Somos Anjos e Mestres!
Todos nós sabemos alguma coisa que alguém, em algum lugar, precisa aprender e, por vezes, nós mesmos recordarmos.

sábado, 30 de janeiro de 2016

"O Homem Deformado Pela Sociedade"!!!

Formou Deus o homem, e o pôs num paraíso de delícias; tornou a formá-lo a sociedade, e o pôs num inferno de tolices. O homem — não o homem que Deus fez, mas o homem que a sociedade tem contrafeito, apertando e forçando em seus moldes de ferro aquela pasta de limo que no paraíso terreal se afeiçoara à imagem da divindade — o homem assim aleijado como nós o conhecemos, é o animal mais absurdo, o mais disparatado e incongruente que habita na terra.
Rei nascido de todo o criado, perdeu a realeza: príncipe deserdado e proscrito, hoje vaga foragido no meio de seus antigos estados, altivo ainda e soberbo com as recordações do passado, baixo, vil e miserável pela desgraça do presente.
Destas duas tão apostas atuações constantes, que já per si sós o tornariam ridículo, formou a sociedade, em sua vã sabedoria, um sistema quimérico, desarrazoado e impossível, complicado de regras a qual mais desvairada, encontrado de repugnâncias a qual mais aposta.
E vazado este perfeito modelo de sua arte pretensiosa, meteu dentro dele o homem, desfigurou-o, contorceu-o, fê-lo o tal ente absurdo e disparatado, doente, fraco, raquítico; colocou-o no meio do Éden fantástico de sua criação — verdadeiro inferno de tolices — e disse-lhe, invertendo com blasfemo arremedo as palavras de Deus Criador:
- De nenhuma árvore da horta comendo comerás:
- Porém da árvore da ciência do bem e do mal dela só comerás se quiseres viver.
Indigestão de ciência que não comutou seu mau estômago, presunção e vaidade que dela se originaram — tal foi o resultado daquele preceito a que o homem não desobedeceu como ao outro: tal é o seu estado habitual.
E quando as memórias da primeira existência lhe fazem nascer o desejo de sair desta outra, lhe influem alguma aspiração de voltar à natureza e a Deus, a sociedade, armada de suas barras de ferro, vem sobre ele, e o prende, e o esmaga, e o contorce de novo, e o aperta no ecúleo doloroso de suas formas...
Ou há de morrer ou ficar monstruoso e aleijão.

Almeida Garrett 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

"Aprendendo A Viver"!!!

Thoreau era um filósofo americano que, entre coisas mais difíceis de se assimilar assim de repente, numa leitura de jornal, escreveu muitas coisas que talvez possam nos ajudar a viver de um modo mais inteligente, mais eficaz, mais bonito, menos angustiado.
Thoreau, por exemplo, desolava-se vendo seus vizinhos só pouparem e economizarem para um futuro longínquo. Que se pensasse um pouco no futuro, estava certo. Mas "melhore o momento presente", exclamava. E acrescentava: "Estamos vivos agora".
E comentava com desgosto: "Eles ficam juntando tesouros que as traças e a ferrugem irão roer e os ladrões roubar".
A mensagem é clara: não sacrifique o dia de hoje pelo de amanhã. Se você se sente infeliz agora, tome alguma providência agora, pois só na sequência dos agoras é que você existe.
Cada um de nós, aliás, fazendo um exame de consciência, lembra-se pelo menos de vários agoras que foram perdidos e que não voltarão mais.
Há momentos na vida que o arrependimento de não ter tido ou não ter sido ou não ter resolvido ou não ter aceito, há momentos na vida em que o arrependimento é profundo como uma dor profunda.
Ele queria que fizéssemos agora o que queremos fazer. A vida inteira Thoreau pregou e praticou a necessidade de fazer agora o que é mais importante para cada um de nós.
Por exemplo: para os jovens que queriam tornar-se escritores mas que contemporizavam — ou esperando uma inspiração ou se dizendo que não tinham tempo por causa de estudos ou trabalhos — ele mandava ir agora para o quarto e começar a escrever.
Impacientava-se também com os que gastam tanto tempo estudando a vida que nunca chegam a viver. "É só quando esquecemos todos os nossos conhecimentos que começamos a saber".
E dizia esta coisa forte que nos enche de coragem: "Por que não deixamos penetrar a torrente, abrimos os portões e pomos em movimento toda a nossa engrenagem"?
Só em pensar em seguir o seu conselho, sinto uma corrente de vitalidade percorrer-me o sangue. Agora, meus amigos, está sendo neste próprio instante.
Thoreau achava que o medo era a causa da ruína dos nossos momentos presentes.
E também as assustadoras opiniões que nós temos de nós mesmos.
Dizia ele: "A opinião pública é uma tirana débil, se comparada à opinião que temos de nós mesmos". É verdade: mesmo as pessoas cheias de segurança aparente julgam-se tão mal que no fundo estão alarmadas. E isso, na opinião de Thoreau, é grave, pois "o que um homem pensa a respeito de si mesmo determina, ou melhor, revela seu destino".
E, por mais inesperado que isso seja, ele dizia: tenha pena de si mesmo. Isso quando se levava uma vida de desespero passivo. Ele então aconselhava um pouco menos de dureza para com eles próprios. O medo faz, segundo ele, ter-se uma covardia desnecessária. Nesse caso devia-se abrandar o julgamento de si próprio. "Creio", escreveu, "que podemos confiar em nós mesmos muito mais do que confiamos. A natureza adapta-se tão bem à nossa fraqueza quanto à nossa força". E repetia mil vezes aos que complicavam inutilmente as coisas — e quem de nós não faz isso? —, como eu ia dizendo, ele quase gritava com quem complicava as coisas:.. Simplifique! Simplifique!

Clarice Lispector


sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

"As Infelizes Necessidades Do Homem Civilizado"!!!

Um autor célebre, calculando os bens e os males da vida humana, e comparando as duas somas, achou que a última ultrapassa muito a primeira, e que tomando o conjunto, a vida era para o homem um péssimo presente. Não fiquei surpreendido com a conclusão; ele tirou todos os seus raciocínios da constituição do homem civilizado. Se subisse até ao homem natural, pode-se julgar que encontraria resultados muito diferentes; porque perceberia que o homem só tem os males que se criou para si mesmo, o que à natureza se faria justiça.
Não foi fácil chegarmos a ser tão desgraçados. Quando, de um lado, consideramos o imenso trabalho dos homens, tantas ciências profundas, tantas artes inventadas, tantas forças empregadas, abismos entulhados, montanhas arrasadas, rochedos quebrados, rios tornados navegáveis, terras arroteadas, lagos cavados, pantanais dissecados, construções enormes elevadas sobre a terra, o mar coberto de navios e marinheiros, e quando, olhando do outro lado, procuramos, meditando um pouco as verdadeiras vantagens que resultaram de tudo isso para a felicidade da espécie humana, só nos podemos impressionar com a espantosa desproporção que reina entre essas coisas, e deplorar a cegueira do homem, que, para nutrir o seu orgulho louco, não sei que vã admiração de si mesmo, o faz correr ardorosamente para todas as misérias de que é susceptível e que a benfazeja natureza havia tomado cuidado em afastar dele.
Os homens são maus, uma triste e contínua experiência dispensa a prova; entretanto, o homem é naturalmente bom, creio havê-lo demonstrado.
Que será, pois, que o pode ter depravado a esse ponto, senão as mudanças sobrevindas na sua constituição, os progressos que fez e os conhecimentos que adquiriu? Que se admire quanto se queira a sociedade humana, não será menos verdade que ela conduz necessariamente os homens a se odiarem entre si à proporção do crescimento dos seus interesses, a se retribuir mutuamente serviços aparentes, e a se fazer efetivamente todos os males imagináveis.
Que se pode pensar de um comércio em que a razão de cada particular lhe dita máximas diretamente contrárias àquelas que a razão pública prega ao corpo da sociedade, e em que cada um tira os seus lucros da desgraça do outro?
Não há, talvez, um homem abastado ao qual os seus herdeiros ávidos, e muitas vezes os seus próprios filhos, não desejem a morte, secretamente. Não há um navio no mar cujo naufrágio não constituísse uma boa notícia para algum negociante; uma só casa que um devedor de má fé não quisesse ver queimada com todos os documentos; um só povo que não se regozijasse com os desastres dos vizinhos.
É assim que tiramos vantagens do prejuízo dos nossos semelhantes, e que a perda de um faz quase sempre a prosperidade do outro. Mas, o que há de mais perigoso ainda é que as calamidades públicas são a expectativa e a esperança de uma multidão de particulares: uns querem as moléstias, outros, a mortalidade; outros, a guerra; outros, a fome.
O homem selvagem, quando acabou de comer, está em paz com toda a natureza, e é amigo de todos os seus semelhantes. Se, algumas vezes, tem de disputar o seu alimento, não chega nunca ao extremo sem ter antes comparado a dificuldade de vencer com a de encontrar noutro lugar a sua subsistência; e, como o orgulho não se mistura ao combate, ele termina por alguns socos. O vencedor come e o vencido vai procurar fortuna noutra parte, e tudo está pacificado. Mas, no homem da sociedade, é tudo bem diferente; trata-se, primeiramente, de prover ao necessário, depois, ao supérfluo. Em seguida, vêm as delícias, depois as imensas riquezas, e depois súbditos e escravos. Não há um momento de descanso.
O que há de mais original é que, quanto menos as necessidades são naturais e prementes, tanto mais as paixões aumentam, e o que é pior, o poder de as satisfazer. De sorte que, após longas prosperidades, depois de haver devorado muitos tesouros e desolado muitos homens, o meu herói acabará por tudo arruinar, até que seja o único senhor do universo. Tal é, abreviadamente, o quadro moral, senão da vida humana, pelo menos das pretensões secretas do coração de todo homem civilizado.
Comparai, sem preconceitos, o estado do homem civilizado com o do homem selvagem, e investigai, se o puderdes, como além da sua maldade, das suas necessidades e das suas misérias, o primeiro abriu novas portas à miséria e à morte.
Se considerardes os sofrimentos do espírito que nos consomem, as paixões violentas que nos esgotam e nos desolam, os trabalhos excessivos de que os pobres estão sobrecarregados, a moleza ainda mais perigosa à qual os ricos se abandonam, uns morrendo de necessidades e outros de excessos; se pensardes nas monstruosas misturas de alimentos, na sua perniciosa condimentação, nos alimentos corrompidos, nas drogas falsificadas, nas velhacarias dos que as vendem, nos erros daqueles que as administram, no veneno do vasilhame no qual são preparadas; se prestardes atenção nas moléstias epidêmicas oriundas da falta de ar entre multidões de seres humanos reunidos, nas que ocasionam a nossa maneira delicada do viver, as passagens alternadas das nossas casas para o ar livre, o uso de roupas vestidas ou despidas sem precauções, e todos os cuidados que a nossa sensualidade excessiva transformou em hábitos necessários, e cuja negligência ou privação nos custa imediatamente a vida ou a saúde; se puserdes em linha de conta os incêndios e os tremores de terra que, consumindo ou derrubando cidades inteiras, fazem morrer os habitantes aos milhares.
Em uma palavra, se reunirdes os perigos que todas essas causas acumulam continuamente sobre as nossas cabeças, sentireis como a natureza nos faz pagar caro o desprezo que temos dado às suas lições.

Jean-Jacques Rousseau


quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

"A Verdadeira Divisão Humana"!!!

Sois vós um daqueles a quem se chama feliz?
Pois bem, vós estais tristes todos os dias.
Cada dia tem uma grande amargura e um pequeno cuidado.
Ontem tremíeis pela saúde de alguém que vos é caro, hoje receais pela vossa; amanhã será uma inquietação de dinheiro, depois a diatribe de um caluniador ou a infelicidade de um amigo, mais tarde o mau tempo que faz, qualquer coisa que se quebrou ou se perdeu, uma vez um prazer que a vossa consciência e a coluna vertebral reprovam, outra vez a marcha dos negócios públicos.
Isto sem contar as penas de coração. E assim sucessivamente.
Uma nuvem que se dissipa e outra que se forma logo. Apenas um dia em cem de plena felicidade e cheio de sol. E sois desse pequeno número que é feliz!
Quanto aos outros homens, envolve-os a noite estagnante.
Os espíritos refletidos usam pouco desta locução: os felizes e os infelizes. Neste mundo, evidentemente vestíbulo de outro, não há felizes.
A verdadeira divisão humana é esta: os iluminados e os tenebrosos.
Diminuir o número dos tenebrosos e aumentar o dos iluminados, eis o fim.
É por isso que nós gritamos: ensino, ciência! Aprender a ler, é alumiar com fogo; toda a sílaba soletrada cintila.
De resto, quem diz luz não diz, necessariamente, alegria. Também se sofre com a luz; em demasia queima. A chama é inimiga da asa. Queimar-se sem deixar de voar, é o prodígio do gênio.
Quando conhecerdes e quando amardes, sofrereis ainda. O dia nasce em lágrimas. Os iluminados choram quando mais não seja sobre os tenebrosos.

Victor Hugo


segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

"A Quem Julgar Meu Caminho... Empresto Meus Sapatos"!!!

Não devemos deixar que os julgamentos alheios condicionem a nossa vida.
Embora as críticas construtivas possam nos ajudar a crescer, devemos aprender a ignorar aquelas que só pretendem nos fazer mal...
A quem julgar meu caminho, empresto meus sapatos
Quantas vezes você já teve que enfrentar os julgamentos alheios?
Em algumas ocasiões, não conseguimos nem lidar com o caminho que somos obrigados a seguir todos os dias, e muito menos “carregar” também as opiniões de terceiros sobre o que fazemos ou deixamos de fazer.
Dizer que isso não nos afeta pode ser uma mentira.
Fingir que somos surdos diante destes comentários que se atrevem a julgar nossas ações como se tivessem o dom da sabedoria universal nem sempre é fácil. Principalmente se a opinião vier de pessoas importantes em nossas vidas: nossa família, nossos amigos, etc.
É claro que ninguém será um autêntico amigo ou um familiar importante se se atreve a nos julgar sem conhecer nossas emoções, ou todos os momentos vividos que carregamos em nossas costas e em nosso coração.
Empreste a eles seus sapatos, porque ninguém conhece como você a dor das pedras que você tem carregado, os rios que tem cruzado, às vezes sem pedir ajuda a ninguém.
Você não é somente essa mulher cujo reflexo vê no espelho. Não é simplesmente a sua forma de vestir, nem as palavras que profere aos demais.
Você é o seu caminho e todas as suas experiências vividas e integradas no mais fundo do seu ser… Essas sobre as quais ninguém sabe, somente você, e que ninguém mais deve conhecer se você não quiser.
Ninguém anda por este mundo falando a cada momento de tudo que teve que superar, ninguém tem motivos para proclamar as suas decepções, suas derrotas ou suas vitórias. Então… Por que há pessoas que se atrevem a nos julgar sem saber?
As pessoas acostumadas a julgar os demais costumam ser, em geral, as mais frustradas.
Costumam ser personalidades insatisfeitas com elas mesmas, que projetam, por sua vez, a sua necessidade de controle e intervenção em vidas alheias.
É comum que muitos de nossos familiares tenham o costume de nos julgar. “Você confia demais, por isso essas coisas acontecem com você”, “Você fez tudo errado desde o começo, você acredita que pode enfrentar tudo, e não é assim”.
Julgam-nos com a intenção de nos ajudar e nos oferecer um aprendizado, mas na realidade desejam nos controlar e fazer com que nos “encaixemos” na sua forma de pensar, nas suas diretrizes.
Em algumas ocasiões, quem julga o seu caminho tenta justificar a própria vida criticando os demais. É algo muito comum.
Na realidade, quando nos julgam não nos dão argumentos válidos que sirvam de ajuda. Quase sempre buscam o ataque, a afronta ou o desprezo. Seu raciocínio costuma ser muito reducionista.
Falta de autocrítica. Não são capazes de valorizar seus próprios atos, suas próprias palavras para ver que cometem erros ou que são capazes de causar dano. Limitam-se a projetar toda a crítica nos demais.
Em geral, as pessoas acostumadas a julgar o nosso caminho não têm uma vida autêntica, de hobbies e paixões que os ajudem a relativizar as coisas e deixar de focar tanto nos demais.
Com frequência dizemos que “isso não me afeta”, e realmente pode ser assim, sempre que o julgamento seja feito por um colega de trabalho ou por uma pessoa com a qual não temos um vínculo íntimo. Iremos esquecer o seu comentário com facilidade.
Entretanto, o que acontece quando um amigo, um parceiro ou um familiar é capaz de julgar o seu caminho?
Nestes casos é comum nos sentirmos ofendidos, e até feridos. A primeira coisa a fazer é manter a calma e focar em si mesma através de verbalizações como as seguintes:
“Eu sei quem sou, eu sei o que superei, e me sinto orgulhosa de cada passo dado, de cada aprendizado obtido com meus erros”. “Ninguém, a não ser eu, tem o direito de me julgar, porque somente eu sei o que sinto e como sou feliz com a minha forma de ser e com tudo que consegui”.
Uma vez que você tenha reafirmado e protegido a sua autoestima, evite lançar comentários para ferir os outros. Se demonstrarmos desprezo ou raiva, os sentimentos negativos demorarão mais em desaparecer e nos machucarão ainda mais.
Demonstre decepção. Deixe claro que ninguém tem o direito de julgar você desta maneira e que o simples fato de fazê-lo não significa que o conhecem.
Quem se atreve a criticar o seu caminho e todas as trilhas pelas quais você passou não foi um bom companheiro de viagem. E não importa se foi a sua mãe, um irmão ou o seu parceiro.
Quem não aceita que você tenha errado em alguma ocasião e o julga por isso claramente tem uma autoestima muito baixa. Quem vê a si mesmo como alguém que nunca comete erros ou toma más decisões certamente não tem autocrítica e empatia.
Se no dia a dia você só ouvir julgamentos de valor por parte daqueles que o rodeiam, ao final você se sentirá escravizado pelas opiniões dos outros.
Não permita que isso aconteça.
Nestes casos você deve refletir e decidir se não vale a pena impor distância daqueles que são incapazes de ver o quanto você vale e a luz que você transmite.

Autor Desconhecido