lá dentro. Diz-se que veio de longe, da Finlândia, montado num trenó puxado por renas. 
As pessoas haviam esquecido de outro velhinho, este verdadeiramente bom: São Nicolau. De família rica, dava pelo Natal presentes às crianças pobres dizendo que era o Menino Jesus que lhes estava enviando. Disso tudo ninguem falava. 
Só se falava do Papai Noel, inventado há mais de cem anos. Tão triste como ver crianças abandonadas nas ruas, foi perceber como elas eram enganadas, seduzidas pelas luzes e pelo brilho dos presentes, dos brinquedos e de mil outros objetos que os pais e as mães costumam comprar como presentes para serem distribuídos por ocasião da ceia do Natal. 
Propagandas se gritam em voz alta, muitas enganosas, suscitando o desejo nas crianças que depois correm para os pais, suplicando-lhes para que comprem o que viram. O Menino Jesus travestido de gari, deu-se conta de que aquilo que os anjos cantaram de noite pelos campos de Belém”eis que vos anuncio uma alegria para todo o povo porque nasceu-vos hoje um Salvador…glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa-vontade”(Lucas 2, 10-14) não significava mais nada.
O amor tinham sido substituído pelos objetos e a jovialidade de Deus que se fez criança, tinha desaparecido em nome do prazer de consumir. Triste, tomou outro raio celeste e antes de voltar ao céu deixou escrita uma cartinha para as crianças. Foi encontrada debaixo da porta das casas e especialmente dos casebres dos morros da cidade, chamadas de favelas. 
Ai o Menino Jesus escreveu:
- Meus queridos irmãozinhos e irmãzinhas, Se vocês olhando o presépio e virem lá o Menino Jesus e se encherem de fé de que ele é o Filho de Deus Pai que se fez um menino, menino qual um de nós e que Ele é o Deus-irmão que está sempre conosco.
Se vocês conseguirem ver nos outros meninos e meninas, especialmente nos pobrezinhos, a presença escondida do Menino Jesus nascendo dentro deles. 
Se vocês fizerem renascer a criança escondida no seus pais e nas pessoas adultas para que surja nelas o amor, a ternura, o carinho, o cuidado e a amizade no lugar de muitos presentes. Se vocês ao olharem para o presépio descobrirem Jesus pobremente vestido, quase nuzinho e lembrarem de tantas crianças igualmente pobres e mal vestidas e sofrerem no fundo do coração por esta situação desumana e se decidirem já agora, quando grandes, mudar estas coisas para que nunca mais haja crianças chorando de fome e de frio.
Se vocês repararem nos três reis magos com os presentes para o Menino Jesus e pensarem que até os reis, os grandes deste mundo e os sábios reconheceram a grandeza escondida desse pequeno Menino que choraminga em cima das palhinhas.
Se vocês, ao verem no presépio todos aqueles animais, como as ovelhas, o boi e a vaquinha pensarem que o universo inteiro é também iluminado pela Menino Jesus e que todos, galáxias, estrelas, sois, a Terra e outros seres da natureza e nós mesmos formamos a grande Casa de Deus, Se vocês olharem para o alto e virem a estrela com sua cauda e recordarem que sempre há uma Estrela como a de Belém sobre vocês, iluminando-os e mostrando-lhes os melhores caminhos.
Se vocês aguçarem bem os ouvidos e escutarem a partir dos sentidos interiores, uma música celestial como aquela dos anjos nos campos de Belém que anunciavam paz na terra...
Então saibam que sou eu, o Menino Jesus, que está chegando de novo e renovando o Natal. Estarei sempre perto de vocês, caminhando com vocês, chorando com vocês e brincando com vocês até aquele dia em que chegaremos todos, humanidade e universo, à Casa do Pai e Mãe de infinita bondade para sermos juntos eternamente felizes como uma grande família reunida. 
Belém, 25 de dezembro do ano 1. 
Assinado: Menino Jesus

Leonardo Boff

sábado, 20 de dezembro de 2014

"Não Procure... Ache"!!!

Mais uma vez, os planos!
O relógio da esperança, rodados mais 365 dias, pede que lhe seja dado nova corda. E aí recomeçam as tabelas dos desejos politicamente corretos, todos girando em torno às necessidades ditas básicas: trabalho, saúde, educação, família e entretenimento, palavra horrível para dizer diversão.
Temos o Natal, para corrigir o ano que passou, e ganharmos o que não realizamos, e logo em seguida o Ano Novo, para prometer o ano que virá.
É uma semana dedicada ao reequilíbrio total, tempo de férias coletivas das ansiedades, pois tudo fica certo, embora um tanto quanto chato, quando corrigimos o passado e comprometemos o futuro. Duro, com essa estratégia, é aguentar as outras 51 semanas. Vai ver que por isso 51 virou nome de cachaça.
Ao contrário dessa perspectiva de limpar o passado, se Papai Noel te trouxe bons presentes é porque você foi bonzinho,  e de arrolhar o amanhã em promessas desconfiadas, temos a possibilidade de melhor suportar as surpresas, os encontros do dia a dia. Surpresa não se planifica, é óbvio, mas da atitude frente a ela que possibilita ou impede que algo novo se dê, dessa podemos falar.
O psicanalista Jacques Lacan dizia para você mais olhar os pés de suas pessoas queridas, que aquilo que lhe é dito por elas. Os pés são mais efetivos que os ditos. E por que é assim é que tal qual os GPS vivemos corrigindo nossas rotas. Saio para o trabalho, encontro um amigo, corrigindo rota. Vou tomar um cafezinho com ele, corrigindo rota.   Chego atrasado, mudo a reunião, corrigindo rota. Fiquei livre para fazer o que não tinha tempo, corrigindo rota. E assim por diante, já deu para entender.
Estar aberto ao inesperado não significa de jeito nenhum se transformar em pau de enxurrada, aquele que vai se enganchando em cada acidente da correnteza, igual a quem não consegue se despedir e quando já está vindo para pouso arremete seu aviãozinho em nova conversa, não. Estar aberto ao inesperado diz de uma posição subjetiva de poder reconhecer, no sentido de legitimar, que coisas muito importantes na vida acontecem apesar de nós e dos nossos planos, e nos interpretam... Interpretam, pois quando topamos com elas e a elas dizemos sim, aí, ao achar é que se revela o que estávamos procurando.
Duas posturas, portanto, frente ao novo ano: servir-se dele para realizar suas decisões de hoje, ou se valer dele para se achar em seus desejos, mesmo que só de vez em quando.
A escolha é sua, os votos são meus: Feliz Ano Novo!

Jorge Forbes

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

"Entre Amigos"!!!

Para que serve um amigo?
Para rachar a gasolina, emprestar a prancha, recomendar um disco, dar carona pra festa, passar cola, caminhar no shopping, segurar a barra.
Todas as alternativas estão corretas, porém isso não basta para guardar um amigo do lado esquerdo do peito.
Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu último livro, "A Identidade", que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos.
Verdade verdadeira. Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo construído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão. Veremos.
Um amigo não racha apenas a gasolina... Racha lembranças, crises de choro, experiências... Racha a culpa, racha segredos.
Um amigo não empresta apenas a prancha... Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta.
Um amigo não recomenda apenas um disco... Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país.
Um amigo não dá carona apenas pra festa... Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu.
Um amigo não passa apenas cola... Passa contigo um aperto, passa junto o reveillon.
Um amigo não caminha apenas no shopping... Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado.
Um amigo não segura a barra, apenas... Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador.
Duas dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um... Amém.

Martha Medeiros

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

"Persiga Um Sonho"!!!


Persiga um sonho, mas não deixe ele viver sozinho.
Descubra-se todos os dias, deixe-se levar pelas vontades, mas não enlouqueça por elas.
Procure, sempre procure o fim de uma história, seja ela qual for.
Dê um sorriso para quem esqueceu como se faz isso.
Acelere seus pensamentos, mas não permita que eles te consumam.
Olhe para o lado, alguém precisa de você.
Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca.
Mergulhe de cabeça nos seus desejos e satisfaça-os.
Procure os seus caminhos, mas não magoe ninguém nessa procura.
Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!
Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se achá-lo, segure-o!

Silvana Duboc


quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

"Reencontros"!!!

Existem duas maneiras básicas de reencontros: o reencontro do mesmo e o do diferente. Reencontro do mesmo é querer sempre encontrar as mesmas coisas, no mesmo lugar, no mesmo jeito. É querer que o tempo não passe, que as ideias não mudem, que os desejos se apaguem. É querer ter um mundo de garantia no qual a aspiração do futuro é ser o passado, é ver o mundo pelo espelho retrovisor.
Reencontro do diferente é buscar na repetição o novo, o não visto, o não vivido. É o impacto que vem das situações não necessariamente novas, posto que reencontro, mas que não se esgotam em sua capacidade de surpreender.
São assim, por exemplo, as obras clássicas. Vemos muitas vezes um quadro de Van Gogh e sempre nos surpreendemos. Ouvimos várias vezes uma sinfonia de Beethoven e nos transcendemos. E também pode ser quando encontramos sempre aquela pessoa amada, que nos é sempre enigma, para quem buscamos palavras para expressar nosso amor e nos falta.
O reencontro do mesmo é triste, pouco criativo; é o reencontro do inseguro, da covardia. Ele gerou frases conhecidas, até simpáticas, tais como: “Em time que está ganhando não se mexe”. O reencontro do diferente, ou da diferença, é ousado, inventivo. É o reencontro com algo que sempre escapa, é um reencontro que pede novas descrições, onde tudo parecia evidente.
A canção composta por Isolda, eternizada por Roberto Carlos - “Outra Vez” - soube tocar no fundo da sensibilidade brasileira. É um dos bons exemplos, no nosso cancioneiro, de um reencontro do novo. Nela, “Você é a saudade que eu gosto de ter” é o verso que ninguém esquece. Nota-se o jogo do presente com o passado. “Você é” está no presente, enquanto “saudade” remete ao passado.
Por que emociona? Porque o desejo é nostálgico, costumeiramente temos a impressão de que “éramos felizes e não sabíamos”, daí valorizarmos o que nos provoca saudade.
Encontrar alguém que nos acalente com saudade parece paradoxal, mas não é não. Agradecemos quem possa nos fazer isso. Melhor, amamos quem nos permite esse tipo de reencontro. Reencontro que alude ao passado, mas inventa o futuro. Exatamente porque a nostalgia é vazia, é uma paixão triste, vem a resposta: “Resolvi te querer por querer”. O que está em jogo é um dizer “sim, eu quero” intransitivo, sem passado e sem futuro. Mesmo que um seja fonte e o outro seja alvo. É uma confiança na flexibilidade inventiva do presente, o que transforma “O mais complicado, no mais simples para mim”.
“Você foi o melhor dos meus erros” é uma declaração de que o que queremos reencontrar não é a verdade lúcida, mas a “mentira sincera” – Lacan concordaria dizendo que no final da análise se alcança a “verdade mentirosa”, vejam só.
“E é por essas e outras que minha saudade faz lembrar de tudo outra vez”. Precisa ainda explicar, ou já está sensivelmente claro? Se precisar, a compositora conclui em receita: “Só assim sinto você bem perto de mim outra vez”. Outra vez e outra vez e mais ainda outra vez, em reencontros que são as brincadeiras mais sérias que a alguém possa ocorrer.

Jorge Forbes

terça-feira, 25 de novembro de 2014

"Mudar É Difícil"!!!

Mudar é difícil porque requer enorme energia positiva para que uma pessoa consiga avançar na direção de seus sonhos. Isso em função dela encontrar um fortíssimo “vento” contrário, constituído por inúmeros fatores que tendem a contribuir para a inércia.
O primeiro deles é o medo de qualquer novidade, uma vez que num terreno desconhecido sempre estamos sujeitos a sofrimento.
O segundo fator, nada desprezível, é a culpa, uma vez que as mudanças que interferem na forma como a pessoa interage sempre poderá suprimir algum benefício – indevido – usufruído pelo que irá reclamar e se lamentar.
O terceiro é a impaciência e o imediatismo: é essencial entender que o caminho das mudanças é longo, rico em obstáculos e atalhos que não levam a parte alguma (e que, por isso mesmo devem ser evitados); é preciso boa tolerância a contrariedades e dócil aceitação dos revezes que inevitavelmente permearão a trajetória na direção das mudanças que, no fim, serão bem sucedidas e compensadoras.
Um ingrediente que não pode ser negligenciado e que interfere muito negativamente no processo de mudança são os “ganhos secundários”, os benefícios imediatos que derivam de atos aparentemente nocivos.
É o caso das compulsões, hábitos dolorosos ou nefastos mas que atenuam o nervosismo e a ansiedade; são exemplos o roer das unhas em situações de aflição, o ato de comer compulsivamente quando surge a ansiedade, tristeza ou sensação de desamparo. Comer compulsivamente é grave, pois o alívio imediato do sofrimento gera maior ganho de peso, o que reforça o sofrimento e pede mais alimento: os círculos viciosos são terríveis e têm que ser evitados a qualquer custo.
No caso dos vícios, compulsões com grande gratificação imediata e malefícios previstos para o médio ou longo prazo – e que pavimentam sólidos roteiros no sistema nervoso central, roteiros esses que pedem repetição regular – a situação é ainda mais dramática e difícil de ser revertida.
Porém, tudo é sempre possível desde que seja essa a determinação firme da pessoa.
Há ganhos secundários na generosidade, condição na qual a pessoa se envaidece por ser forte e se achar com algum poder sobre os que dependem dela.
Há ganho óbvio no egoísmo, onde o indivíduo pode se considerar muito esperto por levar vantagem e supor que está manipulando os mais generosos através da intimidação ou ao provocar culpa. Essas e outras condutas difíceis de serem alteradas desagradam intimamente os que persistem nelas; porém, os ganhos imediatos são sólidos e, em muitos casos, reforçados pelos comportamentos e cobranças daqueles com quem convivem.
É necessária muita vontade para conseguir abrir mão de algum benefício imediato em favor de outros maiores, mas que só serão alcançados em um futuro nem sempre muito próximo. Isso corresponde ao que Freud chamava de renúncia ao princípio do prazer (imediatista) em favor do princípio da realidade (benefício maior a ser alcançado lá adiante).
Viver de acordo com o princípio da realidade é privilégio das pessoas mais maduras, pacientes e tolerantes. Não convém subestimar aquelas situações em que o benefício a ser alcançado está muito distante e os prazeres imediatos associados a determinados comportamentos são enormes.
O melhor exemplo é o do consumo das bebidas alcoólicas de modo regular e exagerado. O vício que vai se estabelecendo é insidioso e muitas vezes os que gostam das sensações próprias da embriaguez desconsideram essa possibilidade – ou a colocam muito longe deles.
Os benefícios imediatos bem conhecidos: sensação de alegria e bem-estar, euforia e, para muitos, aumento do desejo sexual; extroversão e aparente facilidade na socialização, o que é tido como fundamental, por exemplo, para um adolescente tímido e que não se sente com coragem de abordar uma moça que o encantou; outros ainda gostam do efeito do álcool porque se sentem com mais coragem para lutar e reivindicar seus direitos. E os malefícios? Talvez alguma doença degenerativa cerebral ou hepática dentro de décadas.
É difícil renunciar a tantas vantagens em nome de uma maior chance de longevidade... Isso especialmente para os mais moços que, como regra, se sentem imortais.

Flávio Gikovate

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

"Reverência Ao Destino"!!!

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.
Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.
Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso.
E com confiança no que diz.
Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer ou ter coragem pra fazer.
Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende.
E é assim que perdemos pessoas especiais.
Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração.
Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.
Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.
Fácil é dizer "oi" ou "como vai?"
Difícil é dizer "adeus", principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...
Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida.
Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.
Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só.
Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar, e aprender a dar valor somente a quem te ama.
Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.
Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las.
Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.
Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta ou querer entender a resposta.
Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.
Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma, sinceramente, por inteiro.
Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.
Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém, saber que se é realmente amado.
Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.
Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 22 de novembro de 2014

"Não Nascemos Prontos"!!!


 A satisfação conclui, encerra, termina... A satisfação não deixa margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento... Não nascemos prontos...
O sempre surpreendente Guimarães Rosa dizia: "O animal satisfeito dorme".
Por trás dessa aparente obviedade está um dos mais profundos alertas contra o risco de cairmos na monotonia existencial, na redundância afetiva e na indigência intelectual. O que o escritor tão bem percebeu é que a condição humana perde substância e energia vital toda vez que se sente plenamente confortável com a maneira como as coisas já estão, rendendo-se à sedução do repouso e imobilizando-se na acomodação.
A advertência é preciosa: não esquecer que a satisfação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento. A satisfação acalma, limita, amortece.
Por isso, quando alguém diz "Fiquei muito satisfeito com você" ou "Estou muito satisfeita com seu trabalho", é assustador. O que se quer dizer com isso?
Que nada mais de mim se deseja? Que o ponto atual é meu limite e, portanto, minha possibilidade? Que de mim nada mais além se pode esperar? Que está bom como está? Assim seria apavorante; passaria a idéia de que desse jeito já basta.
Ora, o agradável é alguém dizer "seu trabalho (ou carinho, ou comida, ou aula, ou texto, ou música etc) é bom, fiquei muito insatisfeito e, portanto, quero mais, quero continuar, quero conhecer outras coisas".
Um bom filme não é exatamente aquele que, quando termina, nos deixa insatisfeitos, parados, olhando, quietos, para a tela, enquanto passam os letreiros, desejando que não cesse? Um bom livro não é aquele que, quando encerramos a leitura, permanece um pouco apoiado no colo e nos deixa absortos e distantes, pensando que não poderia terminar? Uma boa festa, um bom jogo, um bom passeio, uma boa cerimônia não é aquela que queremos que se prolongue?
Com a vida de cada um e de cada uma também tem de ser assim...
Afinal de contas, não nascemos prontos e acabados. Ainda bem, pois estar satisfeito consigo mesmo é considerar-se terminado e constrangido ao possível da condição do momento.
Quando crianças (só as crianças?), muitas vezes, diante da tensão provocada por algum desafio que exigia esforço (estudar, treinar, emagrecer etc), ficávamos preocupados e irritados, sonhando e pensando: Por que a gente já não nasce pronto, sabendo todas as coisas? Bela e ingênua perspectiva.
É fundamental não nascermos sabendo nem prontos... O ser que nasce sabendo não terá novidades, só reiterações. Somos seres de insatisfação e precisamos ter nisso alguma dose de ambição; todavia, ambição é diferente de ganância, dado que o ambicioso quer mais e melhor, enquanto que o ganancioso quer só para si próprio.
Nascer sabendo é uma limitação porque obriga a apenas repetir e, nunca, a criar, inovar, refazer, modificar. Quanto mais se nasce pronto, mais se é refém do que já se sabe e, portanto, do passado; aprender sempre é o que mais impede que nos tornemos prisioneiros de situações que, por serem inéditas, não saberíamos enfrentar.
Diante dessa realidade, é absurdo acreditar na idéia de que uma pessoa, quanto mais vive, mais velha fica... Para que alguém quanto mais vivesse, mais velho ficasse, teria de ter nascido pronto e ir se gastando...
Isso não ocorre com gente, mas com fogão, sapato, geladeira. Gente não nasce pronta e vai se gastando... Gente nasce não-pronta e vai se fazendo.
Eu, a cada ano, sou a minha mais nova edição (revista e, às vezes, um pouco ampliada)... O mais velho de mim (se é o tempo a medida) está no meu passado, não no presente.
Demora um pouco para entender tudo isso, como falou o mesmo Guimarães...
"Não convém fazer escândalo de começo... Só aos poucos é que o escuro é claro"...

Mário Sérgio Cortella

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

"Somos Parecidos com Computadores"!!!




Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei. Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia. Eu me explico.
Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma.
Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakovski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se. Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakovski suicidou-se. Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.
Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as ideias comportam-se bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem-unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado; nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme!) ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou. Pensar é coisa muito perigosa...
Não, saúde mental elas não tinham. Eram lúcidas demais para isso. Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata. Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental. Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvi falar de político que tivesse estresse ou depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.
Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos.
Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente "equipamento duro", e a outra denomina-se software, "equipamento macio". O hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. O software é constituído por entidades "espirituais" - símbolos que formam os programas e são gravados nos disquetes.
Nós também temos um hardware e um software. O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória.
Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo "espirituais", sendo que o programa mais importante é a linguagem.
Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software. Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que chamar psiquiatras e neurologista, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam. Não se conserta um programa com chave de fenda. Porque o software é feito de símbolos, somente símbolos podem entrar dentro dele. Assim, para lidar com o software há que fazer uso de símbolos. Por isso, quem trata das perturbações do software humano nunca se vale de recursos físicos para tal. Suas ferramentas são palavras, e eles podem ser poetas, humoristas, palhaços, escritores, gurus, amigos e até mesmo psicanalistas.
Acontece, entretanto, que esse computador que é o corpo humano tem uma peculiaridade que o diferencia dos outros: o seu hardware, o corpo, é sensível às coisas que o seu software produz. Pois não é isso que acontece conosco? Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos do Drummond e o corpo fica excitado.
Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e os acessórios, o hardware, tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e de se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta e se arrebenta de emoção! Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio: a música que saía do seu software era tão bonita que o seu hardware não suportou.
Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, saúde mental até o fim dos seus dias.
Opte por um soft modesto. Evite as coisas belas e comoventes. A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música. Brahms e Mahler são especialmente contraindicados. Já o rock pode ser tomado à vontade.
Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago? Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais.
Seguindo esta receita você terá uma vida tranquila, embora banal. Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é.
E, em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram.

Rubem Alves

terça-feira, 18 de novembro de 2014

"Vende-Se Grande Amor... Peça Já O Seu"!!!

Alguns procurariam nos supermercados, como item de necessidade básica.
Outros procurariam em perfumarias, como item para ocasiões especiais.
Há ainda os que buscariam em lojas de roupas, como item para melhorar a aparência. Enquanto outros arriscariam as farmácias, tentando encontrar, enfim, o remédio para suas dores ou a cura para suas doenças.
Parece piada, mas infelizmente é verdade que muitas pessoas ainda acreditam que é possível encontrar um "grande amor" prontinho para ser consumido, e se iludem com essa possibilidade, desperdiçando a chance incrível de encontrar suas próprias ferramentas.
Não se empenham em inverter o olhar... Insistem em continuar olhando para fora, onde não há respostas. Pelo menos não as certas... Não as delas.
E para completar o quadro de fracasso e frustração, insistem também em se lamentar da falta de sorte ou de um mundo que não se alinha aos seus valores mais nobres, elas querem dizer.
Que pena! Perdem a incrível chance de arrancar, de uma vez por todas, essa máscara de vítima ou de quem não se importa. Desperdiçam a fantástica oportunidade de abrir suas portas e janelas, abrir sua mente e seu coração, e simplesmente deixar a luz entrar. Acender-se. Enfim, enxergar-se!
E feito repetições de regras, comportamentos e desejos que não são seus, elas continuam procurando amores prontos. Chegam a apostar que vão encontrar algum sob medida. Feito especialmente para elas. Como se ao menos soubessem quais são as suas próprias medidas.
Não sabem! Não se sabem sob os ângulos mais importantes...
Porque se ver dá trabalho... Pede ajustes... Requer um olhar acolhedor e justo... É preciso ter amor... Por si, pelo outro e pela vida.
Sim, dá mesmo trabalho. Não é fácil. Mas é simples, como sempre digo.
Quanto mais simplificamos, mais fácil se torna.
O problema é que a maioria prefere o complicado. O difícil mesmo.
Alguns até se encantam pelo impossível. Sabe qual o nome para esta dinâmica? Sabotagem! E contra si mesmo! Ama quem está longe! Ama quem está comprometido! Ama quem não quer saber de amor! Ama a história que não vai rolar! E assim o ciclo se repete!
Mas o pior é que tais pessoas continuam procurando fora, como se existissem mesmo prateleiras expondo amores à venda. E o que eu mais queria era ser capaz de fazê-las entender que o caminho é o de dentro. E que um grande amor não é resultado de uma busca insana e desconecta. É consequência de um encontro leve e absolutamente essencial, mas que acontece primeiro consigo mesmo e com sua noção de merecimento!


Rosana Braga

sábado, 15 de novembro de 2014

"O Milagre da Empatia"!!!


O mais difícil dos sentimentos é o sentimento do outro...
O outro é ele e és tu.
Ele é realmente o outro ou é a parte tua que não queres ser, saber, ver ou aceitar? Tu és o outro para os outros, logo és igual a ele.
Todos somos “outros”. E, no entanto o outro invade, ameaça, mastiga de boca aberta, irrita, eriça, machuca.
Até teu filho é o outro. E tu, pobre pretensioso, pensas que ele é teu...
O sentimento do outro quantas vezes te faz parar, meditar, deixar de fazer o melhor que tens ou podes, só porque o outro é o mistério que te ameaça.
Por que o outro te ameaça? Porque és tu. Quanto maior teu sentimento do outro, maior será teu o sentimento do melhor e do pior que tens.
O sentimento do outro não é sentir por ele... É saber o que ele sente...
É avaliar o como e o quanto ele sente.
O sentimento do outro não é o masoquismo de fazer teu, um sofrimento que só a ele pertence. É dimensionares a medida certa do sofrimento dele e só poderes ajudar porque não fazes teu um sofrimento que é alheio mas o entendes e sentes, na exata medida de sua extensão, sem as marcas e as limitações da dor enquanto dói. Não é ficar como o outro... É ficar com o outro.
O sentimento do outro é quase um milagre. Cuidado com ele, vai te obrigar a ceder, a entender. Atrapalhará para sempre teu desejo, tua gula e vontade.
Ele freará tua vitória, calará teu brilho e tua boca, impedirá tua vaidade. Pode, até, te pregar a suprema peça de te fazer entender os detestáveis. Cuidado com ele! Quanto maior, mais anulador!
Quanto mais anulador... Mais repleto de grandeza.
O sentimento do outro, talvez te faça tímido, herói, cais, antena.
Ser antena dilacera, sabias? O sentimento do outro te exigirá nervos, músculos, e uma paciência de anacoreta. Quanto mais o outro o perceba em ti, mais ele te invadirá, cobrará, exigirá, até quando, exaurido, ainda consigas juntar os cacos do teu cansaço para, ainda assim, prosseguir.
O sentimento do outro é tua glória e tua tragédia! Tanto mais o terás quanto encontres em ti os escaninhos escurecidos do que és e, ao mesmo tempo as luzes do que, ainda puro, brilha em ti.
O sentimento do outro é o conteúdo oculto do amor ao Próximo.

Arthur da Távola

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

"O Conceito De Pós-Modernidade"!!!


O conceito de pós-modernidade tornou-se nos últimos anos, um dos mais discutidos nas questões relativas à arte, à literatura ou à teoria social, mas a noção de pós-modernidade reúne rede de conceitos e modelos de pensamento em “pós”, dentre os quais podemos elencar alguns: sociedade pós-industrial, pós-estruturalismo, pós-fordismo, pós-comunismo, pós-marxismo, pós-hierárquico, pós-liberalismo, pós-imperialismo, pós-urbano, pós-capitalismo. A pós-modernidade coloca-se também em relação com o feminismo, a ecologia, o ambiente, a religião, a planificação, o espaço, o marketing, a administração.
O “pós” é incontornável, o fim do século XX se conjuga em “pós”. Mal estar ou renovação das ciências, das artes, da filosofia estão em uso.
As características da pós-modernidade podem ser resumidas em alguns pontos: propensão a se deixar dominar pela imaginação das mídias eletrônicas; colonização do seu universo pelos mercados (econômico, político, cultural e social); celebração do consumo como expressão pessoal; pluralidade cultural; polarização social devido aos distanciamentos acrescidos pelos rendimentos; falências das meta narrativas emancipadoras como aquelas propostas pela Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade.
A pós-modernidade recobre todos esses fenômenos, conduzindo, em um único e mesmo movimento, à um a lógica cultural que valoriza o relativismo e a (in)diferença, a um conjunto de processos intelectuais flutuantes e indeterminados, á uma configuração de traços sociais que significaria a erupção de um movimento de descontinuidade da condição moderna: mudanças dos sistemas produtivos e crise do trabalho, eclipse da historicidade, crise do individualismo e onipresença da cultura narcisista de massa.
Em outras palavras: a pós-modernidade tem predomínio do instantâneo, da perda de fronteiras, gerando a idéia de que o mundo está cada vez menor através do avanço da tecnologia. Estamos diante de um mundo virtual, imagem, som e texto em uma velocidade instantânea.
No campo urbano, a cidade é vendida aos pedaços porque nela há caos, (des)ordem: padrões de diferentes graus de complexidade: o efêmero, o fragmentário, o descontínuo, o caótico predomina.
Mudam-se valores: é o novo, o fugidio, o efêmero, o fulgaz, o individualismo, que valem. A aceleração transforma o consumo numa rapidez nunca vivenciada: tudo é descartável (desde copos a maridos/ou esposas). A publicidade manipula desejos, promove a sedução, cria novas imagens e signos, eventos como espetáculos, valorizando o que a mídia dá ao transitório da vida.
As telecomunicações possibilitam imagens vistas em todas as partes do planeta, facilitando a mercadificação de coisas e gostos. A informatização, o computador, o caixa-rápido 24 horas, a telemática são compulsivamente disseminadas. As lutas mudam: agora não é contra o patrão, mas contra a falta deles. Os pobres só dizem presente nos acontecimentos de massa, lugar de deslocamento das energias de revolta.
Testemunhas da pós-modernidade são o DVD, o CD, o MP3, a clonagem, o implante de órgão, próteses e órgãos artificiais engendram uma geração de seres em estados artificiais que colocam em xeque a originalidade ou naturalidade do humano.
As invenções tecnológicas decodificadas como o computador, o relógio digital, o telefone celular, as secretarias eletrônicas, o vídeo, os satélites, as Nets redes (sistema htt// e www), os códigos de barras, “os cartões magnéticos multicoloridos que alimentam sonhos da era digital”.
Modelos geram replicantes. As pichações viram grafites. O corpo enxuto é exaltado pela TV e por revistas. Juízos de autoridade ou defesa, na ausência de visão pessoal, são expressos em conceitos opacos como: vanguarda atual, avançado, progressista, elitista, popular, conservador, moderno, pós-moderno. Como o corpo enxuto, a garganta, os pulmões, a glote, os dentes, a língua, as cavidades bucal e nasal devem produzir um único significado num único sentido: ser STAR.
Os shoppings, os condomínios e novos prédios são cápsulas autônomas de vivência...
Tudo é performance: os motoristas transformam-se em pilotos; a voz dos locutores das rádios FM é igual em todas as estações... Vale o extra forte, o super doce, o minúsculo, o gigantesco... Vale o novo; um novo produto mais eficaz, um novo alimento mais saudável; uma nova TV mais interativa... Vale o extra, o super, o super extra, o macro.
Fantasmas e desvios nos rodeiam: no corpo, a doença (AIDS); na mente, a loucura; na natureza, a catástrofe; na economia, a queda das bolsas; na paixão, a morte; no orgasmo, o desprazer; no computador, o vírus.
As informações e a preocupação com a saúde da natureza são colocadas em xeque ou em cheque; no Brasil já existe uma nova indústria parecida com a da seca. É a “Indústria do meio ambiente”, recursos destinados à proteção das florestas, dos rios e dos animais são desviados pelo o Poder público, pelas ONG’s e organismos privados.
As senhas, para entendimento da pós-modernidade, são: a saturação, a sedução, o simulacro, o soft, o light, a globalização, a automação, a fragmentação, o chip. Os modelos são artistas e cantores famosos, que qualquer dia destes farão um grande show para ajudar crianças famintas da África; que gravarão um disco, com numerosos colegas, para ajudar os “americanos a salvarem” refugiados de algum país latino-americano.
“Ao lado da montagem, colagem, bricolagem, simulação e virtualidade”, muitas vezes combinando tudo isso, a mídia parece priorizar o espetáculo vídeo-clipe. Tanto é assim que guerras (como a do Iraque) e genocídios parecem festivais pop, departamentos do shopping center global, cenas da Disneylândia mundial. Os mais graves e dramáticos acontecimentos da vida de indivíduos e coletividades aparecem, em geral, como um vídeo-clipe eletrônico informático, desterritorializado entretenimento em todo o mundo”.
Estamos vivendo um momento de fenômenos insólitos. Tudo se passa como se o futuro tivesse se tornado um lugar vazio. O procedimento pós-moderno é antes uma paixão do “tecer das alteridades” enquanto estamos diante da TV, bebendo um refrigerante Coca-cola, mastigando um Mcdonald´s feliz ou experimentando um biscoito Nestlé, sem (des)entendimentos da Nova Ordem Mundial, nova sociedade ou sociedade de consumo.

Georges Benko

terça-feira, 11 de novembro de 2014

"Eu Sou O Que Ninguém Vê"!!!


Sou os brinquedos que brinquei, as gírias que usei, os nervosos e felicidades que já passei.
Sou minha praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, sou os amores que vivi, as conversas sérias que tive com meu pai...
Eu sou o que me faz lembrar!!!
Sou a saudade que sinto, sou um sonho desfeito ao acaso, sou a infância que vivi, sou a dor de não ter dado certo, sou o sorriso por tudo que conquistei, sou a emoção de um trecho de livro, da cena de filme que me arrancou lágrimas:..
Eu sou o que me faz chorar!!!
Sou a raiva de não ter alcançado, sou a impotência diante das injustiças que não posso mudar, sou o desprezo pelo que os outros mentem, sou o desapontamento com o governo, o ódio que isso tudo dá. Sou o que eu remo, sou o que eu não desisto, sou o que eu luto, sou a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta ao ver um animal abandonado...
Eu sou o que me corrói!!!
Eu sou o que eu luto, o que consigo gerar através de minhas verdades, sou os direitos que tenho e os deveres a que me obrigo, sou a estrada por onde corro, sou o que ensino e, sobretudo, o que aprendo...
Eu sou o que eu pleiteio!!!
Eu não sou da forma como me visto, não sou da forma como me comporto, não sou o que eu como, muito menos o que eu bebo. Não sou o que aparento ser...
EU SOU O QUE NINGUÉM VÊ!!!

Clarice Lispector

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

"Sobre A Velhice"!!!


O jovem almeja viver muito, mas dificilmente se imagina idoso.
A juventude parece-lhe eterna e raramente verá no velho diante de si o espelho que reflete a sua imagem futura, isto se tiver a sorte, ou azar, de viver muito, pois a ninguém é garantido atingir a velhice. Os jovens, em geral, sentem-se imortais, a morte parecem-lhes mais apropriada aos que chegaram à terceira idade, recusam-se a pensar na morte e nisto são acompanhados por muitos idosos iludidos com a seqüência do passar dos dias. Alguns até desdenham dos mais velhos, talvez, inconscientemente, seja uma reação de auto-proteção e de recusa do futuro que se anuncia.
“Um jovem”, escreve Ernst Bloch, “pode imaginar-se como homem, mas dificilmente como idoso: a manhã aponta para o meio dia, não para a noite. Em si é estranho que o envelhecimento, na medida em que se refere à perda da condição anterior com ou sem razão sentida como mais bela, só comece a ser percebido por volta dos 50anos. Não haveria perda para o jovem que deixa para trás a criança? E não haveria uma perda para o homem quando deixa a florescência da juventude, quando o impulso se atrofia?”
O cinquentenário parece anunciar o movimento de descida. Agora, a vida desce ladeira abaixo. Há o risco de deprimir-se diante da certeza de que a vida esvaece-se a cada dia e a morte parece mais próxima. O otimista reage fazendo de conta que a vida não passou, iludindo-se com o apego à juventude. O dito de que permanecemos jovens em espírito é um engodo. Não há como negar que o tempo passou, as marcas na face, as doenças que irrompem, as dores no corpo, a perda da vitalidade, etc., demonstram-no.
“O tempo passa com uma infinita velocidade, e só percebemos bem se olharmos para trás; o passado escapa aos que se absorvem no presente, tal o modo pelo qual essa fuga ocorre sutilmente”, afirma Sêneca.
Não é preciso enganar-se, fazer de conta de que o tempo não passou, nem cair em depressão diante das dificuldades que o avançar da idade impõe. Basta encarar com naturalidade. Começamos a morrer tão logo nascemos, é a dialética da vida.
Os jovens não estão isentos do sofrimento e as dores do tempo não são exclusividade dos idosos. “Mas incomoda”, dizes, “ter a morte em vida.”
Em primeiro lugar, ela está sempre presente, quer para o velho ou para o jovem, e não se trata aqui de consenso surgido de uma votação. Depois, ninguém é tão velho que não possa reivindicar para si mais um dia. Um dia é um degrau na vida”.
O mais importante na vida não é a longevidade, mas o viver bem. Chegar à velhice não significa necessariamente ter vivido mais, pois aquele que a morte abraçou em tenra idade viveu bem se intensamente. “Que importa, afinal de contas, sair antes ou mais tarde de onde se deve mesmo sair?
O essencial não é viver por muito tempo, mas viver plenamente”. Pois, de que adianta ao homem, “oitenta anos passados sem ter feito nada? Ele não morreu tarde, mas ficou morrendo por longo tempo. Viveu oitenta anos, mas viveu mesmo? Importa saber a partir de quando se conta sua morte?”
A medida da vida está em olhar para si mesmo e contabilizar não o tempo, mas as ações e as relações humanas construídas. Se olharmos para trás e sentirmos que valeu a pena viver, então a vida foi plena. Por que, então, temer a velhice? A morte não escolhe idade, por que temê-la?
“É um homem muito feliz e com plena posse de si mesmo o que espera o amanhã sem inquietude. Todo o que diz “já vivi” recebe cotidianamente mais um dia como lucro”.  O amanhã não nos pertence! Portanto, encaremos com alegria ter vivido o que nos foi permitido. Ainda que o tempo imprima marcas indeléveis no corpo e alma que chega aos 50 anos de existência, nos alegremos por cada dia acrescentado ao viver. Afinal, a velhice tem as suas vantagens!

"Carrego dentro de mim o que me mata. 
Falta-me tempo para as frivolidades, tenho nas mãos uma imensa tarefa. 
Como a realizarei? Vejo que a morte se apressa e a vida foge.
 Diante dessas duas pressões, ensina-me algum expediente! 
Faze com que eu não fuja da morte e que a vida não me escape. 
Exorta-me com relação ao que é difícil.
Dá-me longevidade contra aquilo que é inevitável. 
Vem alargar meu tempo, que é tão curto. 
Ensina-me que a boa vida não se mede pela duração mas como a empregamos. 
Acontece muitas vezes que uma longa vida não é realmente vivida”. (Sêneca) 

Antonio Ozaí da Silva

domingo, 9 de novembro de 2014

"Vaidade... Agressividade... Inveja"!!!.

Estamos tratando de um dos aspectos mais intrigantes da nossa condição: nascemos diferentes uns dos outros e vivemos numa sociedade onde, inexoravelmente, algumas propriedades serão mais valorizadas do que outras.
Os critérios de beleza poderão variar de uma sociedade para a outra, de uma época para a outra. Porém, sempre algumas pessoas serão tidas como mais belas; e elas sempre serão poucas, visto que o que é menos frequente chama mais a atenção.
A inteligência sempre será valorizada e, quando especial, criará facilidades para a vida prática de seus portadores. O mesmo vale para o vigor físico, para dotes artísticos especiais, para a facilidade no trato com as pessoas etc.
Mesmo em um contexto ideal, no qual a competição não seja estimulada e seja até mesmo desencorajada, penso que a questão da comparação das pessoas entre si tenderia a ocorrer, gerando desconforto e humilhação em algumas das que se sentissem menos favorecidas.
Acredito que num ambiente não competitivo muitas pessoas não se sentiriam tão prejudicadas por não serem portadoras de prendas excepcionais (o oposto do que acontece em sociedades como a nossa de hoje, onde a ambição, mesmo desmedida, é tida como virtude).
Talvez fosse possível observar mais atentamente até mesmo o lado negativo daquilo que é muito valorizado: mulheres muito bonitas se acostumam a chamar a atenção por esta via e, com frequência, se tornam displicentes no cultivo de outras prendas; a vida é longa, a beleza é efêmera e talvez tenham uma maturidade e velhice mais sofrida do que aquelas que nunca apostaram muito em sua aparência física. Este é apenas um exemplo, mas poderia ser estendido para outras propriedades muito valorizadas.
Ainda que em menor intensidade e envolvendo um menor número de pessoas, é provável que algumas pessoas se sentissem prejudicadas pelo fato de não terem sido as “eleitas” para serem portadoras de tantas prendas. Ao se compararem, sentirão a dor típica da ofensa à vaidade que é a humilhação. Sentir-se-ão agredidas pela simples presença daquelas virtudes no interlocutor. Reagirão com a agressividade típica deste tipo de mecanismo que chamamos de inveja: farão algum comentário depreciativo, desprezando justamente aquilo que gostariam de ter; farão com humor para disfarçar a sensação de inferioridade que está embutida em toda ação invejosa. A AGRESSIVIDADE SUTIL DIRIGIDA CONTRA PESSOAS, QUE NADA FIZERAM A NÃO SER EXISTIREM E SEREM COMO SÃO, É A MARCA REGISTRADA DA INVEJA.
Penso que é quase impossível que a inveja não exista. As pessoas teriam que ter a docilidade de aceitar sua condição sem nenhum tipo de frustração. Teriam que viver numa sociedade que não privilegiasse virtudes excepcionais e sim as de caráter democrático, acessíveis a todo o mundo. Teriam que, ao se comparar com as outras pessoas, não construir uma hierarquia: teriam que se reconhecer como diferentes e não como superiores ou inferiores. Este seria o mundo ideal, onde as pessoas seriam amigas e solidárias: estamos mais próximos do fim dos tempos do que dele.
O que não tem o menor sentido é atuarmos, consciente e deliberadamente, no sentido inverso, na direção de estimularmos a vaidade, a competição e, portanto, a rivalidade e a hostilidade entre as pessoas.
Não sei se todas as pessoas são plenamente conscientes, de modo que vale o alerta: não se trata de um caminho obrigatório, pois não somos assim escravos da nossa biologia. Podemos amenizar ou estimular uma dada predisposição que faça parte de nossa natureza. Estamos no sentido inverso, transformando as pessoas em inimigos, rivais. As pessoas estão cada vez mais solitárias e desamparadas. Quanto mais fracas emocionalmente estiverem, mais serão escravas das “felicidades” aristocráticas, por meio das quais se sentem momentaneamente importantes.
O círculo vicioso que estamos vivendo é terrível e já temos claros sinais de para onde é que estamos nos dirigindo.

Flavio Gikovate

terça-feira, 4 de novembro de 2014

"Carências"!!!

Quem não gosta de ser amado? Se Receber atenção especial? Quem não gosta de beijo na boca e abraços apertados? Quem prefere a solidão a uma boa companhia?
Nesse mundo maluco e agitado, as pessoas estão se encontrando hoje, se amando amanhã e entrando em crise depois de amanhã.
Uma coisa frenética e louca, que tem feito muita gente que se julgava equilibrada perder os parafusos e fazer muita besteira. Paixão, loucura e obsessão, três dos mais perigosos ingredientes que estão crescendo nos relacionamentos de hoje em dia por causa da velocidade das informações e medo de ficar sozinho.
As pessoas não estão conseguindo conviver sozinhas com seus defeitos, vícios e qualidades e partem desesperadamente para encontrar alguém, a tal da alma gêmea, e se entregam muitas vezes aos primeiros pares de olhos que piscam para o seu lado.
Vale tudo nessa guerra, chat, carta, agência, festas. É uma guerra para não ficar sozinho. Medo, medo de se encarar no espelho e perceber as próprias deficiências, medo de encarar a vida e suas lutas. 
Então a pessoa consegue alguém (ou acha que está nascendo um grande amor), fecha os olhos para a realidade e começa a viver um sonho, trancado em si mesmo, transfere toda a sua carência para o(a) parceiro(a), transfere a responsabilidade de ser feliz para uma pessoa que na verdade ela mal conhece.
Então, um belo dia, vem o espanto, vem a realidade, o caso melado, o “falso amor” acaba, e você que apostou todas as suas fichas nesse romance fica sem chão, sem eira nem beira, e 
o pior: muitas vezes fica sem vontade de viver.
Pobre povo desse século da pressa! Precisamos urgentemente voltar o costume “antigo” de “ter tempo”, de dar um tempo para o tempo nos mostrar quem são as pessoas.

Luis Fernando Veríssimo

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

"Mulheres Que Amam De Menos"!!!

Eu quero dar meu depoimento. Creio ter um problema. Se mulheres que amam demais são aquelas que sufocam seus parceiros, que não confiam neles, que investigam cada passo que eles dão e que não conseguem pensar em mais nada a não ser em fantasiosas traições, então eu preciso admitir: sou uma mulher que ama de menos.
Eu nunca abri a caixa de mensagens do celular do meu marido.
Eu nunca abri um papel que estivesse em sua carteira.
Eu nunca fico irritada se uma colega de trabalho telefona pra ele.
Eu não escuto a conversa dele na extensão.
Eu não controlo o tanque de gasolina do carro dele para saber se ele andou muito ou pouco.
Eu não me importo quando ele acha outra mulher bonita, desde que ela seja realmente bonita. Se não for, é porque ele tem mau gosto
Eu não me sinto insegura se ele não me faz declarações de amor a toda hora.
Eu não azucrino a vida dele.
Segundo o que tenho visto por aí, meu diagnóstico é lamentável: eu o amo pouco. Será?
Obsessão e descontrole são doenças sérias e merecem respeito e tratamento, mas batizar isso de "amar demais" é uma romantização e um desserviço às mulheres e aos homens. Fica implícito que amar tem medida, que amar tem limite, quando na verdade amar nunca é demais. O que existe são mulheres e homens que têm baixa auto-estima, que tem níveis exagerados de insegurança e que não sabem a diferença entre amor e possessão. E tem aqueles que são apenas ciumentos e desconfiados, tornando-se chatos demais.
Mas se todo mundo concorda que uma patologia pode ser batizada de "amor demais", então eu vou fundar As Mulheres que Amam De Menos, porque, pelo visto, quem é calma, quem não invade a privacidade do outro e quem confia na pessoa que escolheu pra viver também está doente.

Martha Medeiros

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

"O Efeito Do Progresso Induzido"!!!

 
A vida é uma coisa complicada. Esse negócio de conviver em sociedade é útil, é legal, faz parte de quem nós somos e inclusive é um pilar importante para a sobrevivência da nossa espécie. Mas ao mesmo tempo em que saber conviver é importante, você há de concordar comigo que às vezes é um grande pé no saco.
Sabe aquelas situações em que, para a gente, é óbvio que alguém tem que fazer alguma coisa, seja lá o que for, só que a outra pessoa não tem a mesma clareza sobre esse assunto?
Infelizmente, não podemos mudar ninguém. Mas podemos… Manipular as pessoas.
Como essa palavra é feia e carregada de uma senso pejorativo, vou me referir a isso de forma mais científica. Vamos chamar o ato de “progresso induzido”. Um belo eufemismo.
O efeito do progresso induzido
O efeito do progresso induzido é algo que você vai ver muito em sua vida. Em essência, é a manipulação psicológica, mas você raramente vai ter algum ressentimento quanto a isso, porque é assim que o efeito funciona. Se você já jogou um videogame, especialmente um que permite que você pegue fichas ao longo do caminho (saudades Super Mario), você já experimentou esse efeito. Se você tem um cartão que você recebe um café grátis ou sanduíche ou qualquer tipo de brinde depois de carimbá-lo 10 vezes, você já experimentou esse efeito. Em outras palavras, tudo o que estimula você a atingir pequenas metas em busca de um objetivo maior é o que chamamos de efeito do progresso induzido.
Sabendo disso, claro que você pode transformá-lo em uma grande vantagem para você.
Por exemplo, se você tem uma tarefa que precisa ser feita, e depende de uma pessoa que não quer fazê-la, tudo o que você precisa é de uma visão objetiva, fria e calculista dos fatos para colocar o efeito do progresso induzido em prática. É assim que você começa:
Neurocientistas conseguem manipular os sonhos de ratos. Humanos serão os próximos?
1. O primeiro passo é fazer uma lista de tudo o que tem que ser feito
Ok, aqui está a parte mais difícil. Porque você tem que estar disposto a fazer algum esforço. Se você for esperto, o trabalho pode ser mínimo ou até mesmo inexistente. Seja qual for a tarefa, dê o primeiro passo. Se a tarefa envolve comprar uma lista de itens difíceis de serem encontrados, compre o primeiro item online. Você pode até pagar caro demais por ele, tudo bem. Se você precisa completar um grande projeto, comece. O “start” pode ser algo muito pequeno como fazer uma lista das medidas necessárias e executar apenas a primeira delas.
Esta técnica se utiliza de um estímulo. As pessoas se sentem como se tivessem conseguido algo de graça, e isso as motiva.
Para comprovar e entender melhor esse efeito, um estudo foi feito em um lava-rápido. A cada lavagem de carro, a pessoa ganhava dois cartões de recompensas. O primeiro vinha com oito espaços para selos. Cada vez que o cliente lavava seu carro, um desses espaços era carimbado. Ao coletar oito selos, a nona lavagem era gratuita. Já o segundo de cartão tinha 10 lugares para selos, só que dois desses espaços já vinham carimbados. E o apelo desse segundo cartão era: ganhe “mais” oito selos e 11ª lavagem seria de graça. Os cartões que haviam sido pré-carimbados foram resgatados quase duas vezes mais que os cartões que não foram previamente carimbados. Ou seja, com o estímulo certo, as pessoas ficam motivadas a conquistar determinados resultados.
Além do estímulo, há agora uma outra questão envolvida: terminar o que começou. Uma tarefa ignorada é apenas uma tarefa ignorada. Uma tarefa em que o primeiro passo é feito é uma tarefa incompleta, e as pessoas não gostam de conviver com uma tarefa incompleta. Isso tem seu próprio nome: o efeito Zeigarnik, em homenagem a Bluma Zeigarnik, um psicólogo que estudou o fato de que garçons tem uma melhor recordação de pedidos que não foram pagos e os alunos se lembram mais de trabalhos incompletos. Uma tarefa incompleta gruda na mente. Ao iniciar uma tarefa, você toma a finalização dela como seu objetivo e não esquece que tem algo a fazer.
2. O que importa é progresso, não o valor
Se você quiser ser uma pessoa realmente manipuladora, experimente jogar na roda algumas tarefas “livres”. Isso não significa que você tem que fazê-las você mesmo (embora você possa). Essas tarefas livres podem levar apenas alguns segundos de tempo. Encontrar um número de telefone. Colocar uma mensagem em cima da geladeira. Organizar os papéis sobre a mesa.
O importante é fazer as pessoas pensarem que estão fazendo um grande progresso – o que não necessariamente precisa ser um progresso importante. Isto é ilustrado por outra técnica, a do “cartão de recompensas”.
Por exemplo, um grupo de voluntários foi convidado a preencher um questionário sobre um restaurante na área, que supostamente tinha iniciado um programa de recompensas através de cartões, nos moldes dos exemplos que demos anteriormente. Esse funcionaria assim: os clientes comprariam um determinado número de refeições a um determinado preço, e receberiam uma refeição no mesmo valor de graça. Alguns cartões de recompensas tinham espaços para 12 selos de refeição, com dois selos de “grátis” já colados neles. E outros teriam espaços para 15 selos, com cinco selos de “grátis” já colados.
Não é surpresa alguma que os clientes responderam que seriam mais favoráveis ao cartão com cinco selos “grátis”, embora o número de refeições que deveriam comprar para ganhar uma gratuita fosse exatamente o mesmo.
O que, no entanto, é surpreendente é que os clientes não se importaram com o quanto essas cinco refeições gratuitas valiam. Faça as contas comigo: se para valer um selo, uma refeição tivesse que ser de no mínimo 4 reais, a refeição “gratuita” valeria no mínimo R$ 20 para os que a ganhassem ao completar as 5 casas do cartão. Mas por que as pessoas não se importam com essa conta?
Simples. Porque, afinal, o valor real não é importante. A única coisa que as pessoas realmente consideram importante é o quanto elas parecem progredir em direção a sua meta. Dê às pessoas símbolos sem sentido, ou a satisfação de correr atrás de objetivos sem sentido, e elas vão continuar trabalhando enlouquecidamente por isso.
3. Coloque obstáculos apenas no final
As pessoas não só respondem às metas. Às vezes, respondem aos problemas que as impedem de chegar ao seu objetivo também. Mas há um porém: esses obstáculos tem que começar a aparecer quando a meta já está à vista. Porque assim eles podem ser uma motivação a mais para chegar a um determinado objetivo, e até valorizar mais a conquista.
E se o obstáculo naturalmente aparecer nos primeiros passos? Lembre-se: não há primeiros passos! Continue expandindo a tarefa, e divida ela em etapas menores e mais fáceis. Isso costuma dar certo.
4. Mostre alguma razão para isso tudo
Em um estudo sobre as sutilezas do efeito do progresso induzido, os clientes de uma loja receberam cartões fidelidade com alguns carimbos e uma lista de condições. Se eles comprassem uma quantidade “x” de vinho, eles ganhariam uma garrafa. Os pesquisadores tentaram todos os tipos de variações, mas encontraram que o que realmente fez a diferença foi dizer aos clientes por que eles estavam sendo favorecidos com esses cartões.
Os clientes que receberam a informação de que estavam recebendo os cartões como parte de um programa eram muito mais propensos a olhar favoravelmente para ele do que os que simplesmente receberam a oferta dos benefícios. Mostrar uma razão plausível para um determinado investimento motiva as pessoas, não importa quão insignificante seja esse motivo.

 Gabriela Mateos

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

"A Tristeza Permitida"!!!


Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair pra compras e reuniões, se eu disser que foi assim, o que você me diz?
Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?
Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.
Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém.
Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.
A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.
Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente, as razões têm essa mania de serem discretas.
Eu não sei o que meu corpo abriga, nestas noites quentes de verão e não me importa que mil raios partam, qualquer sentido vago da razão eu ando tão down... Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara.
 “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for.
Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.
Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor, até que venha a próxima, normais que somos.
Martha Medeiros