Somos Anjos e Mestres!
Todos nós sabemos alguma coisa que alguém, em algum lugar, precisa aprender e, por vezes, nós mesmos recordarmos.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

" Um Povo Sofrido...Os Índios Guaranis"!



O Povo Guarani é um dos maiores povos indígenas do Brasil.
Atualmente somam cerca de trinta mil pessoas, distribuídos em vários Estados nas Regiões Oeste, Leste e Sul do Brasil. Os países vizinhos ao Brasil, como Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia possuem também, essa tão espiritualizada etnia indígena.
Nos séculos XVII e XVIII somavam para mais de dois milhões de indígenas, só no Brasil.
Os indígenas Guarani de todos esses países possuem cultura milenar, baseada em sua ancestralidade histórica, política e organizativa: "ñanderekó, nanderekó, arandu" é sua visão de mundo, sua cosmologia, seu jeito de ser.
Dotados de extrema espiritualidade, usufruem dela como sua autêntica religião que séculos e séculos, o sistema político por um lado, e jesuítico por outro, tentou deflagrar, apesar das boas intenções. Povo "combativo e guerreiro", nas suas convicções culturais, detém conhecimentos ancestrais da mais elevada categoria, baseados na língua indígena, também chamada Guarani, preservada até os dias de hoje, após sofrer milhares de pressões, políticas, econômicas e ético-culturais.
O Guarani tem como essência de vida, isto é, sua marca étnica, a grande prática do "caminhar" que significa em língua guarani "guata". O caminhar significa também evoluir e fortalecer-se espiritualmente. Essa prática do caminhar, faz parte do movimento migratório dos guarani desde o tempo da colonização. Esse caminhar constante é justificado pelo yvý opa, a busca da terra sem males, que aqui definimos como uma terra que os permita viver com dignidade, sem interferências paternalistas, enfim, um paraíso mítico de sua ascendência. Esse caminhar cobre uma grande extensão, que vai do norte da Argentina (no caso do sub-grupo Mbyá) e da Serra de Mbaracaju (no caso do sub-grupo Xiriá ou Nhandeva) até o litoral do Estado do Espírito Santo, passando por todos os Estados citados no início do texto.
Sepé Tiaraju, uma das maiores lideranças do século XVIII, foi assassinado por um português pela frente e um espanhol pelas costas, simultaneamente, na batalha de 7 de fevereiro de 1756, em Bagé, no Rio grande do Sul, Brasil, depois de CAMINHAR com seus guerreiros, dias, meses e anos a pé, fazendo negociações entre os países que cobriam as Bacias dos Rios Paraguai, Paraná e Uruguai, objetivando os Direitos Indígenas daquele povo que estava sendo massacrado, pela escravidão, pela imposição de uma política européia que já vivia desde o século XVI, a decadência moral, política e econômica, principalmente Portugal e Espanha que impuseram o Tratado de Tordesilhas (1494) e o Tratado de Madri (1750),Tratados esses que dividia e entregava o Brasil entre eles e que só trouxe, durante um século e meio, o desrespeito à cultura Guarani.
Tanto no passado, quanto no presente vemos ainda as mesmas denúncias que afetam a cosmologia dos povos indígenas tais como: "Quando o branco chegou na nossa terra, índio pensava que branco era do lado de Deus, índio pensava que Deus tinha vindo visitar".
De fato, branco tem tudo e índio não tem nada: branco tem arame farpado, nós não temos; branco tem livro, nós não temos; branco tem machado de ferro, nós não temos; branco tem carro, nós não temos; branco tem avião, nós não temos (...). Mas branco veio e roubou as nossas terras e índio não podia mais caçar. Falou que as terras boas eram dele, falou que os peixes dos rios e dos lagos eram deles. Depois trouxe as doenças. Depois se aproveitou de nossas mulheres. E o índio se revoltou. Então o branco matou os nossos avós, matou-os, massacrou-os muito e o índio fugia tão rápido como a coisa mais rápida. Então o índio entendeu que o Deus do branco era ruim ". UM CHEFE DA NAÇÃO MACUXI, Jornal do Brasil, 10/07/1980".
De dois milhões que eram os guarani, hoje somam 30 mil pessoas. Realmente foram exterminados, mas ficaram filhos e filhas de líderes assassinados na atualidade como Marçal Tupã-y, o pequeno DEUS (líder indígena Guarani assassinado em 25 de novembro de 1983, por defender o seu povo), que pensava como o Chefe Maxuxi e que, como outros, criaram consciência para as próximas gerações: " Já não podemos nós, os guarani, calar-nos agora, diante dos estrangeiros"(Marçal Tupã-Y /1982);"Eu não fico quieto não, eu reclamo... Eu falo... Eu denuncio...; " A bomba atômica é uma ameaça constante. Quem a programou? Quem deseja realmente a paz mundial? Porque os covardes ameaçam com seus aparatos bélicos": E nós éramos...E nós somos ainda uma nação espoliada, explorada;esfolada"( Marçal Tupã-Y/discurso em reunião do movimento indígena brasileiro nas Ruínas de S.Miguel, no Estado do Rio Grande do Sul, aldeamento indígena criado pelos jesuítas para apoiar o povo de Sepé Tiaraju, destruído no período da colonização. De uns anos para cá a consciência indígena guarani tem-se sobre-elevado e sua auto-estima começa a despontar como a ponta de um iceberg, assim como para mais de 400 mil indígenas que ressurgiram _ COMO QUE UM SONHO_ dos cantões das cidades, justamente como índios desaldeados, da maneira como revelou o CENSO do IBGE, em pesquisa feita em 2000. Surgirão muito mais, neste século, os índios descendentes, com caras e histórias de índios e índias e ignorados pela ciência burguesa, pois esse contingente indígena nunca mais terá vergonha e medo de assumir sua identidade indígena por sofrer a discriminação social, racial e a intolerância cultural e religiosa sobre sua cosmovisão de vida.
Menos de 50% das terras Guarani estão demarcadas e asseguradas juridicamente e muitas delas estão ameaçadas pela sobreposição de Unidades de Conservação Ambiental em seu território, projetos governamentais planejados sem passar pela consulta aos guarani.
Os Guarani desde o passado, quando o Projeto Jesuítico chamado de "REPÚBLICA DOS GUARANI", foi implantado como um projeto assistencial, de defesa e de desenvolvimento aos moldes da Igreja católica contra os colonizadores chamados de "Entradas e Bandeiras" , _ até hoje, plantam a erva-mate, que constitui-se numa planta que produz um chá bem quente denominado chimarrão ou um chá bem frio, denominado tererê, e que ficou como marca cultural de todo o povo não indígena do Sul do Brasil, nos dias atuais.
Utilizam a agricultura de subsistência (mel do mato, palmito, banana, mandioca, milho e feijão) e a conservam de forma tradicional, assim como sua língua, religião, educação e organização social. Utilizam com muita ênfase a prática da medicina tradicional e a valorização dos cânticos e dos pajés. Produzem e vendem artesanatos, cerâmicas, tecelagens, arcos e flechas para a caça e pesca.
Os guarani do passado junto com o padre alemão Sepp, no século XVII, no citado Projeto República Guarani, descobriram o ferro e passaram a produzir sinos para Igrejas e aldeamentos, com mão-de-obra indígena, assim como centenas de atividades faziam parte do cotidiano daqueles guarani, como aprendizagem de línguas estrangeiras, matemática, astrologia, artes, etc. Depois do massacre imposto pelo Marquês de Pombal, grande parte da população guarani foi exterminada e conduzida à escravidão. Quando iam pra lavoura, cabisbaixos realizavam suas tarefas com muita dor, muitos se suicidavam. E a melancolia surgia como uma centelha de esperança para um novo momento. A luta dos guaranis foi muito sacrificada ardorosa, mas hoje esse povo canta a alegria de sua identidade e dignidade reconstruídas. As crianças e adolescentes guarani já têm um patrimônio cultural registrado mecanicamente, através de CDs, para a posteridade.
As orações dos guarani consideradas demoníacas para os jesuítas, eram na realidade o que são hoje, a verdadeira expressão das crenças e espiritualidades indígenas. As orações são dirigidas ao sol, ao criador, aos espíritos, aos ancestrais. A alma é universal e Deus é supremo, um grande ancestral. Nas danças, embebidos pela erva-mate ou uma bebida tradicional oriunda do Kurupá que causa uma excitação, divertem-se e entram em contato com os espíritos. O pajé, costumeiramente, toma bebida para prever o futuro ou curar. Os espíritos dos mortos permanecem por algum tempo em suas moradas. Esses espíritos têm grande poder sobre os vivos. Esse povo desconhece castigos, punições ou coações às crianças ou ao seu semelhante.
 A Organização Social, Política e Econômica dos guarani do passado, segundo o Dr. Bevilaqua no Congresso de História Nacional (1915), os guarani antes da colonização estrangeira possuíam organização política definida. Se havia defeitos, vícios, deve-se ao fato de o domínio guarani ser extenso demais e também deve-se relevar as diferenças climáticas, os meios distintos, as diferentes necessidades de cada grupo.
Aos Guarani não se cabia o termo "clãs" e sim nações, pátrias, como é o conceito atual do Movimento Indígena Internacional, termo esse designado ""Povos Indígenas", conquistado nas lutas em várias instâncias para que tal termo fosse efetivamente substituído na Declaração Universal dos Direitos Indígenas, Declaração essa que foi trabalhada durante vinte anos, pelos PRÓPRIOS POVOS INDÍGENAS, ao lado dos governos, no Grupo de Trabalho sobre Povos Indígenas, na Sub-Comissão contra a Discriminação e Proteção de Minorias, na Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU), de 1981 até 2001, culminando na vitória da constituição de um Fórum Permanente para Povos Indígenas, ocupados por indígenas dentro do Sistema da ONU.
O passado Guarani significava total liberdade de ação e pensamentos. Eram independentes e autônomos. A liberdade individual de cada um era por demais respeitada e se não estavam satisfeitos com a sua organização tinham a total liberdade de emigrar. Reinava o interesse comum e a igualdade absoluta dos direitos. Desconheciam a disciplina convencional. Existia o diálogo e respeito mútuo e possuíam forma de falar direta, sem rodeios. Não havia poder central, devido a independência individual. Caciques, líderes, anciãos não eram posições que denotavam poder. Esses elementos formavam sim, um CONSELHO , onde discutiam as questões sociais e políticas e deliberavam juntos em uníssono a resolução de um determinado assunto. Davam títulos ás leis de organização: "TEKOMONÃNGAVA", literalmente significa " o que faz a vida ".
Lamentavelmente os livros do passado e do presente não registram as formas de vida do povo Guarani. Temos muitos conceitos determinados pelos antropólogos, estudiosos da questão, dos padres, mas conceitos dos próprios guarani tem sido difícil encontrar, designados pelos próprios guarani, com exceção de Bertoni, um dos primeiros antropólogos indígenas e guarani que escreveu sobre a mulher indígena, verdadeiramente colocando-a num patamar muito digno, onde o matriarcado predominava. Esse estudioso, autêntico sociólogo guarani, pesquisou durante vinte anos a cultura de seu povo e criticou veementemente a maioria dos estudos feitos pelos cientistas que se dedicaram ao estudo desse povo. O índio guarani e sociólogo Bertoni acreditou que os antropólogos distanciavam-se demais da realidade guarani, por não poder, na prática, internalizar a identidade indígena. Só um índio Guarani ou uma outra pessoa indígena detém esse conhecimento tradicional até ancestral por ter uma visão cosmológica real oriunda de sua própria história, tradições e cultura.

Eliana Potiguara
Nota:-Ainda hoje, o povo índigena contínua sendo massacrado pela ganância de fazendeiros e pelas leis arcaicas do nosso país, como aconteceu com o adolescente Guarani-Kaiowá, brutalmente assassinado por um fazendeiro no dia 13/02/2003..(MRLopes)

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

"A Escola e a Crise de Legitimidade"...

A escola vive uma profunda crise de legitimidade. O mundo mudou, ficou complexo, novas demandas surgiram. Os estudantes na escola também são outros, diversos na origem e nos interesses. Os professores carecem de condições para um trabalho digno. A sociedade alterou suas expectativas referentes à escola e, assim, criou-se um complicado jogo de múltiplas contradições e, para essa complexidade, não cabem respostas e políticas simplistas.
Afinal, para que a escola existe? Para formar adequadamente as gerações futuras ou para preparar os estudantes para avaliações externas como Enem, Saresp, Prova Brasil, Pisa etc.?
A que se destinariam os conhecimentos? Deveriam eles compor um mosaico para criar curiosidades, desejos e perguntas nos estudantes ou só serviriam para produzir informações para uso em testes de avaliação?
Nós, pesquisadoras de educação, ficamos mais uma vez perplexas ao nos depararmos com a nova proposta curricular do ensino público do Estado de São Paulo. Para bem aprender o Português e a Matemática, sugere-se excluir os conhecimentos de História, Geografia e Ciências do 1º ao 3º ano e manter 10% dessas disciplinas no 4º e 5º anos do currículo básico. Por essa nova proposta, ficou assim decretado: doravante, por meio desse novo currículo básico, as crianças de escolas públicas estaduais só receberão, até o 3º ano, aulas de Português e Matemática! Partindo do pressuposto evidentemente errôneo de que um conhecimento atrapalha o outro, as aulas de História, Geografia e Ciências serão eliminadas do currículo desses estudantes.
Como consequência dessa política, nas escolas de tempo integral, o aluno terá aulas em um período e, no outro, oficinas temáticas das diferentes áreas do conhecimento, algumas obrigatórias e outras eletivas escolhidas de acordo com o projeto pedagógico da escola.
À primeira vista, esse currículo está “rico” e diversificado; no entanto, pelo olhar sério e comprometido, ele estará fatalmente fragmentado. Primeiramente porque verificamos que as oficinas obrigatórias também não objetivam, do mesmo modo, um trabalho com História, Ciências e Geografia; pelo contrário, voltam-se novamente para a Matemática e para o Português.
Além disso, como trabalhar a oficina optativa, por exemplo, de Saúde e Qualidade de Vida sem os fundamentos das ciências? Intriga a essa altura saber: por que oficinas e não estudo contínuo? O que se ganha com isso? Vários equívocos nos saltam aos olhos! O primeiro deles é considerar que o conhecimento de algumas áreas é acessório, ocupa espaço e ainda impede o bom aprendizado do Português e da Matemática!
As concepções de escrita e leitura, por exemplo, acabariam por ser responsabilidade exclusiva de uma única disciplina do currículo. Não seria essa uma visão muito simplista de aprendizagem, pois parece supor que o estudante não desenvolve processos de escrita e leitura também em outras disciplinas?
Outro equívoco é a suposição de que para estudantes de escola pública o mínimo basta! Para que sofisticar com lições da história, da natureza e do lugar do nosso povo? Conhecimento científico seria enfim útil para quê?
A aprendizagem não ocorre por partes. O aprendizado é todo ele integrado e sistêmico. Um bom ensino de História expande o pensamento e as referências e o estudante, assim, tem condições para perceber relações de fatos, tempo e espaço, tão necessárias à aprendizagem matemática.
A Geografia leva nossos pensamentos para viajar em outros espaços; possibilita compreender a diversidade das sociedades, conhecer e apreciar a natureza, aprender a observar e a estabelecer conexões entre lugares e culturas. Mergulhados, assim, nesses novos referenciais, os estudantes podem compreender melhor a própria realidade e encarar suas circunstâncias com pleno envolvimento. Isso certamente repercutirá na sua vida e no seu aprendizado, com consequência, por exemplo, em estudos simbólicos e gráficos.
Como deixar de aproveitar a natural curiosidade das crianças, seu espírito exploratório, suas perguntas intrigantes acerca dos fenômenos da natureza e, dessa forma, tecer as bases de um fundamental espírito científico, que por certo ajudará a compreender a Matemática e a recriar o Português?
Será que a estratégia de oficinas, ao invés do estudo contínuo, dará conta de captar tal complexidade e também de tornar possível um processo de ensino-aprendizagem que seja capaz de construir os conhecimentos de Geografia, História e Ciências que ficaram tão diminuídos no currículo básico?
De nosso ponto de vista entendemos que a questão não é separar para empobrecer. O que vale é democratizar as possibilidades de ser e de estar melhor no mundo. E para que isso aconteça precisamos da integração total de saberes e práticas.
As crianças de classe social mais favorecida possuem, antes já de chegar à escola, uma gama infindável de vivências. As crianças de classe popular, em sua maioria, chegam já à escola destituídas desse capital cultural. Possuem outras ricas e profícuas experiências que, nem sempre, são valorizadas e transformadas na escola. No entanto, o importante é trabalhar pedagogicamente com essas experiências de modo a transformá-las em vivências socialmente válidas. Pensamos que o fundamental é ampliar as oportunidades ao invés de restringi-las; para tanto, a experiência com as diferentes áreas do conhecimento é essencial.
Preocupa-nos o risco de a função da escola, para as crianças dos anos iniciais, limitar-se, a partir da reforma proposta, ao ensino das habilidades mínimas de leitura e escrita e de cálculo, retirando-se as cores e os sabores das descobertas que se fazem no contínuo do seu desenvolvimento. Preocupa-nos que esse projeto ganhe força e se concretize em outros níveis de ensino e em outros Estados. Preocupa-nos que as oficinas contribuam mais para o esvaziamento dos conteúdos do que para a construção de conhecimentos. O que será da nossa escola pública, então? Um reducionismo dos conhecimentos, um estreitamento das concepções de ensino-aprendizagem? O objetivo final será a quantificação em detrimento da qualidade? E, se atingir índices é o foco dos processos de ensino-aprendizagem, o que isso realmente significa? Qual é a verdadeira motivação da política educacional implícita nesse movimento?

 Pesquisas sobre a Formação do Educador

   

"Ao Amor Antigo"...



 O amor antigo vive de si mesmo...
Não de cultivo alheio ou de presença...
 Nada exige nem pede. Nada espera...
Mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas...
Feitas de sofrimento e de beleza...
 Por aquelas mergulha no infinito...
E por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona...
 Aquilo que foi grande e deslumbrante...
 O antigo amor, porém, nunca fenece...
E a cada dia surge mais amante.

Mais ardente... Mas pobre de esperança.
 Mais triste?... Não!  Ele venceu a dor...
E resplandece no seu canto obscuro...
Tanto mais velho quanto mais amor.

 Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Porque algumas pessoas só dão valor quando perdem?

Não sei o que é pior: já ter conhecido alguém que só dá valor ao que tem depois de perder, ou ser alguém assim. Não estou julgando. Não se trata de valores morais ou avaliações do tipo "certo" ou "errado". O que quero dizer é que é mesmo lamentável só conseguir se dar conta de algo ou alguém quando já é tarde demais!
Sei que, aos mais céticos, parece conversinha inútil. Mas tenho visto, ouvido e até acompanhado algumas histórias de dar pena. Triste mesmo! De gente que parece estar contra si mesmo. De homens e mulheres botando a perder o que têm de melhor e de mais importante em suas vidas, simplesmente por não conseguirem enxergar o belo, o bom, o que, aos seus olhos fechados, parece pouco...
Muito já se repetiu que temos dois caminhos para aprender qualquer lição nesta vida: pelo amor ou pela dor. Em geral, infelizmente, escolhemos o segundo caminho. Claro, inconscientemente. Mas isso não nos torna vítimas ou inocentes. Nem culpados ou algozes, no entanto.
Trata-se, sobretudo, de uma constatação que deve, sim, servir para nos tornar mais atentos. É fato que já passou da hora de muitos de nós tomarmos uma boa sacudidela. Um susto suficientemente grande para nos fazer acordar e manter os olhos bem abertos!
Por todos os lados, vemos pessoas sendo amadas sem sequer notar, quiçá valorizar ou retribuir! Pessoas recebendo oportunidades incríveis, vivendo com familiares e amigos maravilhosos, estando em lugares imperdíveis... e nada! Só reclamando, só se lamentando, só desperdiçando. Pecando a vida!
Acreditam que a fonte nunca seca. Apostam que podem ignorar, disfarçar e adiar o amor à seu bel-prazer que nada vai mudar. E pior: acham que se mudar, nada vão perder, nada vão sentir, nada vão sofrer.
Mas quando chega o tal dia em que o outro se cansa e vai embora, ahhh, quando chega esse dia, é inacreditável o que já vi acontecer! Alguns, primeiro dão de ombros, como se nem se importassem. Mas com mais ou menos dias... para quase todos, o desespero bate! A lucidez chega e a impressão que dá é que, após curto-circuito, suas luzes se acenderam!
Mas agora? Agora acabou. Finito. O outro não quer mais. Cansou de tentar. Cansou, não de sua perfeição, porque isso não existe. Cada qual tem sua parte no enredo vivido. Mas, sim, cansou de se relacionar no escuro do outro!
E assim, diante da falta, do suposto abandono, arregalam os olhos! Reagem como se estivessem surpresos! "Como assim?!? O que houve?!?" E a fim de tentar reverter a situação, tornam-se tudo o que poderiam ter sido, mas nunca se dispuseram a ser! Flores, cartas, galanteios e declarações. Lágrimas, pedido de perdão, reconhecimentos e elogios.
As certezas, até então inexistentes, brotam de um não sei onde, baseadas num não sei o que, recheadas de propostas tão aguardadas, mas que jamais foram feitas. Onde estava esse desejo? Onde estava essa pessoa? Onde estava esse coração?
Preso em sua própria armadilha! Certamente escondido, defendido, entorpecido de falsas verdades, crenças distorcidas e enganos, tristes enganos. Sim, estou certa de que sua dor é mesmo real agora. Talvez tenha mesmo acordado. Mas talvez seja só a dor do vazio, da perda. Talvez seja a frustrante constatação de sua incapacidade de se entrelaçar. Talvez... Quem pode saber o que se passa?
Eu não posso! Quem esperou por atitudes durante tanto tempo também não tem como saber. Sem garantias. Sem certezas. Só quem pode descobrir qual a real disponibilidade, quais são os sentimentos pelos quais está pronto para viver é quem, de fato, acordou!
Portanto, se você é quem se cansou de esperar e foi embora... ou se você é quem, enfim, se deu conta de que estava dormindo, minha sugestão é que se aquiete, pare, respire, medite... Dê tempo ao tempo. Dê tempo ao outro e a si mesmo. Tente ser o mais honesto possível com seu próprio coração. A resposta virá de dentro. Da sua essência e não da sua tormenta.
E, por fim, se você nunca passou por isso, esteja atento ao seu amor para evitar as armadilhas. Porque não me restam dúvidas de que sucumbir a elas dói. Dói demais! E não há analgésico que faça passar.

 Rosana Braga 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

"Palido Ponto Azul"!


Olhem de novo para o ponto azul no universo. Isso é a nossa casa, isso somos nós....
Nele, todos a quem amamos, todos a quem conhecemos, qualquer um dos que escutamos falar, cada ser humano que existiu, viveu a sua vida aqui.
O agregado da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de religiões autênticas, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e colheitador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilização, cada rei e camponês, cada casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada mestre de ética, cada político corrupto, cada superestrela, cada líder supremo, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu aí, num grão de pó suspenso num raio de sol.
A Terra é um cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica.
Pensai nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua glória e triunfo, vieram eles ser amos momentâneos duma fração desse ponto. Pensai nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores dum canto deste pixel aos quase indistinguíveis moradores dalgum outro canto, quão frequentes as suas incompreensões, quão ávidos de se matar uns aos outros, quão veementes os seus ódios.
As nossas exageradas a nossa suposta auto-importância, a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo, são reptadas por este pontinho de luz frouxa.
O nosso planeta é um grão solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de algures para nos salvar de nós próprios.
A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que alberga a vida. Não há mais algum, pelo menos no próximo futuro, onde a nossa espécie puder emigrar. Visitar, pôde. Assentar-se, ainda não. Gostarmos ou não, por enquanto, a Terra é onde temos de ficar.
Tem-se falado da astronomia como uma experiência criadora de firmeza e humildade. Não há, talvez, melhor demonstração das tolas e vãs soberbas humanas do que esta distante imagem do nosso miúdo mundo. Para mim, acentua a nossa responsabilidade para nos portar mais amavelmente uns para com os outros, e para protegermos e acarinharmos o ponto azul pálido, o único lar que tenhamos conhecido.


Carl Sagan

domingo, 24 de fevereiro de 2013

"A Dor da Indiferença"!!!



 A indiferença, como a lâmina, rasga a alma...
 Segue arrasadora na jornada para o coração...
 Faz os mais profundos e fortes estragos...
 Atingi sem dó a fonte máxima da tristeza!

O desprezo que se nota num olhar indiferente...
 Tem o mórbido poder de estremecer o ser humano...
  Faz feridas que às vezes nunca saram...
 Ninguém consegue ficar imune a isso.

Um dardo envenenado é danoso ao corpo humano...
 Da mesma forma que a indiferença o é à alma...
 O primeiro levando a criatura à morte rápida...
 A segunda causando ferimento mortal à alegria.

Ai de quem se torna alvo dos indiferentes...
  Sua existência se transforma no deserto...
  Fica à semelhança de uma rua sem ninguém...
Um enorme porto sem a presença de navios!

Autor desconhecido

sábado, 23 de fevereiro de 2013

"Coisas que a vida ensina depois dos 40"...


 
 Amor não se implora, não se pede não se espera... 
Amor se vive ou não.
 Ciúmes é um sentimento inútil... Não torna ninguém fiel a você.
 Animais são anjos disfarçados, mandados à terra por Deus...
 Para  mostrar ao homem o que é fidelidade.
 Crianças aprendem com aquilo que você faz... Não com o que você diz.
 As pessoas que falam dos outros pra você... Vão falar de você para os outros.
 Perdoar e esquecer nos torna mais jovens.
 Água é um santo remédio.
 Deus inventou o choro para o homem não explodir.
 Ausência de regras é uma regra que depende do bom senso.
 Não existe comida ruim, existe comida mal temperada.
 A criatividade caminha junto com a falta de grana.
 Ser autêntico é a melhor e única forma de agradar.
 Amigos de verdade nunca te abandonam.
 O carinho é a melhor arma contra o ódio.
 As diferenças tornam a vida mais bonita e colorida.
 Há poesia em toda a criação divina...
 Deus é o maior poeta de todos os tempos.
 A música é a sobremesa da vida.
 Acreditar, não faz de ninguém um tolo... 
Tolo é quem mente.
 Filhos são presentes raros.
 De tudo, o que fica é o seu nome e as lembranças a cerca de suas ações.
 Obrigada, desculpa, por favor, são palavras mágicas...
 Chaves que abrem portas para uma vida melhor
 O amor... Ah, o amor...
 O amor quebra barreiras, une facções,  destrói preconceitos,  cura doenças...
 Não há vida decente sem amor!
 E é certo, quem ama, é muito amado. 
E vive a vida mais alegremente...

 Artur da Távola

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

"Os Não Ditos"...


 As palavras às vezes cortam como uma faca e de maneira irrefletida ferimos os outros, mesmo se os amamos, sem que haja retorno.
Conscientes disso é que em muitos dos casos, nos calamos, quando tudo o que pensamos e sentimos nos queima por dentro.
Essas coisas são os não ditos das relações e da vida.
As palavras que não dizemos, mas não enterramos também, estão sempre entre nosso coração e nossa garganta e nos ferem interiormente. São opções que fazemos, seja para não machucar outras pessoas, seja, simplesmente, pela falta de coragem de sermos nós, inteiros e límpidos.
A comunicação é a base de todo relacionamento saudável. Pessoas que se amam, que seja na amizade, no amor ou nas relações familiares, devem estar prontas para serem quem são, para perdoar e receber perdão.
Não nos calaríamos tanto se soubéssemos que o outro nos ouviria com a alma, nos entenderia e continuaria a nos amar, apesar de tudo. Mas as pessoas, por mais maduras que pareçam, nem sempre estão prontas para ouvir as verdades, se essas forem doloridas. Assim são criadas as relações superficiais, onde pensamos tanto e falamos de menos, onde sentimos e sufocamos.
Nos falta um pouco de humildade para aceitar nossa imperfeição, aceitar que o outro possa não gostar de algo em nós e ter o direito de dizê-lo. Nos falta a ousadia de sermos nós, sem essa máscara que nos torna bonitos por fora e doentes por dentro.
A comunicação na boa hora, com as palavras escolhidas e certas, consertaria muitos relacionamentos, sararia muitas almas, tornaria as pessoas mais verdadeiras e mais bonitas.

"Sabemos que as pessoas nos amam quando nos conhecem profundamente, intimamente e continuam nos amando. Quando com elas temos a liberdade e coragem de dizer: isso eu sinto, isso eu sou".




Letícia Thompson

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

"Paradoxo do Nosso Tempo"!





"Nós falamos demais, amamos raramente odiamos freqüentemente. Nós bebemos demais, gastamos sem critérios. Dirigimos rápido demais, ficamos acordados até muito mais tarde, acordamos muito cansados, lemos muito pouco, assistimos TV demais, perdemos tempo demais em relações virtuais, e raramente estamos com Deus”.
Multiplicamos nossos bens, mas reduzimos nossos valores. Aprendemos a sobreviver, mas não a viver; adicionamos anos à nossa vida e não vida aos nossos anos. Fomos e voltamos à Lua, mas temos dificuldade em cruzar a rua e encontrar um novo vizinho. Conquistamos o espaço, mas não o nosso próprio.
Fizemos muitas coisas maiores, mas pouquíssimas melhores. Limpamos o ar, mas poluímos a alma; dominamos o átomo, mas não nosso preconceito, escrevemos mais, mas aprendemos menos; planejamos mais, mas realizamos menos. Aprendemos a nos apressar e não, a esperar. Construímos mais computadores para armazenar mais informação produzir mais cópias do que nunca, mas nos comunicamos cada vez menos.
Estamos na era do 'fast-food' e da digestão lenta; do homem grande de caráter pequeno, lucros acentuados e relações vazias. Essa é a era de dois empregos, Essa é a era das viagens rápidas, fraldas e moral descartáveis, das rapidinhas, dos cérebros ocos e das pílulas 'mágicas'. Um momento de muita coisa na vitrine e muito pouco na dispensa.
Lembre-se de passar tempo com as pessoas que ama, pois elas não estarão aqui para sempre!


Lucimar Simon

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

"As sem-razões do Amor"!!!




Eu te amo porque te amo...
 Não precisas ser amante...
E nem sempre sabes sê-lo.
 Eu te amo porque te amo...
 Amor é estado de graça...
 E com amor não se paga.

Amor é dado de graça...
É semeado no vento...
Na cachoeira...
 No eclipse.
 Amor foge a dicionários...
 E a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo...
 Bastante ou demais a mim.
 Porque amor não se troca...
 Não se conjuga nem se ama.
 Porque amor é amor a nada...
 Feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte...
E da morte vencedor...
 Por mais que o matem (e matam)...
 A cada instante de amor.

 Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

" O Medo de se Expor"...


A maioria dos seres humanos, em algum momento, vive o dilema entre ser autêntico, expor de modo claro e aberto seus sentimentos, ou incorporar uma persona, alguém que age de modo a ser aceito e respeitado pelo restante do mundo.
Esta é uma condição considerada natural, pois fomos treinados desde muito cedo a mascarar a verdade acerca de quem somos de fato, para garantir o amor dos demais.
Mas, ao longo da vida, quando muitos desafios se apresentam, continuar vivendo o falso eu pode se tornar um enorme fardo...
Até que chega um ponto em que o real dentro de nós grita para ser reconhecido.
Esse grito pode tomar a forma de uma crise de pânico, uma forte depressão ou até mesmo um surto de loucura, quando todas as nossas defesas e as couraças, que armamos para ocultar a realidade de nosso ser, atingem uma dimensão insuportável.
Trazer de volta nosso ser autêntico, aquele que foi amorosamente criado pelo divino, é um trabalho árduo, que deve ser empreendido aos poucos, com paciência e dedicação. Muitas vezes a mente nos levará a querer desistir e a acreditar que esta é uma tarefa impossível. Mas, se tivermos a coragem de seguir em frente, apesar do medo, a existência amorosamente nos trará a ajuda e o apoio de que necessitarmos. Ela sempre responde ao chamado daqueles que buscam, acima de tudo, a verdade. O grande segredo é confiar e entregar-se sem resistência a este objetivo.
Esta é a atitude que faz a diferença entre os que alcançaram a paz e a felicidade permanentes e os que ainda se encontram perdidos na escuridão de uma vida inconsciente.
"O Medo de se Expor"...
Quem não fica? Expor-se cria um grande medo. É natural, porque expor-se significa expor todo o lixo que você carrega em sua mente, o lixo que tem sido amontoado por séculos, por muitas vidas. Expor a si mesma significa expor todas as suas fraquezas, limitações, falhas. Expor-se significa, por fim, expor sua vulnerabilidade.
Por trás de todo esse lixo e barulho da mente existe uma dimensão de completo vazio. Sem Deus a pessoa é oca, é um simples vazio e nada. Ela quer esconder essa nudez, esse vazio, essa fealdade. Então, ela cobre isso com belas flores e decora essa cobertura. Ela pelo menos finge que é alguma coisa, que é alguém. E isso não é algo pessoal para você. Isso é universal. Esse é o caso de todo mundo.
Ninguém consegue ser como um livro aberto. O medo toma conta: "O que as pessoas pensarão de mim?" Desde a sua infância lhe foi ensinado usar máscaras, belas máscaras. Não há necessidade de se ter uma bela face, só uma bela máscara é o bastante, e a máscara é barata. É árduo transformar a sua face, mas pintá-la é muito simples.
Agora, de repente, expor a sua face verdadeira lhe dá um arrepio no mais profundo centro do seu ser. Uma tremedeira surge: as pessoas gostarão disso? as pessoas irão aceitá-la, as pessoas continuarão a amá-la e respeitá-la? quem sabe? Porque eles amavam a sua máscara, eles respeitavam o seu caráter, eles glorificavam o seu vestuário. Agora o medo aparece. "Se eu, de repente, ficar nu, eles irão continuar a me amar, a me respeitar, a me valorizar, ou todos eles irão fugir para longe de mim? Eles podem retornar para seus caminhos e eu posso ficar só".
As pessoas, então, seguem representando. Devido ao medo, há o fingimento, devido ao medo, todas as falsidades. Para ser autêntica, a pessoa precisa não ter medo.
Se você conseguir expor-se religiosamente, não na privacidade, não com seu psicanalista, mas simplesmente em todos os seus relacionamentos... Isso é autopsicanálise. Isso é vinte quatro horas de psicanálise, todos os dias.
Isso é psicanálise em todo tipo de situação: com a esposa, com o amigo, com os parentes, com o inimigo, com o estranho, com o chefe, com o seu funcionário. Por vinte e quatro horas você está se relacionando.
Se você continuar se expondo... No começo vai ser realmente muito assustador, mas logo você começará a ganhar força porque uma vez que a verdade é exposta, ela se torna mais forte e a não verdade morre. E com a verdade tornando-se mais forte, você se tornará mais enraizado e centrado. Você começa a se tornar um indivíduo. A personalidade desaparece e o indivíduo aparece. A personalidade é falsa e a individualidade é substancial. A personalidade é simplesmente uma fachada e a individualidade é a sua verdade. A personalidade lhe é imposta de fora, é uma persona, uma máscara. A individualidade é a sua realidade, ela é como Deus o fez. A personalidade é uma sofisticação social, um polimento social. A individualidade é crua, selvagem, forte e com tremendo poder.
Somente no começo, haverá medo. Por isso a necessidade de um Mestre, para que no começo ele possa segurar suas mãos, para que no começo ele possa lhe dar suporte, para que ele possa levar-lhe a dar alguns passos com ele. O Mestre não é um psicanalista. Ele é muito mais. O psicanalista é um profissional e o Mestre não é um profissional. Não é sua profissão ajudar as pessoas, é a sua vocação, é o seu amor, é a sua compaixão. E por causa dessa compaixão ele a conduz apenas o tanto que você precisa dele. No momento em que ele sente que você pode ir por si mesma, ele começa a soltar as suas mãos. Embora você quisesse continuar agarrada, ele não pode permitir isso.
Uma vez que você esteja pronto, corajoso e desafiador; uma vez que você tenha experimentado a liberdade da verdade, a liberdade de expor a sua realidade, você poderá seguir por si mesmo. Você conseguirá ser uma luz para si mesmo.
Mas o medo é natural porque desde o início da infância, lhe foram ensinadas falsidades, e você se tornou tão identificado com o falso que abandoná-lo quase parece cometer suicídio. E o medo surge porque uma grande crise de identidade aparece. O medo é natural. Não o condene e não sinta que ele é algo errado. Ele é apenas parte de toda essa educação social. Nós temos que aceitá-lo e ir além dele. Sem condená-lo, nós temos que ir além dele.
Exponha pouco a pouco, não há qualquer necessidade de você dar saltos que você não possa administrar. Vá passo a passo, gradualmente... Você nunca alcançará uma outra identidade. A sua velha identidade terá ido embora e, pela primeira vez, você começará a sentir-se como uma onda no oceano de Deus. Isso não será uma identidade porque você não estará ali. Você terá desaparecido. Deus terá se apoderado de você.
Se você colocar em risco o falso, a verdade poderá ser sua. E ela vale isso, porque você coloca em risco apenas o falso e ganha a verdade. Você nada arrisca e ganha tudo. O inconsciente é uma criação da civilização. Quanto mais civilizado você for, mais inconsciente você será.
Se você for absolutamente civilizado, você será um robô, você será absolutamente inconsciente. Isso é o que está acontecendo. Se você colocar em risco o falso, a verdade poderá ser sua. E ela vale isso, porque você coloca em risco apenas o falso e ganha a verdade. Você nada arrisca e ganha tudo.
O inconsciente é uma criação da civilização. Quanto mais civilizado você for, mais inconsciente você será. Se você for absolutamente civilizado, você será um robô, você será absolutamente inconsciente. Isso é o que está acontecendo.
Esta calamidade está acontecendo em todo o mundo. Isso tem que parar. E a única maneira de parar isso é ajudando as pessoas a colocar para fora os seus inconscientes nas meditações".


 E. Cavalcante 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

"Como é por dentro das Pessoas"...




É fácil trocar as palavras...
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto...
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos...
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor...
Difícil é conter sua torrente!

Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo...
Com que não há comunicação possível...
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma...
Senão da nossa...
As dos outros são olhares...
São gestos, são palavras...
Com a suposição...
De qualquer semelhança no fundo."

Fernando Pessoa

domingo, 17 de fevereiro de 2013

"A Diferença entre Paixão e Amor"!

Você sabe nomear seus sentimentos?
Reconhece...Quando seu coração está batendo apaixonadamente ou amorosamente? Acredita que existe diferença?
Pois saiba que até existe, mas saber reconhecer o que sente deve servir mais para que você aja de modo coerente do que para classificar, julgar ou quantificar uma relação. Claro que é compreensível querer saber se o que está chacoalhando seus dias e até tirando o seu sono é mesmo amor ou somente uma paixão. Talvez uma "paixonite aguda" que logo vai passar?
É verdade: quando a gente consegue ter essa noção, fica muito mais fácil fazer escolhas e não se arrepender depois.
O fato é que, para descobrir a resposta, em geral é preciso dar tempo ao tempo e observar, manter-se conectado. Porém, para algumas pessoas, parece que obter certezas sobre o que estão sentindo é o que vai garantir o sucesso ou o fracasso do encontro. Ledo engano. Equívoco primário. Certezas não existem, para começo de conversa. E depois, a questão se trata mais de fases possíveis, a começar pela paixão e evoluir para o amor, do que de diferenças propriamente.
Quando não é saudável, a paixão é capaz de transtornar, desviar a rota, fazer perder o rumo de casa. Como semente ruim em terra boa, ou semente boa em terra ruim. Ou ainda, semente ruim em terra não preparada. Pode tornar o apaixonado passível de atos passionais. Impensados, insanos, perigosos. Nestes casos, o melhor é procurar ajuda, tratamento, cura. Porque a paixão pode virar doença.
Mas quando é saudável, paixão é deslumbramento. É projeção sobre o outro do melhor que conseguimos enxergar no mundo e nas pessoas. Paixão, mesmo avassaladora, quando sã é sinônimo de potência - força para fazer nascer o amor. Isto é, paixão é vida. Desarma. Dá coragem para a entrega, para a aposta, para uma das tentativas mais desafiantes as quais somos submetidos durante a vida.
E assim, amadurece. Ganha forma e força. Rompe os obstáculos, cresce e floresce. Torna-se amor. Mas o que atormenta muitas pessoas é a dúvida: e daí? Nunca mais paixão? Nunca mais fogo que arde, consome e faz pulsar? Nunca mais o frio na barriga, o aceleramento cardíaco, o suor que é, ao mesmo tempo, inoportuno e essencial?
Eu diria que nunca mais do mesmo jeito. Mas muitas vezes de jeitos novos. E isso não é demagogia! A grande magia do amor é sua capacidade de se mover, de dançar, de provocar ritmos e convidar ao desconhecido de si mesmo. Amar inclui um sem fim de sensações. Diria até que, ao contrário do que os inocentes ou desavisados supõem, inclui dor, raiva, medo, vontade de ir embora, irritação e saco cheio da rotina. Mas depois de tudo, se for mesmo amor, a incrível e inexplicável capacidade de renascer, refazer-se!
Amar é se ver no outro. É ver o outro em si. É descobrir que o outro nem sempre é príncipe ou princesa. Muitas vezes, torna-se sapo, perereca e até lobos e bruxas. Amar é a mais incrível experiência humana. Portanto, uma experiência lindamente cheia de furos, imperfeições e remendos.
Quem espera um amor perfeito, feito teorias cor-de-rosa sobre almas gêmeas e felicidade eterna; quem espera o "para sempre" assim, feito conto de fadas que "dá para sempre certo" depois de lutar contra dragões e serpentes, não conseguirá vivenciar o grande encontro. Mas quem acredita que o amor exclui a paixão, o riso bobo e gratuito, a poesia brega e a música que não sai da cabeça, o bilhete inesperado, a flor roubada, os beijos demorados e as lágrimas que suplicam pelo outro, também não conseguirá vivenciar o grande encontro.
Paixão pode nascer e nunca se tornar amor. Amor pode nascer sem ter tido tempo de experimentar a paixão. Mas o que importa mesmo é ter coragem de apostar, recomeçar, arriscar, persistir e, a despeito de todas as provações, resistir e manter-se dedicando. Amor de verdade, com o vai-e-vem da paixão, é refazer as escolhas e relembrar-se do que é bom. É olhar nos olhos do outro e ainda se encontrar aqui e aí!

Rosana Braga

sábado, 16 de fevereiro de 2013

"Redes Sociais e a Depressão"!





Quem de nós, por uma razão ou outra, não aderiu à moda das redes sociais?
A moda atingiu em cheio os adolescentes, que adoram manter contato com seus amigos em sites como Facebook e Twitter.

Por mais divertido que seja, o uso em excesso desses sites  pode ser prejudicial e tem sido associado à depressão, dizem pesquisadores.

Um novo relatório da Academia Americana de Pediatria descreve um novo fenômeno conhecido como “depressão do Facebook “, no qual crianças e adolescentes que gastam uma enorme quantidade de tempo em sites de redes sociais acabam desenvolvendo sintomas de depressão.
“O fenômeno não é comum e a maioria das crianças se beneficiam com o site, pois são capazes de manter laços com os amigos e sentir uma conexão com sua comunidade”, explica Scott Campbell, professor de estudos de comunicação na Universidade de Michigan, Estados Unidos.
Porém, o uso pesado excessivo do Facebook, bem como outros riscos do mundo online como o “cyberbullying”, pode ter consequências graves. Por isso, é fundamental para os pais ficar envolvido na vida virtual de seus filhos.
“Como as crianças têm cada vez mais canais de comunicação com seus colegas online, é extremamente importante que os pais também mantenham a comunicação com seus filhos da mesma forma aberta. Assim, podem ter uma noção do que está acontecendo na vida de seus filhos, tanto online quanto offline “.
 O relacionamento com amigos se torna difícil nos anos de adolescência. Enquanto o Facebook permite que os jovens preservem e cultivem suas amizades, ele pode também alimentar a inveja, de acordo com Michael Brody, psiquiatra da infância e adolescência em Silver Springs, Maryland, Estados Unidos.
“As crianças se tornam muito competitivas no ambiente virtual e querem ser o centro das atenções”.
O Facebook permite que os adolescentes acompanhem o sucesso de seus amigos, bem como o número de amizades aqueles amigos têm. “Isso configura uma coisa competitiva. As crianças podem se sentir menos do que eles são porque seus amigos parecem estar se divertindo mais do que elas”, diz Brody. “A ideia de inveja e ciúme é muito difundida e ampliada através desse meio”.
No entanto, é menos claro se o próprio Facebook leva à depressão ou se alguns adolescentes que já estão deprimidos são propensos a gastar demasiado tempo on-line.
“Como qualquer outra coisa na vida, muito tempo no Facebook – ou na Internet em geral, aliás – pode ser uma coisa negativa”.
“Em geral, depressão e solidão são associadas a esses usuários frequentes da Internet, que permitem que a quantidade de tempo passados online interfiram em seus relacionamentos off-line”.
Uma maneira de potencialmente impedir as crianças de entrar neste tipo de depressão é ter a certeza de que elas se envolvam em uma variedade de atividades..
“As crianças que têm uma vida equilibrada, fazem lição de casa e atividades extra-curriculares, participam de clubes, serviços comunitários ou praticam esportes têm uma chance muito menor de desenvolver depressão”.
“Eu ficaria preocupado como pai se a única coisa que meu filho gostasse de fazer fosse ficar sentado na frente do computador usando o Facebook”..

LiveScience

" A Vitória da Vida"...

Pobre de ti, se pensas ser vencido...
Tua derrota é caso decidido!
Queres vencer, mas como em ti não crês...
Tua descrença esmaga-te de vez.
Se imaginas perder...
Perdido estás!
Quem não confia em si marcha para trás.
A força que te impele para a frente...
 É a decisão firmada em tua mente.

Muita empresa esboroa-se em fracasso, ainda antes do primeiro passo.
Muito covarde tem capitulado, antes de haver a luta começado.
Pensa em grande, e teus feitos crescerão... Pensa em pequeno, e irás depressa ao chão.
O querer é o poder arquipotente...
É a decisão firmada em tua mente.

Fraco é aquele que fraco se imagina... Olha ao alto o que ao alto se destina.
A confiança em si mesmo é a trajetória que leva aos altos cimos da Vitória.
Nem sempre o que mais corre a meta alcança... Nem mais longe o mais forte o disco lança...
Mas o que, certo em si, vai firme e em frente... Com a decisão firmada em sua mente

Roberto Abreu  


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

"Preconceitos Resistem ao Tempo".


O vislumbrar de perspectivas otimistas para a condição humana - uma vida cheia de alegrias, gratificações, essencialmente derivada de relações humanas ricas e desinteressadas - costuma levar a maioria das pessoas para a busca apressada deste objetivo sem que levem a sério os obstáculos e dificuldades a serem ultrapassados.
É como interpreto hoje os fatos acontecidos nos anos 60: de repente as pessoas pensaram - especialmente os jovens - que bastava mudar o tipo de roupa, modificar o corte dos cabelos, usar sandálias para que se fizesse a revolução psicológica e de costumes que já podia ser prenunciada.
Acredito que aqueles que não se aperceberem da existência de uma longa caminhada, de um profundo mergulho em si mesmo, cairão de novo no abismo da desesperança, das drogas e do consumismo conservador (e não foi isso que se deu nos anos 70?).
Quando as experiências libertárias não dão certo, isto significa que somos capazes de gerar idéias com muita rapidez e facilidade, mas que em geral não temos estrutura interior para viver segundo elas.
Forçamo-nos a isto, nos desequilibramos, caímos, nos machucamos e concluímos que as idéias estavam erradas; na verdade, acho que a conclusão deveria ser outra: ainda não estamos prontos e maduros para viver de outro modo, para nos soltarmos das amarras que nos limitam mas também que nos protegem, nos dão sensação de aconchego e segurança.
Não se pode tentar atalho para se chegar mais depressa ao que se pretende; há que percorrer toda a trajetória, sofrida e cheia de desesperos para se atingir uma estabilidade íntima. Senão, mais uma vez chegaremos apenas ao falso brilhante, à imitação.
Assim, se nos fixarmos numa das questões mais essenciais da liberdade que é o do respeito pelo modo de ser e de pensar do outro, vemos que esta coisa extremamente simples e óbvia nunca chegou a existir como fato. E isto não apenas como postura das classes dominantes, conservadoras e que tentam preservar seus privilégios.
Todos os grupos minoritários agem da mesma forma: se consideram donos da verdade, superiores; têm um desprezo visceral pelos que pensam de modo diferente e tratam de impor suas idéias tanto através das palavras como mesmo pela força.
Grupos religiosos diferentes já fizeram longas e sangrentas guerras para fazerem prevalecer suas opiniões e verdades. Ideologias políticas também se exerceram desta forma. E, isto é o mais incrível, os jovens libertários dos anos 60 ostentavam enorme desprezo pelos caretas; quem não fosse iniciado nas luzes advindas do uso da maconha - e depois do LSD - era tão desprezado e desinteressante que nem mesmo valia a pena trocar algumas palavras.
Os ateus acham imbecis os que acreditam em Deus; os crentes têm pena dos ateus,  e a pena é outra forma de manifestação de desprezo; é sentimento de cima para baixo, de rico para pobre.
Os homossexuais sãos os entendidos e os heterossexuais são, para eles, meio primários; os heterossexuais acham a homossexualidade abominável, uma perversão.
O limite desta prepotência permanente e assim grotesca constitui a essência dos preconceitos e do fanático nacionalismo.
Assim, os negros são uma raça inferior, os judeus perigosos e avarentos, os argentinos grosseiros e mal-educados...
Aí a gente vai conversar individualmente com as pessoas e todos se consideram criaturas de mente aberta, cheias de bom senso e compreensão, capazes de se ater a novos conceitos, sempre dispostos a rever suas posições.
Até parece uma brincadeira e seria engraçado se não fosse extremamente grave, pois no meio deste discurso liberal sempre aparecem frases como: isto eu não admito, não sou racista mas os turcos... não posso nem pensar em meu filho parar de estudar, etc.
Parece-me fundamental aprofundar mais estas observações, ainda que a repetição de conceitos seja meio exaustiva e chata.

Flávio Gikovate

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

"Não posso viver sem você"!

"Não posso viver sem você. Você é toda a minha vida."
Sonhamos todos ouvir coisas assim. Sonhamos todos com um amor imenso e incondicional.
Ter alguém que nos olhe com olhos cheios de amor e nos diga coisas que nosso coração anseia, coisas que nos façam sentir únicos e especiais.
Mas por detrás de tudo o que é dito há sempre uma realidade implícita. Alguém que diz ao outro frases como essas não só dá ao outro o poder sobre sua felicidade ou infelicidade, como joga nos seus ombros uma enorme responsabilidade.
Dizer a alguém: "não posso viver sem você" equivale a dizer: "se você não mais me quiser, não quero mais viver, vou me deixar morrer." Mas e se o amor dessa outra pessoa diminui, se ele acaba, se ele encontra em outros braços o que ele precisa para ser feliz? Se levar a sério o que ouviu, vai se sentir na obrigação de ficar junto de quem não pode viver sem ela. Porém, viver junto sem amor é um fardo que pode ser muito pesado a carregar. Significa renunciar à própria vida para satisfazer ao outro.
E como dar felicidade se não temos a mesma para oferecer?
Não podemos dar e nem exigir da outra pessoa um amor incondicional, porque não somos eternos e a outra pessoa também não. Podemos fazer com que fiquem conosco, mas não podemos exigir que nos amem.
O amor deve ser um sentimento livre e liberto.
As pessoas devem ficar juntas porque se escolhem mutuamente e não porque o outro exerce pressão sobre ele de forma ou de outra.
Ninguem pode e nem deve ser a vida de ninguém, que sejam namorados, pais, filhos, porque quando essa se vai de um, o outro precisa e deve continuar vivendo, o outro precisa se reconstruir. Se uma pessoa faz da outra a sua vida e ela a perde... Ela perde tudo!
Não somos todos Romeus e Julietas da vida. Embora aos nossos olhos pareça bonito um amor assim, ele não é realista e nem deve ser para nós.
Quando o outro parte, que seja da vida, que seja para novas direções, devemos nós procurar continuar nossa vida e nos preparar para acolher outro amor que a vida nos reserva. Precisamos nos preparar para a eventualidade de uma nova felicidade.
Ser independente de quem amamos não significa amar menos, mas amar o bastante para respeitar que este possa respirar sem nós e nós sem ele. E render graças a Deus se essa pessoa decide compartilhar nossa vida, voluntária e feliz.
"Ninguém morre sem ninguém...
 Mas todos sobrevivem, embora cheios de marcas do vivido"!



Letícia Thompson

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

"Educar é mostrar a Vida"!




Educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu.
O educador diz: “Veja!” - e, ao falar, aponta.
O aluno olha na direção apontada e vê o que nunca viu. Seu mundo se expande...
Ele fica mais rico interiormente... E, ficando mais rico interiormente, ele pode sentir mais alegria e dar mais alegria, que é a razão pela qual vivemos.
Já li muitos livros sobre psicologia da educação, sociologia da educação, filosofia da educação, mas, por mais que me esforce, não consigo me lembrar de qualquer referência à educação do olhar ou à importância do olhar na educação, em qualquer deles.
A primeira tarefa da educação é ensinar a ver...É através dos olhos que as crianças tomam contato com a beleza e o fascínio do mundo...Os olhos têm de ser educados para que nossa alegria aumente.
A educação se divide em duas partes: educação das habilidades e educação das sensibilidades...Sem a educação das sensibilidades, todas as habilidades são tolas e sem sentido.
Os conhecimentos nos dão meios para viver. A sabedoria nos dá razões para viver.
Quero ensinar as crianças. Elas ainda têm olhos encantados.
Seus olhos são dotados daquela qualidade que, para os gregos, era o início do pensamento, a capacidade de assombrar diante do banal.
Para as crianças, tudo é espantoso: um ovo, uma minhoca, uma concha de caramujo, o vôo dos urubus, os pulos dos gafanhotos, uma pipa no céu, um pião na terra. Coisas que os eruditos não vêem. Na escola eu aprendi complicadas classificações botânicas, taxonomias, nomes latinos... Mas esqueci.
Mas nenhum professor jamais chamou a minha atenção para a beleza de uma árvore, ou para o curioso das simetrias das folhas.
Parece que, naquele tempo, as escolas estavam mais preocupadas em fazer com que os alunos decorassem palavras que com a realidade para a qual elas apontam.
As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem...
Quando  a gente abre os olhos,abrem-se as janelas do corpo, e o mundo aparece refletido dentro da gente.São as crianças que, sem falar, nos ensinam as razões para viver.
Elas não têm saberes a transmitir. No entanto, elas sabem o essencial da vida.
Quem não muda sua maneira adulta de ver e sentir e não se torna como criança jamais será sábio.

“As crianças não têm idéias religiosas, mas têm experiências místicas.
Experiência mística não é ver seres de um outro mundo. É ver este mundo iluminado pela beleza.”


Rubem Alves

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

"A Elegância do Comportamento"!

Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara...
A elegância do comportamento!
É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza.
É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto. É uma elegância desobrigada.
É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam.
Nas pessoas que escutam mais do que falam.
E quando falam, passam longe da fofoca, das maldades ampliadas no boca a boca.
É possível detectá-las nas pessoas que não usam um tom superior de voz.
Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros.
É possível detectá-la em pessoas pontuais.
Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está.
É elegante não ficar espaçoso demais.
É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao de outro.
É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais.
É elegante retribuir carinho e solidariedade.
Sobrenome, jóias, e nariz empinado não substituem a elegância do gesto.
Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante.
Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural através da observação, mas tentar imitá-la é improdutivo.
A saída é desenvolver em si mesmo a arte de conviver, que independe de status social: é só pedir licencinha para o nosso lado brucutu, que acha que com amigo não tem que ter estas frescuras.
Se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os inimigos é que não irão desfrutá-la.
Educação pode enferrujar por falta de uso. E, detalhe: não é frescura.

Martha Medeiros 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

"A Ecologia Política"!

Desde os anos 80, um sentimento de impotência se espalhou pelo planeta, e mais particularmente nos países tendo passado por experiências  democráticas.
O voto não parece mais ter sentido : uma vez eleitos, todos  os dirigentes, apesar de suas promessas, logo voltam para a " única política possível, a que é ditada pelas exigências da globalização ". Ora, para a  maioria, esta política só traz um cortejo de infelicidades : insegurança,  pobreza, exclusão…
Este sentimento de " esvaziamento do político " tem uma dupla dimensão:
• Quanto aos conteúdos do que se chama " a política ", i.e., " o que se faz ", as estratégias e os objetivos parecem reduzir-se a uma infra política, à  simples optimização da competitividade que, por sua vez, traduz-se pelo  abandono de toda pretensão social.
• Quanto às formas e aos domínios do que se chama "a política " - i.e.,"como e com quem se age ", o que constitui a própria definição da cidade (polis) dos homens e das mulheres - eles parecem reduzir-se a uma coleção de indivíduos em competição mal contrabalanceada por regulamentos abstratos caídos do céu (de Bruxelas, da OMC) e, em geral, desfavoráveis.
A sociedade não é no entanto um mercado.O desejo, as necessidades de sociedades assumem a forma de reações identitárias. : integrismos no Terceiro Mundo, populismos autoritários e xenófobos no Norte.  A ecologia não é percebida como uma recusa da política por velhos hippies, uma atração íntima por flores e passarinhos ? Primeiro, vamos retificar esta imagem e redefinir o que é ecologia enquanto política. Em seguida, examinaremos como responde  à crise da política e de seus conteúdos, à crise da política e de suas formas.
O que é a ecologia política?
A expressão " ecolô " já indica por si própria a visão redutora e muitas vezes caricatural que tem da ecologia uma grande parte da opinião pública.  Do deboche, a opinião pública evolui para a perplexidade quando à ecologia se acrescenta a palavra política. Não há dúvida que a ecologia política, pelo menos aos olhos da opinião pública, ainda não adquiriu o estatuto de " noção clara e distinta ".
O que é então ecologia? E ecologia política?
O que é ecologia?
Segundo o dicionário Le Petit Robert, a palavra aparece na segunda metade do século XIX. Termo utilizado pela biologia, em sua origem, a ecologia é uma disciplina científica. É a ciência que estuda a relação triangular entre indivíduos de uma espécie, a atividade organizada desta espécie e o meio-ambiente, que é ao mesmo tempo condição e produto  da atividade, portanto condição de vida daquela espécie. O ecologista que se interessa por castores se dedicará a analisar a relação deles ao meio em que vivem: a floresta e os rios, mas também as barragens  que constróem, ou seja, a natureza transformada por sua atividade.
O ecologista se interessará ainda pela capacidade do sistema a assegurar as necessidades da  população de castores e sobre o modo como esta população se multiplica, se organiza,etc
Aplicada aos homens, a ecologia torna-se o estudo da relação da humanidade com o meio-ambiente, i.e., a maneira como se transformam mutuamente e como o meio-ambiente permite que a humanidade viva. Da mesma forma que o meio-ambiente dos castores não se limita a florestas e a rios, o meio-ambiente dos homens não é apenas natureza selvagem, incluindo também a natureza transformada por êles. A ecologia humana é portanto a interação complexa entre meio-ambiente (o meio em que vive a humanidade) e o funcionamento econômico,social e, acrescentemos, político das comunidades humanas.
Esta é uma diferença significativa entre a ecologia da espécie humana e a ecologia das outras espécies animais. Com efeito, os homens são animais não apenas sociais, mas também políticos. No entanto, na origem da especificidade da ecologia humana, há uma outra característica que remonta a seus primeiros passos na face da terra. Atualmente, sabe-se que a capacidade de produzir instrumentos não é mais uma exclusividade dos humanos, uma vez que chimpanzés são capazes de improvisarem certos instrumentos, ainda que rudimentares. Os homens, ao contrário, não pararam de melhorar seus instrumentos e, consequentemente, sua capacidade de ação e de transformação do meio-ambiente, pela " domesticação " de plantas e animais desde a revolução do neolítico.
Durante milhares de anos, tudo girou em torno da luta contra a fome e as intempéries. Viver o mais possível em harmonia com a ordem do mundo constituiu um ato de sabedoria daqueles homens do passado remoto. Mais perto dos tempos atuais, há quatro séculos, iniciou-se uma verdadeirareversão. Se, até então, o problema era de submeter-se à ordem da natureza, daí para frente a natureza é que deveria se ajustar aos desejos dos homens. Os incessantes progressos da ciência e de suas aplicações técnicas reforçaram cada vez mais o sentimento de que os homens eram " mestres e donos da natureza ". Durante a segunda metade do século XX, depois da expansão que se seguiu a 2ª Guerra Mundial, este movimento de emancipação chegou a seus limites. Os " milagres " da técnica e da tecnologia começaram a dar mostras de falhas ; acidentes " imprevisíveis " multiplicaram-se e seus efeitos alcançaram escala planetária (marés negras,Tchernobyl).  A importância que vem adquirindo estas novas inquietações levou a que alguns obervadores tentassem discernir os mecanismos econômicos e políticos geradores dosdesequilíbrios ecológicos. É sobre esta base conceitual e histórica que constituiu-se a ecologia política. Em seguida, aprofundou-se a análise crítica do funcionamento geral das sociedades industriais avançadas que, por sua vez, permitiu uma reflexão paralela sobre os meios a serem adotados para caminhar-se em direção de um outro modo de desenvolvimento.
Da ciência à política
A passagem da ciência à ecologia política introduz questões sobre o sentido doque fazemos, levando a uma série de outras perguntas : em que medida nossa organização social, a maneira como produzimos e consumimos, modificam o meio-ambiente? E, mais precisamente, como pensar a combinação, a interpenetração, a disposição destes diversos fatores nas ações sobre o meio-ambiente? Serão favoráveis os efeitos destas modificações sobre os indivíduos? Desfavoráveis? A ecologia científica diz-nos quais são os efeitos de nossos comportamentos e práticas ; esclarece-nos sobre o que está em jôgo. Aos homens, no entanto, cabe-lhes escolher o modo de desenvolvimento que desejam, em função de valores que evoluem no curso de debates públicos.
Levando a sério os desequilíbrios provocados pela atividade humana, a ecologia política vai interrogar-se sobre a modernidade e desenvolver uma análise crítica do funcionamento das sociedades industriais. Esta análise questiona um certo número de valores e de conceitos-chave sobre os quais se apóiam nossa cultura ocidental.
A natureza. Já evocamos o sentimento de poderio e de domínio sobre a natureza que desenvolveu-se progressivamente a partir do século XVIII.
Uma exaltação narcísica que tendeu a construir, sob o modo de oposição,até mesmo de antagonismo, a relação entre homem e natureza. Com isto alcançavam-se dois objetivos : a natureza servindo para valorizar os homens que, ao mesmo tempo, pareciam se ter destacado dela. Particularmente, a comparação entre os homens e outras espécies animais permitiam tornar manifesta a diferença, tornando implícita sua metamorfose. A depreciação da natureza banalizava as práticas mais degradantes a que era submetida, assim como os animais e mesmo os povos indígenas, que os europeus descobriam e julgavam " não-civilizados ". A ecologia política considera que foram amplamente ultrapassados os limites do aceitável e que chegou a hora de um questionamento geral de práticas e representações, já que não são independentes. Os homens fazem parte íntima da natureza, respiram-na e dela tiram sua alimentação, ainda que jovens atuais imaginem mais espontâneamente produtos derivados do leite em supermercados do que no campo. É claro que não se trata de cair no extremo oposto, o de uma sacralização da natureza. A ecologia política questiona a oposição natureza / cultura, mas relativizando-a. Parece-nos bem mais fecundo interessar-se mais pela complexidade do mundo vivo do que pela oposição homem / natureza. Os homens e seu meio-ambiente não param de
transformar-se mutuamente, sendo assim importante convencer-se que ambos estão envolvidos numa evolução interdependente (co-evolução). O progresso... Depois de Hiroxima, de Tchernobyl e dos buracos na camada de ozônio, ou mais recentemente, da crise da vaca louca, devemos avaliar as consequências de um progresso que já não aparece nem como linear nem sem limites : o progresso técnico não é necessariamente sinônimo de emancipação humana e de melhorias do meio-ambiente. Para a ecologia política, não se trata no entanto de rejeitar a noção de progresso nem de mergulhar num catastrofismo antitécnico. Trata-se de dar o lugar certo ao progresso técnico, uma vez não há razão para considerá-lo "naturalmente" dotado de virtudes. Para os ecologistas, o desenvolvimento das capacidades humanas não constitui um valor em si. A tecnologia introduziu-se em nosso mundo quotidiano trazendo consigo novas vulnerabilidades, novas dependências. A técnica nunca conseguirá suprimir todos os riscos, provocando mesmo novos riscos. Depois de ter tentado domesticar a natureza, temos agora de aprender a domesticar o próprio progresso. O que supõe ter sempre em mente as duas faces do progresso: por um lado, solução para crises e, por outro, fator de cirses ecológicas. O progresso técnico diz-nos o que se pode fazer (OGM, por exemplo), mas não nos diz o que é bom ou mal. Não é porque, amanhã, a ciência e a técnica nos permitirão sem dúvida escolher o sexo, a cor e o cabelo de nossos filhos e de gerações futuras que a opção destas manipulações se impõem a nós. Para a ecologia política, a questão dos valores é independente das mudanças técnicas e prévia a sua implementação... A responsabilidade... O poder das atuais tecnologias é de tal ordem que multiplicaram-se as consequências para o meio natural, para as outras espécies vivas, vegetais ou animais. Ainda que não ocorram acidentes ecológicos, o simples funcionamento de muitos sítios industriais produz efeitos nocivos para o meio ambiente. Basta pensar na criação de suínos na Bretanha ou nos diversos efluentes lançados em rios na França. A decisão de andar de carro ou de trem, o nível de calefação de nossas casas influem no clima. Degradamos o meio que nos faz viver.
Há coisas milagrosas em nosso planeta, mas há também o horror. A beleza do mundo é um desses milagres ; se a sacrificamos, o que sobrará ? Este meio nos torna a vida possível, pode ser fonte de alegria, ou em outros termos, de alegria de estar no mundo. Este meio somos nós também que o produzimos, que o legaremos a nossos filhos e aos filhos de nossos filhos. Ele é o berço, o domínio e a casa que preparemos para sua acolhida. Desejar filhos, trazê-los ao mundo e não se preocupar com o mundo devastado que nós lhes legamos, que pena!
A solidariedade. O princípio da propriedade e o consequente poder econômico não deveriam dar a seus detentores o direito de influir discricionariamente sobre a vida dos outros. Mas é assim que as coisas se passam à vista d'olhos. Por vezes, ainda que de maneira indireta, embora mas não menos determinante, este poder se estende até um direito de vida ou de morte. Leva alguns ao fundo do desespero porque sentem-se completamente incapazes de encontrar um lugar na sociedade, de ganharem seu sustento, de viverem decentemente, seja porque desde muito jovens viram-se marginalizados, seja porque sofrem as consequências de demissõesaos 40 anos, quando reconversões tornam-se impossíveis e as obrigações familiares, esmagadoras porque impossíveis de serem cumpridas.
Com o Direito e seu funcionamento implacável, seu caráter algo sacralizado, não há o risco de uma perda de sentido mais profundo? A riqueza dos indivíduos constitui-se sempre sobre a base da cooperação social. Um indivíduo isolado, sem laços com seus congêneres, não conseguiria sequer sobreviver. Se um indivíduo enriquece, ele deve seu enriquecimento a toda a cadeia de seus semelhantes que construíram o mundo onde ele nasceu e a seus contemporâneos que participaram direta ou indiretamente a seu enriquecimento.
Isso não deveria levar a um direito de retorno que se traduziria num dever de solidariedade mínimo? Uma sociedade, que tende a abolir o princípio do dom implicando o contra-dom, não estará correndo o risco de se desfazer, de se decompor? A simples solidariedade, mas também a dívida direta, nos impõe de não permanecermos indiferentes a infelicidade de um continente inteiro. A África está exangue e não somo salheios a esta situação.. A responsabilidade é apenas aparente se não for acompanhada de autonomia, que implica reconquista, por indivíduos e coletividades, do contrôle de suas atividades de produção, de sua vida quotidiana e de decisões públicas.
Trata-se de traduzir em atos um certo número de fórmulas : "meter a mão na massa", "participar", "ver as consequências de seus próprios atos". As implicações destes atos ocorrem em níveis diversos - da empresa, da cidadania em plano local, regional e nacional.
Recolocar o conteúdo no centro da política Os enunciados precedentes mostram uma evidência : a ecologia é portadora de muitíssimos novos conteúdos, ou melhor, constitui um intenso apêlo para que haja interêsse por conteúdos. A ecologia fixa objetivos, redefine meios e estratégias.
Coisas que pareciam ter desaparecido da " política " reduzida à competição pelo poder entre homens e partidos intercambiáveis.
A esperança revolucionária sumiu do horizonte, o comunismo faliu e o projeto socialista decepcionou. Portadora de grandes ambições durante todo o século, a política debilitou-se muito nos dias de hoje. Não há mal em que a política torne-se mais modesta, mas sua atual impotência e seu enfraquecimento face à economia são extremamente perniciosos. Uma sociedade sem projeto político, entregue às forças do mercado, sugada na espiral do " produzir cada vez mais " só pode levar a um crescimento das desigualdades sociais e das cirses ecológicas. É portanto urgente de dar novamente sentido e conteúdo à política.
Um novo modelo de desenvolvimento : o desenvolvimento sustentável Segundo a definição adotada pela ONU, desenvolvimento sustentável é o que permite satisfazer as necessidades das gerações atuais, começando pelos mais carentes, sem comprometer as possibilidades de que geraçõs futuras também possam satisfazer suas necessidades.
O que implica a idéia de desenvolvimento sustentável ? A idéia encerra duas dimensões. Atualmente, supõe que este modo de desenvolvimento responda às necessidades de todos. E, a longo prazo, supõe que este modelo possa durar. O desenvolvimento sustentável inclui também a idéia de redistribuição (ou de justiça social), uma vez que propõe uma ordem para a satisfação das necessidades: começar pelos mais carentes.
Mas, como fazer? Como reorientar nosso desenvolvimento para que se torne sustentável ? Primeiro imperativo: economizar o fator Terra, dando prioridade a tecnologias que economizam energia e, mais amplamente, que respeitem o meio-ambiente. Segundo imperativo : implementar novas regulamentações, acrescentandoà proteção social a proteção do meio-ambiente. Para tanto, os meios existem. Estendem-se de medidas regulamentares (leis e normas), a meios econômicos (eco-impostos, autorizações negociadas) passando por acordos de autolimitação e códigos de boa conduta. Cada um desses instrumentos obedece a uma lógica diferente. Alguns permitem que se reparem degradações; outros, que se indenizem danos causados por terceiros ; outros, ainda, que se previnam efeitos nocivos pela dissuasão. Sem dúvida, a via do imposto dissuasivo é a mais promissora. Duplamente promissora porque, ao lado de seu efeito protetor do meio-ambiente, também oferece à coletividade recursos novos podendo ser alocados a outras políticas. Por exemplo, baixar o custo do trabalho no quadro de políticas de crescimento do emprego. Com isso, chegamos ao efeito redistributivo do modelo de desenvolvimento sustentável. Os mais carentes não tem meios de poluir e, frequentemente, são também os mais atingidos por poluições. Serão portanto os maiores beneficiários de uma reeorientação geral para o desenvolvimento sustentável. A curto prazo, podem ser penalizadas as classes auferindo renda pouco significativa. Para estas classes, restrições ao uso livre e gratuito do meio-ambiente poderão turvar a miragem de uma generalização do modelo da sociedade de consumo, do qual não percebem o caráter insustentável e perigoso para sua própria saúde. Às novas políticas ecológicas é portanto necessário acoplar reformas sociais, senão aquelas políticas não parecerão legítimas.
A longo prazo, e do ponto de vista do interesse geral, são evidentes as vantagens do desenvolvimento sustentável. Infelizmente, no entanto, é muito raro que se imponha o interesse da humanidade, a fórmula "depois de mim, o dilúvio" sendo muito mais adotada. Como fazer para que forças sociais e políticas se interessem pelo desenvolvimento sustentável? Certamente através de um intenso debate ideológico e cultural, visando modificar a percepção da escala dos riscos e das vantagens do desenvolvimento sustentável, fazer progredir os valores e normas da ecologia. Para além da política e de seus conteúdos, é a instância política, seu campo e seus métodos, que deve ser reconstruída.
Repensar a instancia política entre o global e o local. Os governos parecem incapazes de resolver tanto problemas quotidianos como os que têm dimensão planetária ; seja impedir demissões em alguma empresa, que aliás apresenta excelentes resultados econômicos, seja lutar contra o aquecimento da temperatura no mundo. Num momento em que não há mais limites para o poder econômico e financeiro, o poder político continua dependendo amplamente do princípio da soberania dos estados. A relação de forças encontra-se portanto não só desigual mas invertida.
Para que a instância política readquira credibilidade e, portanto, meios de ação, é indispensável alcançar um novo equilíbrio..."Pensar globalmente, agir localmente"
A mundialização e as fortes tensões que abalam os Estados-nação, quando não levam a sua implosão, reforçam a pertinência desta palavra-de-ordem surgida entre os ecologistas dos anos 70.
Pensar globalmente. Porque a ecologia política se apropria máximas que podem ser asdo humanismo em geral: "Sou homem e nada que é humano me é estranho" ; "Somos todos responsáveis de tudo e diante de todos, particularmente, de eu mesmo".
Pensar globalmente corresponde a elevar-se ao nível de uma visão planetária, que o saber ecológico tornou possível. Visão do estado do planeta, de sua degradação contínua, do jôgo complexo de causas e consequências e, parte essencial deste jôgo, a atividade Humana sob suas diversas formas. Este é um aspecto essencial, o " contrôle da natureza "constituindo um fantasma que parece prudente de não evocar em demasia.
Mas, ao contrário, da atividade humana somos responsáveis e podemos, em todo caso devemos, esperar manter o controle.
Agir localmente. A vontade de encarregar-se do meio-abiente imediato, de agir por si, à escala de cada um. Contra o centralismo, contra a tecnocracia, é a revindicação de um direito : o de obter uma aproximação entre poder político e cidadãos, de regionalização, até de municipalização do poder político ou, melhor dito, de uma reapropriação da política sem delegação nem subordinação. A possibilidade de pensar a escala planetária suscita nossa responsabilidade local e deveres consequentes. O agir localmente permite que melhor se meça o que está em jogo e as consequências de seus próprios atos. Permite também que se avalie como, na ausência de ação, o horizonte é de infantilismo, de recriminação estéril e repetitiva que perpetua o status quo. Poucos são os que percebem a que ponto as consequências de seus próprios atos, ínfimos a seus olhos, tornam-se enormes e mudam de escala quando são ampliadas pelo número de atores sociais envolvidos. E ainda que o soubessem, será que isto adiantaria muito?
Quem levaria em conta estas aspirações? "Nosso modo de vida não é negociável", foi como o ex-presidente Bush reagiu às negociações da Eco-92, no Rio de Janeiro.Agir globalmente, pensar localmente Como responder a este cinismo e egoísmo senão através de leis globais, que empeçam os homens de serem nocivos em escala planetária? E, sendo necessário agir globalmente, é preciso convencer em lugares precisos, através de acordos locais, que se aceitem leis globais.
Agir  globalmente, pensar localmente, esta deve ser a devisade uma ecologia política pragmática e realista. Agir globalmente... Trata-se de fixar regras de uma ordem superior àsescalas tradicionais (em particular, o Estado-nação) e munir-se de meios para que sejam aplicadas. Trata-se de eliminar efeitos perversos derivados de certas interações, de impedir condutas que parecem localmente vantajosas mas que, por sua acumulação, podem ter consequências desastrosas para o conjunto.
Resumindo, trata-se de estabelecer regulamentações para o jôgo cego dos egoismos e das concurrências mercantis, das relações de forças do poder geopolítico, para privilegiar práticas úteis mutuamente. Pensar localmente.
Este aspecto, parece-nos, é essencial. Não faltam teóricos, e principalmente na França, para pensar globalmente. Quanto a agir globalmente, i.e., elaborar tratados internacionais, com aditivos de leis nacionais e decretos de regulamentação, há legisladores, ministros e seus gabinetes, que sabem muito bem como o fazer. Os problemas só começam a aparecer quando se chega ao nível da implementação local. As regulamentações só têm efeito quando cidadãos crêem em sua utilidade, estão convencidos de que têm sentido. Quando obrigações parecem justificadas. Em sociedades democráticas, esta justificação supõe a adesão ao princípio do interesse geral que, por sua vez, implica que local ou individualmente perceba-se suas vantagens.
Sem a adesão dos atores não se faz nada durável. É assim que entendemos a fórmula "pensar localmente". Para a ecologia política, é preciso agir para que se amplie a tomada de consciência de efeitos distantes da vida de cada um, de modo a tornar justificáveis restrições impostas por leis. Trata-se de, pouco a pouco, amadurecer em comunidades locais a consciência de um destino comum do gênero humano, de necessidades comuns, de vantagens recíprocas. Trata-se ainda de agir politicamente para codificar regras ao nível internacional, que maiorias locais estejam dispostas a aceitar.

Conclusão
Faz pouco tempo que somos 6 bilhões de seres humanos. De semelhantes, ainda   diz-se. Há no entanto uma enorme disparidade. Para constatar isso basta que nos limitemos aos personagens valorizados pela mídia dentre a massa de anônimos. Pelo lado do horror, impera a abundância : homens do GIA, milícias sérbias na Bósnia e no Kossovo, os virtuoses das machadinhas no Ruanda. Outros homens chamam-se E. Levinas, P. Ricoeur, H. Jonas.
Convidam-nos a manter relações humanas bem diferentes. É preciso um singular esforço de imaginação para considerá-los, uns e outros, como semelhantes. É grande a tentação de ver os primeiros como pré-hominídeos.
Mas sabemos que os homens não são isso ou aquilo. São seres em constante transformação, construindo-se a si mesmos. As relações sociais das quais participamos, da infância até a velhice, desempenham um papel essencial nesse processo. Está em nossas mãos, consequentemente, o evoluir para uma humanidade bárbara ou civilizada. É isso que está em jôgo para a ecologia política. Quanto a nós, estamos convencidos que a ecologia política está destinada a ter uma influência durável sobre a humanidade de amanhã.

Alain Lipietz