Somos Anjos e Mestres!
Todos nós sabemos alguma coisa que alguém, em algum lugar, precisa aprender e, por vezes, nós mesmos recordarmos.

domingo, 29 de novembro de 2015

"Eu... Quando Visto Pelo Outro"!!!

Quem sou eu? Eu vivo pra saber. Interessante descoberta que passa o tempo todo pela experiência de ser e estar no mundo. Eu sou e me descubro ainda mais no que faço. Faço e me descubro ainda mais no que sou. Partes que se complementam.
O interessante é que a matriz de tudo é o "ser". É nele que a vida brota como fonte original. O ser confuso, precário, esboço imperfeito de uma perfeição querida, desejada, amada.
Vez em quando, eu me vejo no que os outros dizem e acham sobre mim. Uma manchete de jornal, um comentário na internet, ou até mesmo um email que chega com o poder de confidenciar impressões. É interessante. Tudo é mecanismo de descoberta.
Para afirmar o que sou, mas também para confirmar o que não sou.
Há coisas que leio sobre mim que iluminam ainda mais as minhas opções, sobretudo quando dizem o absolutamente contrário do que sei sobre mim mesmo...
Reduções simplistas, frases apressadas que são próprias dos dias que vivemos.
O mundo e suas complexidades. As pessoas e suas necessidades de notícias, fatos novos, pessoas que se prestam a ocupar os espaços vazios, metáforas de almas que não buscam transcendências, mas que se aprisionam na imanência tortuosa do cotidiano. Tudo é vida a nos provocar reações.
Eu reajo. Fico feliz com o carinho que recebo, vozes ocultas que não publico, e faço das afrontas um ponto de recomeço. É neste equilíbrio que vou desvelando o que sou e o que ainda devo ser, pela força do aprimoramento.
Eu, visto pelo outro, nem sempre sou eu mesmo. Ou porque sou projetado melhor do que sou, ou porque projetado pior. Não quero nenhum dos dois. Eu sei quem eu sou. Os outros me imaginam. Inevitável destino de ser humano, de estabelecer vínculos, cruzar olhares, estender as mãos, encurtar distâncias.
Somos vítimas, mas também vitimamos. Não estamos fora dos preconceitos do mundo. Costumamos habitar a indesejada guarita de onde vigiamos a vida.
Protegidos, lançamos nossos olhos curiosos sobre os que se aproximam, sobre os que se destacam, e instintivamente preparamos reações, opiniões.
O desafio é não apontar as armas, mas permitir que a aproximação nos permita uma visão aprimorada.  No aparente inimigo pode estar um amigo em potencial...
Regra simples, mas aprendizado duro.
Mas ninguém nos prometeu que seria fácil. Quem quiser fazer diferença na história da humanidade terá que ser purificado neste processo. Sigamos juntos.
Mesmo que não nos conheçamos. Sigamos, mas sem imaginar muito o que o outro é.
A realidade ainda é base sólida do ser.

Padre Fábio de Melo

terça-feira, 24 de novembro de 2015

"A Universalidade De Uma Opinião"!!!

A universalidade de uma opinião, tomada seriamente, não constitui nem uma prova, nem um fundamento provável, da sua exatidão. Aqueles que a afirmam devem considerar que:
- O distanciamento no tempo rouba a força comprobatória dessa universalidade; caso contrário, precisariam de evocar todos os antigos equívocos que alguma vez foram universalmente considerados verdade: por exemplo, estabelecer o sistema ptolemaico ou o catolicismo em todos os países protestantes;
- O distanciamento no espaço tem o mesmo efeito: caso contrário, a universalidade de opinião entre os que confessam o budismo, o cristianismo e o islamismo os constrangerá.
O que então se chama de opinião geral é, a bem da verdade, a opinião de duas ou três pessoas; e disso nos convenceríamos se pudéssemos testemunhar como se forma tal opinião universalmente válida.
Acharíamos então que foram duas ou três pessoas a supor ou apresentar e a afirmar num primeiro momento, e que alguém teve a bondade de julgar que elas teriam verificado realmente a fundo tais colocações: o preconceito de que estes seriam suficientemente capazes induziu, em princípio, alguns a aceitar a mesma opinião: nestes, por sua vez, acreditaram muitos outros, aos quais a própria indolência aconselhou: melhor acreditar logo do que fazer controles trabalhosos.
Desse modo, dia após dia cresceu o número de tais adeptos indolentes e crédulos: pois, uma vez que a opinião já contava com uma boa quantidade de vozes do seu lado, os que se seguiram o atribuíram ao fato de que ela só podia ter conquistado tais votos graças à consistência dos seus fundamentos.
Os que ainda restaram foram constrangidos a concordar com o que já era considerado válido por todos, a fim de não serem considerados cabeças irrequietas que se rebelam contra opiniões universalmente aceitas, nem garotos intrometidos que querem ser mais inteligentes do que o mundo inteiro.
A essa altura, o consenso tornou-se uma obrigação. A partir de então, os poucos que têm capacidade de julgar precisam calar, e os que podem falar são aqueles completamente incapazes de ter opinião e julgamento próprios, são o mero eco da opinião alheia: contudo, são também defensores tanto mais zelosos e intransigentes dela. Pois, naquele que pensa de outro modo, odeiam menos a opinião diferente que ele professa do que o atrevimento de querer julgar por conta própria, experiência que eles mesmos nunca fazem e da qual, no seu íntimo, têm consciência.
Em suma, muitos poucos sabem pensar, mas todos querem ter opiniões: o que mais lhes resta a não ser, em vez de criá-las por conta própria, aceitá-las totalmente prontas de outros?
Uma vez que assim sucede, quanto poderá valer a voz de cem milhões de pessoas?
Tanto quanto um fato histórico que se encontra em cem historiadores, mas que depois se comprova ter sido transcrito por todos, um após outro, motivo pelo qual, no fim de contas, tudo reflui ao depoimento de um único homem.

Arthur Schopenhauer

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

"Jeitinho Brasileiro De Amar"!!!

Haveria um jeito brasileiro de amar?
Na onda de se apresentar o Brasil ao mundo, os brasileiros voltam-se sobre si mesmos e se perguntam com que roupa vão aparecer no baile das nações, inclusive no amor.
Não precisamos nos aprofundar muito, para perceber que cada povo ama de certo jeito peculiar. É o que nos permite brincar, em caricatura, que o amor francês é cheio de biquinhos e não me toques; que o alemão ama na dureza; que o americano até no carinho usa a régua do custo-benefício; que o argentino, especialmente o macho, abre e exibe todas as penas do pavão; que o italiano fala mais que confirma; que o inglês ama em hora marcada etc. E o brasileiro?
Sim, podemos falar de um jeito brasileiro de amar.
A principal característica é a ginga, a flexibilidade, como de resto em tudo.
O brasileiro não se leva muito a sério em declarações pomposas. Nem se preocupa em sustentar um pedido de casamento na realidade prática. Primeiro o brasileiro declara e assina o sonho, depois corre atrás de sua realização. Outros povos preferem adequar os sonhos aos fatos, coisa chatíssima nessas terras.
O brasileiro não se prende a uma forma convencional de expressão amorosa.
Por aqui, diz o poeta Milton Nascimento, todas as formas de amor valem à pena. Outro poeta, Vinícius de Moraes, destaca o desmedido do amor na terra onde tudo dá, na infinitude do sentimento enquanto dure.
A sensualidade brasileira está à flor da pele. Dizem os sociólogos que nos estudam, como Domenico de Masi, que isso é herança da escravidão. Os negros escravos tinham como seu único bem o seu corpo. Deles e dos índios teríamos herdado a cultura do cuidado com o corpo que acaba se refletindo na proeminência da nossa cirurgia plástica e da dermatologia, e nos espetáculos esculturais de nossas praias. Mesmo no silêncio do primeiro encontro os brasileiros dançam...
Com o olhar, o aceno, a cruzada de perna, o andar, o meneio.
E se você, nesse momento, está sorrindo ao se reconhecer nessas características, querendo delas saber mais, e está com vontade de acrescentar detalhes de sua forma de amar, é porque você é brasileiro e sabe que estamos agora privilegiados em uma pós-modernidade que valoriza o que já intuitivamente sabíamos: que nenhuma explicação de amor é em si suficiente.
Que o amor pede sempre um complemento, um jeitinho especial dos amantes...
Se não, ora, se não for assim, não tem jeito.

Jorge Forbes

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

"O Primeiro Amor"!!!

O Primeiro Amor...
Questão é curiosa nesta Filosofia, qual seja mais precioso e de maiores quilates: se o primeiro amor, ou o segundo?
Ao primeiro ninguém pode negar que é o primogênito do coração, o morgado dos afetos, a flor do desejo, e as primícias da vontade.
Contudo, eu reconheço grandes vantagens no amor segundo.
O primeiro é bisonho, o segundo é experimentado...
O primeiro é aprendiz, o segundo é mestre...
O primeiro pode ser ímpeto, o segundo não pode ser senão amor.
Enfim, o segundo amor, porque é segundo, é confirmação e ratificação do primeiro, e por isso não simples amor, senão duplicado, e amor sobre amor.
É verdade que o primeiro amor é o primogênito do coração; porém a vontade sempre livre não tem os seus bens vinculados.
Seja o primeiro, mas não por isso o maior.

Padre António Vieira

domingo, 15 de novembro de 2015

"Do Horror Político Ao Horror Econômico... De Paris Ao Rio Doce"!!!

Os atentados em Paris e o crime ambiental em Mariana não são hierarquizáveis; o problema consiste em minimizar uma das tragédias por determinadas conveniências
Muita gente no Brasil está falando sobre os atentados em Paris, com mais de cem mortos, em comparação com a maior tragédia socioambiental brasileira do século XXI, o rompimento de barragens em Mariana (MG), com mais de 20 mortos e desaparecidos e uma destruição incalculável do ambiente, entre espécies extintas, impacto por décadas e ameaça direta à sobrevivência de um rio importante, o Rio Doce.
Existe a percepção de que a tragédia francesa abafará a tragédia brasileira.
E a verbalização dessa percepção gera um ruído: como se quem dissesse isso fosse indiferente a cada francês morto e ao horror específico dos massacres em Paris, à covardia e ao fanatismo. Com isso se cria um falso problema. Ou, no mínimo, secundário: a nossa suposta insensibilidade. A dos cidadãos, a dos internautas.
E não, não somos nós os culpados. Existem dois horrores simultâneos acontecendo. Um deles é político, mais precisamente geopolítico: o horror que desemboca no massacre de Paris, nos atentados de 11 de setembro, no atentado ao Charles Hebdo, movido também a profundos abismos religiosos e culturais, potencializado por ações tresloucadas e cinicamente moralizantes do Ocidente...
O outro horror é econômico.
“Horror Econômico” é o nome de um livro da escritora francesa Viviane Forrester, que dissecava com qualidade literária, em 1996, a lógica abominável de nosso sistema econômico, e as farsas discursivas utilizadas para perpetuá-lo.
Era um libelo humanista em defesa dos trabalhadores, da vida e do ambiente, e sobre a planejada cegueira coletiva em relação às desigualdades inerentes ao nosso sistema de produção.
O economista francês Jacques Généreux respondeu no ano seguinte que o horror era político, e não econômico. E deu esse nome ao livro: “Horror Político”.
Tanto pela estratégia de poder dos governos (em parceria com as grandes corporações) como pela aceitação dos cidadãos, pelo silêncio, pela incapacidade de reação, de se fazer outras escolhas.
Horrores Simultâneos...
Os horrores coexistem e são simultâneos, muitas vezes convergentes.
Mas há diferenças... Dos arredores da Torre Eiffel (feita de ferro) ao ferro extraído irresponsavelmente em Mariana há uma hierarquia de fatores, e não de dor, uma gama de responsabilidades específicas.
O Estado Islâmico e a Vale não representam o mesmo campo ideológico; nem a mesma religião; nem têm os bolsos recheados com a mesma intensidade. Um aposta no desespero como recurso político; a outra aposta no amortecimento. Estado Islâmico é um inimigo conveniente para o sistema. O que não o exime de seus horrores.
A Samarco, não...
A Samarco é o próprio sistema. A Samarco é a brasileira Vale e a anglo-australiana Billinton. A Vale tem capital japonês, tem dedo do Estado brasileiro, tem fundo de pensão, tem o Bradesco. A Vale é o sistema que se perpetua diariamente nas páginas da imprensa – tanto as jornalísticas como as publicitárias.
E, portanto, essa mesma imprensa cantará com mais força o horror distante, com o inimigo consensual. Não há possibilidade de “acidente” em um massacre movido a metralhadoras, e fica decretada a impossibilidade de contextualização (nunca de justificação), de tentarmos entender o que acontece, por que acontece esse tipo de barbárie e qual o papel dos que não se julgam bárbaros na perpetuação dessa violência.
No Brasil, define-se uma lógica contrária. A morte de milhões de animais, a destruição de um povoado inteiro (que não mais existirá), as cinco crianças mortas ou desaparecidas e a incrível sequência de impactos ambientais (como a falta d’água em municípios inteiros de Minas) são tratadas como se fossem um mero detalhe, “desculpa aí, foi mal, mas nós geramos empregos na região e somos muito bem intencionados, nós somos o desenvolvimento”.
Não Foi Um Acidente...
O papel da imprensa graúda é o de reforçar a imagem de um “acidente” – como se esse acidente não fosse inerente a esse sistema econômico genocida. Não fosse também o horror. Alguns profissionais nos grandes jornais resistem e produzem notícias importantes. Mas o problema é o dimensionamento. Não haverá avalanche noticiosa sobre o desastre ambiental como o volume de exclamações sobre Paris. O efeito geral, a médio prazo, é o de minimização.
Um dos problemas desse noticiário é que ele só reporta os espasmos dos conflitos políticos e econômicos. Só as erupções. E não o rio diário de impactos sociais e ambientais.
Precisaríamos criar uma cultura de acompanhar o sistema político e o sistema econômico de forma mais orgânica, para que não apenas enxuguemos gelo midiático a cada tragédia. E entendamos melhor o que leva a tudo isso. Sempre questionando o poder – e não as vítimas.
O mundo não está dividido entre “os loucos do Estado Islâmico” e “as necessárias empresas geradoras de emprego”. Que se multipliquem as nuances e os adjetivos. Sem ilusão de que nossa sociedade e nosso modo de vida seja superior.
Nós também temos (e no poder) nossos fanáticos, nossos obsessivo-compulsivos e nossos psicopatas. Basta de naturalizar um modelo violento de apropriação dos recursos naturais sem que os trabalhadores e a sociedade possam dizer:
“Não!!! Desengatilhem essa metralhadora”.

Alceu Luís Castilho

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

"Desejo..."!!!

Desejo, primeiro, que você ame,e que, amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer e esquecendo não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim, mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que você tenha amigos que, mesmo maus e inconsequentes,sejam corajosos e fiéis,e que pelo menos em um deles você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos,nem muitos, nem poucos, mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas.
E que, entre eles, haja pelo menos um que seja justo, para que você não se sinta demasiado seguro. Desejo, depois, que você seja útil, mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,quando não restar mais nada, essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,não com os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com os que erram muito e irremediavelmente,e que fazendo bom uso dessa tolerância, você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,não amadureça depressa demais,e que, sendo maduro, não insista em rejuvenescer,e que, sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste.não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra que o riso diário é bom,o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra,com a máxima urgência, acima e a despeito de tudo, que existem oprimidos, injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato, alimente um cuco e ouça o joão-de-barroerguer triunfante o seu canto matinal, porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente, por mais minúscula que seja,e acompanhe o seu crescimento, para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano coloque um pouco dele na sua frente e diga "isso é meu", só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra, por ele e por você, mas que se morrer, você possa chorar sem se lamentar, sofrer e sem se culpar.
Desejo por fim que você, sendo um homem, tenha uma boa mulher,e que, sendo uma mulher,tenha um bom homem e que se amem hoje, amanhã e no dia seguinte,e quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda haja amor para recomeçar...
E se tudo isso acontecer, não tenho mais a te desejar.

Victor Hugo

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

"Amar Ou Ser Amado?"!!!

Que é o que mais deseja e mais estima o amor: ver-se conhecido ou ver-se pago?
É certo que o amor não pode ser pago, sem ser primeiro conhecido; mas pode ser conhecido, sem ser pago. E considerando divididos estes dois termos, não há dúvida que mais estima o amor e melhor lhe está ver-se conhecido que pago.
Porque o que o amor mais pretende, é obrigar; o conhecimento obriga, a paga desempenha. Logo muito melhor lhe está ao amor ver-se conhecido que pago; porque o conhecimento aperta as obrigações, a paga e o desempenho desata-as.
O conhecimento é satisfação do amor próprio; a paga é satisfação do amor alheio. Na satisfação do que o amor recebe, pode ser o afeto interessado; na satisfação do que comunica, não pode ser senão liberal. Logo, mais deve estimar o amor ter segura no conhecimento a satisfação da sua liberalidade, que ver duvidosa na paga a fidalguia do seu desinteresse.
O mais seguro crédito de quem ama, é a confissão da dívida no amado; mas como há-de confessar a dívida, quem a não conhece?
Mais lhe importa logo ao amor o conhecimento que a paga; porque a sua maior riqueza é ter sempre individado a quem ama.
Quando o amor deixa de ser credor, só então é pobre.
Finalmente, ser tão grande o amor que se não possa pagar, é a maior glória de quem ama: se esta grandeza se conhece, é glória manifesta; se não se conhece, fica escurecida, e não é glória.
Logo, muito mais estima o amor, e muito mais deseja e muito mais lhe convém a glória de conhecido, que a satisfação de pago.

Padre António Vieira


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

"Vida Exterior Simples e Modesta"!!!

Uma vida exterior simples e modesta só pode fazer bem, tanto ao corpo como ao espírito.
Não creio de modo algum na liberdade do ser humano, no sentido filosófico.
Cada um age não só sob pressão exterior como também de acordo com a sua necessidade interior.
O pensamento de Schopenhauer: "O homem pode, na verdade, fazer o que quiser, mas não pode querer o que quer", impressionou-me vivamente desde a juventude e tem sido para mim um consolo constante e uma fonte inesgotável de tolerância.
Esse conhecimento suaviza beneficamente o sentimento de responsabilidade levemente inibitório e faz com que não tomemos demasiado a sério, para nós e para os outros, uma concepção de vida que justifica de modo especial a existência do humor.
Do ponto de vista objetivo, pareceu-me sempre desprovido de senso querer-se indagar sobre o sentido ou a finalidade da própria existência ou da existência da criação. E, no entanto, cada homem tem certos ideais, que o orientam nos seus esforços e juízos. Neste sentido o bem-estar e a felicidade nunca me pareceram um fim em si (chamo a esta base ética o ideal da vara de porcos).
Os ideais que me iluminavam e me encheram incessantemente de alegre coragem de viver foram sempre a bondade, a beleza e a verdade.
Sem o sentimento de harmonia com aqueles que têm as mesmas convicções, sem a indagação daquilo que é objetivo e eternamente inatingível no campo da arte e da investigação científica, a vida ter-me-ia parecido vazia.
Os fins banais do esforço humano: propriedade, êxito exterior e luxo pareceram-me desprezíveis desde jovem.

Albert Einstein

sábado, 7 de novembro de 2015

"O Que É Serenidade?"!!!

O termo serenidade costuma estar associado a mais de um significado, sendo que o primeiro deles tem a ver com a capacidade de algumas pessoas de lidar com docilidade e tolerância com as situações mais adversas, especialmente aquelas que não dependem de nós.
Muitas vezes nos angustiamos e perdemos a serenidade quando nos sentimos pressionados por expectativas que nós mesmos produzimos em relação aos nossos projetos; é preciso cautela para que nossos planos de futuro, nossos sonhos e esperanças não se transformem em pesadelos e fontes de tensão e de decepções.
Os que fazem planos mais realistas sofrem menos e se aproximam mais da serenidade.
A serenidade corresponde a um estado de espírito no qual nos encontramos razoavelmente em paz, conciliados com o que somos e temos, com nossa condição de humanos falíveis e mortais. É claro que tudo isso depende de termos atingido uma razoável evolução emocional e mesmo moral: não convém nos compararmos com o que são ou tem as outras pessoas, não é bom nos revoltarmos com o fato de não sermos exatamente como gostaríamos; conciliados com nossas limitações, podemos usufruir da melhor maneira possível as potencialidades que temos.
Um aspecto que considero muito importante para a questão da serenidade é a competência dos indivíduos para lidar com o tempo.
Um exemplo disso é a inquietação que toma conta de muitos quando, presos no trânsito, não conseguem chegar a um encontro na hora marcada. Apesar do atraso não ser da responsabilidade deles, sofrem e se sentem por vezes até mesmo culpados pelo que está acontecendo. Chegam ao local esbaforidos e demoram um bom tempo para se recuperarem de um problema que, como regra, não tem a menor importância concreta.
Outra peculiaridade dessa dificuldade de lidar com o tempo própria da maioria das pessoas tem a ver com a condição de quem espera um acontecimento, o resultado de uma prova que irá indicar sua aprovação – ou não – em um concurso, a expectativa nervosa diante do resultado de um exame médico que irá dizer da sua condição de saúde. Saber esperar é uma das virtudes mais raras que tenho conhecido e certamente contribui enormemente para que uma pessoa desenvolva esse estado de calmaria correspondente à serenidade. Sim, porque é fato que, de certa forma, estamos continuamente esperando eventos que irão influenciar nossas ações futuras.
O momento presente é sempre uma ficção: vivemos entre as lembranças do passado e a esperança de acontecimentos futuros que buscamos, mais ou menos ativamente, alcançar. A regra é que estejamos indo atrás de alguns objetivos, perseguindo-os com mais ou menos determinação e persistência.
A maior parte das pessoas se sente muito triste quando está sem projetos, apenas usufruindo dos prazeres momentâneos que suas vidas oferecem.
Somos pouco competentes para vivenciar o ócio. Esse estado de não querer nada, não estar buscando nada e que os filósofos antigos consideravam como muito criativo é algo gerador de um estado de alma que chamamos de tédio e que não deixa de ser uma forma peculiar de depressão.
No tédio nos perguntamos acerca do sentido da vida e, como não temos meios de responder a essa pergunta, nos deprimimos.
De uma certa forma, fazemos tudo o que fazemos com o objetivo de fugir do ócio e do tédio que o acompanha. Mesmo nos períodos de férias percebidas como merecidas – por termos sido capazes de produzir bastante – temos que nos ocupar: abandonamos nossos afazeres habituais e nos entretemos com a visita a lugares que não conhecemos, com a prática de esportes exigentes, com a leitura…
Aqueles que não são capazes de se deleitar com essas outras ocupações, tendem a fazer uso excessivo do álcool ou de outras drogas. A verdade é que poucos são os que conseguem ficar em paz em prolongada inatividade.
Por outro lado, perseguir objetivos com obstinação e aflição de alcançá-los o quanto antes também subtrai a serenidade.
Assim, perdemos a serenidade quando andamos muito devagar, perto da condição do ócio – que traz o tédio e a depressão – e também quando nos tornamos angustiados pela pressa de atingirmos logo nossas metas. Mais uma vez, a sabedoria, a virtude está no meio, naquilo que Aristóteles chamava de temperança: cada um parece ter uma “velocidade ideal”, de modo que se andar muito abaixo dela tenderá a se deprimir, ao passo que se andar muito acima dela tenderá a ficar muito ansioso. Interessa pouco comparar nossa velocidade com a dos outros, posto que só estaremos bem quando estivermos em nosso ritmo, qualquer que seja ele.
Conhecer a si mesmo implica, entre outras coisas, conhecer a velocidade na qual nos sentimos confortáveis e conseguimos andar com competência e serenidade.

Flávio Gikovate

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

"O Homem E A Mulher"!!!

O homem é a mais elevada das criaturas...
A mulher é o mais sublime dos ideais.
O homem é o cérebro... A mulher é o coração.
O cérebro fabrica a luz... O coração, o amor.
A luz fecunda... O amor ressuscita.
O homem é forte pela razão... A mulher é invencível pelas lágrimas.
A razão convence... As lágrimas comovem.
O homem é capaz de todos os heroísmos... A mulher, de todos os martírios.
O heroísmo enobrece... O martírio sublima.
O homem é um código... A mulher é um evangelho.
O código corrige... O evangelho aperfeiçoa.
O homem é um templo... A mulher é o sacrário.
Ante o templo nos descobrimos... Ante o sacrário nos ajoelhamos.
O homem pensa... A mulher sonha.
Pensar é ter , no crânio, uma larva.. Sonhar é ter , na fronte, uma auréola.
O homem é um oceano... A mulher é um lago.
O oceano tem a pérola que adorna... O lago, a poesia que deslumbra.
O homem é a águia que voa... A mulher é o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço... Cantar é conquistar a alma.
Enfim, o homem está colocado onde termina a terra...
A mulher, onde começa o céu.

Victor Hugo

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

"Os Mesmos Erros"!!!

Mesmo um exame superficial da história revela que nós, seres humanos, temos uma triste tendência para cometer os mesmos erros repetidas vezes.
Temos medo dos desconhecidos ou de qualquer pessoa que seja um pouco diferente de nós.
Quando ficamos assustados, começamos a ser agressivos para as pessoas que nos rodeiam.
Temos botões de fácil acesso que, quando carregamos neles, libertam emoções poderosas.
Podemos ser manipulados até extremos de insensatez por políticos espertos.
Deem-nos o tipo de chefe certo e, tal como o mais sugestionável paciente do terapeuta pela hipnose, faremos de bom grado quase tudo o que ele quer, mesmo coisas que sabemos serem erradas.

Carl Sagan

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

"Interconectados... Intersendo"!!!

A versão japonesa da fábula da tartaruga e do coelho é um tanto quanto diferente daquele da minha infância brasileira. Eu a ouvi há poucos dias do Reverendo Miura, que veio do Japão nos visitar.
Conta-se que a tartaruga e o coelho foram apostar uma corrida.
O coelho saiu na frente e quando estava no topo de um morro olhou para trás e viu a tartaruga lá longe, tão longe que ele resolveu deitar e dormir.
Passo a passo a tartaruga passou pelo coelho adormecido e chegou em primeiro lugar.
No Japão essa fábula é ensinada para enfatizar a importância da persistência, paciência, continuidade.
No entanto, quando essa história foi contada na Índia houve quem dissesse:
“A tartaruga foi má. Sabe por que? Porque ela não acordou o coelho.”
São maneiras diferentes de se interpretar a mesma história.
Talvez a tartaruga devesse ter parado e verificado se o coelho estava bem antes de continuar caminhando lenta e continuamente.
A história do Brasil era diferente. A tartaruga enganava o coelho e chegava primeiro.
Talvez por isso temos tantas pessoas envolvidas na corrupção. Não paramos para ajudar como na Índia, país pobre e sofredor. Nem vamos passo a passo até nossos objetivos, como no Japão, país próspero.
Como seria a versão de Buda?
Saíram juntos o coelho e a tartaruga.
Não se preocupariam em ganhar, mas em criar harmonia com sua passagem. Ofereceriam o prêmio um ao outro, pois não haveria perdedor...
Um ganharia pela velocidade. Outro pela persistência.
A tartaruga veria o coelho sair rapidamente. Da poeira levantada onde nem suas patinhas poderiam ser encontradas, a tartaruga apreciando, cada passo, flor, estrada se apiedaria do amigo que na grande correria se esquecia de ver cada detalhe sagrado.
O coelho por sua vez, pernas fortes e longas, se preocupava com a amiga tartaruga, de casco pesado e pernas curtas. Estaria sendo absurda essa competição?
Olhava para trás e a via caminhando, lenta e decididamente. Parava o coelho e a esperava. Perguntava como estava. Juntos descansavam na sombra das árvores.
E o melhor é que não havia gol a obter, não havia corrida a ganhar. Tudo que havia era o prazer de viver. Cada um com seu passo, seu estilo, sem competir, caminhando o Caminho, sendo o Caminho iluminado.
E nessa caminhada iam encontrando pessoas e animais, árvores e minerais, água, terra, ar, fogo, tudo que existe e sempre se prontificando a ajudar e a procurar a maneira correta de fazer com que todos percebessem a beleza de caminhar o caminho sem começo e sem fim.
No budismo ambos seriam bodisatvas, seres iluminados disfarçados a mostrar o Caminho verdadeiro a todos os seres.
Essa versão me apetece e se parece sonho, fantasia, ilusão, utopia – é dessa matéria prima sagrada que a vida é celebrada.
Somos um com o mundo. O mundo é uno em nós.
Quando inspiramos o mundo inspira. Além da dualidade o que resta é a unidade.
A diversidade não é rival da unidade. Pelo contrário: no uno tudo está incluído. Cada parte, como um corpo de coração e pulmões, rins e fígado.
Outro monge, Reverendo Saikawa, bebeu de um copo de água. Era a água e eu...
Agora a água sou eu. Eu sou a água. "Interconectados. Intersendo".
Olhar capaz de ver com clareza luminosa como espelho de cristal.
Audição de ouvir com clareza sonora como espelho de cristal.
Assim com todos os sentidos. Tudo vendo, tudo ouvindo, todos os odores sentindo, todos os sabores, na pele o frio, o calor, as texturas.
Mas a mente precisa estar luminosa e aberta, pois se estiver cheia de si mesma não é capaz de se tornar flexível e sensível.
Tartaruga e coelho não se opõem. São... Intersendo.
Cada um é como é. Tem sua função e ação. Se tartaruga quiser ser coelho terá problemas dores, sofrimentos. Não aceitará a si mesma. Estará o tempo todo reclamando, se rejeitando, julgando, se rebaixando. Triste sina.
Se o coelho pensasse ser tartaruga, com uma casa nas costas a se proteger dos caçadores, seria triste seu fim.
Cada um é cada um. Tem valor e tem lugar. Nada é fixo. Não há melhor nem pior.
Há o que é correto em sua função e posição.
Ser humano, estrela, cão.
Somos todos apenas você.
E você sou eu.
Tartaruga e coelho. Além da competição.

Monja Coen Sensei