Somos Anjos e Mestres!
Todos nós sabemos alguma coisa que alguém, em algum lugar, precisa aprender e, por vezes, nós mesmos recordarmos.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

"Mudar É Difícil"!!!

Mudar é difícil porque requer enorme energia positiva para que uma pessoa consiga avançar na direção de seus sonhos. Isso em função dela encontrar um fortíssimo “vento” contrário, constituído por inúmeros fatores que tendem a contribuir para a inércia.
O primeiro deles é o medo de qualquer novidade, uma vez que num terreno desconhecido sempre estamos sujeitos a sofrimento.
O segundo fator, nada desprezível, é a culpa, uma vez que as mudanças que interferem na forma como a pessoa interage sempre poderá suprimir algum benefício – indevido – usufruído pelo que irá reclamar e se lamentar.
O terceiro é a impaciência e o imediatismo: é essencial entender que o caminho das mudanças é longo, rico em obstáculos e atalhos que não levam a parte alguma (e que, por isso mesmo devem ser evitados); é preciso boa tolerância a contrariedades e dócil aceitação dos revezes que inevitavelmente permearão a trajetória na direção das mudanças que, no fim, serão bem sucedidas e compensadoras.
Um ingrediente que não pode ser negligenciado e que interfere muito negativamente no processo de mudança são os “ganhos secundários”, os benefícios imediatos que derivam de atos aparentemente nocivos.
É o caso das compulsões, hábitos dolorosos ou nefastos mas que atenuam o nervosismo e a ansiedade; são exemplos o roer das unhas em situações de aflição, o ato de comer compulsivamente quando surge a ansiedade, tristeza ou sensação de desamparo. Comer compulsivamente é grave, pois o alívio imediato do sofrimento gera maior ganho de peso, o que reforça o sofrimento e pede mais alimento: os círculos viciosos são terríveis e têm que ser evitados a qualquer custo.
No caso dos vícios, compulsões com grande gratificação imediata e malefícios previstos para o médio ou longo prazo – e que pavimentam sólidos roteiros no sistema nervoso central, roteiros esses que pedem repetição regular – a situação é ainda mais dramática e difícil de ser revertida.
Porém, tudo é sempre possível desde que seja essa a determinação firme da pessoa.
Há ganhos secundários na generosidade, condição na qual a pessoa se envaidece por ser forte e se achar com algum poder sobre os que dependem dela.
Há ganho óbvio no egoísmo, onde o indivíduo pode se considerar muito esperto por levar vantagem e supor que está manipulando os mais generosos através da intimidação ou ao provocar culpa. Essas e outras condutas difíceis de serem alteradas desagradam intimamente os que persistem nelas; porém, os ganhos imediatos são sólidos e, em muitos casos, reforçados pelos comportamentos e cobranças daqueles com quem convivem.
É necessária muita vontade para conseguir abrir mão de algum benefício imediato em favor de outros maiores, mas que só serão alcançados em um futuro nem sempre muito próximo. Isso corresponde ao que Freud chamava de renúncia ao princípio do prazer (imediatista) em favor do princípio da realidade (benefício maior a ser alcançado lá adiante).
Viver de acordo com o princípio da realidade é privilégio das pessoas mais maduras, pacientes e tolerantes. Não convém subestimar aquelas situações em que o benefício a ser alcançado está muito distante e os prazeres imediatos associados a determinados comportamentos são enormes.
O melhor exemplo é o do consumo das bebidas alcoólicas de modo regular e exagerado. O vício que vai se estabelecendo é insidioso e muitas vezes os que gostam das sensações próprias da embriaguez desconsideram essa possibilidade – ou a colocam muito longe deles.
Os benefícios imediatos bem conhecidos: sensação de alegria e bem-estar, euforia e, para muitos, aumento do desejo sexual; extroversão e aparente facilidade na socialização, o que é tido como fundamental, por exemplo, para um adolescente tímido e que não se sente com coragem de abordar uma moça que o encantou; outros ainda gostam do efeito do álcool porque se sentem com mais coragem para lutar e reivindicar seus direitos. E os malefícios? Talvez alguma doença degenerativa cerebral ou hepática dentro de décadas.
É difícil renunciar a tantas vantagens em nome de uma maior chance de longevidade... Isso especialmente para os mais moços que, como regra, se sentem imortais.

Flávio Gikovate

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

"Reverência Ao Destino"!!!

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.
Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.
Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso.
E com confiança no que diz.
Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer ou ter coragem pra fazer.
Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende.
E é assim que perdemos pessoas especiais.
Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração.
Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.
Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.
Fácil é dizer "oi" ou "como vai?"
Difícil é dizer "adeus", principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...
Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida.
Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.
Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só.
Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar, e aprender a dar valor somente a quem te ama.
Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.
Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las.
Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.
Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta ou querer entender a resposta.
Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.
Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma, sinceramente, por inteiro.
Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.
Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém, saber que se é realmente amado.
Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.
Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 22 de novembro de 2014

"Não Nascemos Prontos"!!!


 A satisfação conclui, encerra, termina... A satisfação não deixa margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento... Não nascemos prontos...
O sempre surpreendente Guimarães Rosa dizia: "O animal satisfeito dorme".
Por trás dessa aparente obviedade está um dos mais profundos alertas contra o risco de cairmos na monotonia existencial, na redundância afetiva e na indigência intelectual. O que o escritor tão bem percebeu é que a condição humana perde substância e energia vital toda vez que se sente plenamente confortável com a maneira como as coisas já estão, rendendo-se à sedução do repouso e imobilizando-se na acomodação.
A advertência é preciosa: não esquecer que a satisfação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento. A satisfação acalma, limita, amortece.
Por isso, quando alguém diz "Fiquei muito satisfeito com você" ou "Estou muito satisfeita com seu trabalho", é assustador. O que se quer dizer com isso?
Que nada mais de mim se deseja? Que o ponto atual é meu limite e, portanto, minha possibilidade? Que de mim nada mais além se pode esperar? Que está bom como está? Assim seria apavorante; passaria a idéia de que desse jeito já basta.
Ora, o agradável é alguém dizer "seu trabalho (ou carinho, ou comida, ou aula, ou texto, ou música etc) é bom, fiquei muito insatisfeito e, portanto, quero mais, quero continuar, quero conhecer outras coisas".
Um bom filme não é exatamente aquele que, quando termina, nos deixa insatisfeitos, parados, olhando, quietos, para a tela, enquanto passam os letreiros, desejando que não cesse? Um bom livro não é aquele que, quando encerramos a leitura, permanece um pouco apoiado no colo e nos deixa absortos e distantes, pensando que não poderia terminar? Uma boa festa, um bom jogo, um bom passeio, uma boa cerimônia não é aquela que queremos que se prolongue?
Com a vida de cada um e de cada uma também tem de ser assim...
Afinal de contas, não nascemos prontos e acabados. Ainda bem, pois estar satisfeito consigo mesmo é considerar-se terminado e constrangido ao possível da condição do momento.
Quando crianças (só as crianças?), muitas vezes, diante da tensão provocada por algum desafio que exigia esforço (estudar, treinar, emagrecer etc), ficávamos preocupados e irritados, sonhando e pensando: Por que a gente já não nasce pronto, sabendo todas as coisas? Bela e ingênua perspectiva.
É fundamental não nascermos sabendo nem prontos... O ser que nasce sabendo não terá novidades, só reiterações. Somos seres de insatisfação e precisamos ter nisso alguma dose de ambição; todavia, ambição é diferente de ganância, dado que o ambicioso quer mais e melhor, enquanto que o ganancioso quer só para si próprio.
Nascer sabendo é uma limitação porque obriga a apenas repetir e, nunca, a criar, inovar, refazer, modificar. Quanto mais se nasce pronto, mais se é refém do que já se sabe e, portanto, do passado; aprender sempre é o que mais impede que nos tornemos prisioneiros de situações que, por serem inéditas, não saberíamos enfrentar.
Diante dessa realidade, é absurdo acreditar na idéia de que uma pessoa, quanto mais vive, mais velha fica... Para que alguém quanto mais vivesse, mais velho ficasse, teria de ter nascido pronto e ir se gastando...
Isso não ocorre com gente, mas com fogão, sapato, geladeira. Gente não nasce pronta e vai se gastando... Gente nasce não-pronta e vai se fazendo.
Eu, a cada ano, sou a minha mais nova edição (revista e, às vezes, um pouco ampliada)... O mais velho de mim (se é o tempo a medida) está no meu passado, não no presente.
Demora um pouco para entender tudo isso, como falou o mesmo Guimarães...
"Não convém fazer escândalo de começo... Só aos poucos é que o escuro é claro"...

Mário Sérgio Cortella

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

"Somos Parecidos com Computadores"!!!




Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei. Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia. Eu me explico.
Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma.
Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakovski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se. Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakovski suicidou-se. Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.
Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as ideias comportam-se bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem-unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado; nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme!) ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou. Pensar é coisa muito perigosa...
Não, saúde mental elas não tinham. Eram lúcidas demais para isso. Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata. Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental. Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvi falar de político que tivesse estresse ou depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.
Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos.
Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente "equipamento duro", e a outra denomina-se software, "equipamento macio". O hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. O software é constituído por entidades "espirituais" - símbolos que formam os programas e são gravados nos disquetes.
Nós também temos um hardware e um software. O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória.
Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo "espirituais", sendo que o programa mais importante é a linguagem.
Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software. Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que chamar psiquiatras e neurologista, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam. Não se conserta um programa com chave de fenda. Porque o software é feito de símbolos, somente símbolos podem entrar dentro dele. Assim, para lidar com o software há que fazer uso de símbolos. Por isso, quem trata das perturbações do software humano nunca se vale de recursos físicos para tal. Suas ferramentas são palavras, e eles podem ser poetas, humoristas, palhaços, escritores, gurus, amigos e até mesmo psicanalistas.
Acontece, entretanto, que esse computador que é o corpo humano tem uma peculiaridade que o diferencia dos outros: o seu hardware, o corpo, é sensível às coisas que o seu software produz. Pois não é isso que acontece conosco? Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos do Drummond e o corpo fica excitado.
Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e os acessórios, o hardware, tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e de se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta e se arrebenta de emoção! Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio: a música que saía do seu software era tão bonita que o seu hardware não suportou.
Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, saúde mental até o fim dos seus dias.
Opte por um soft modesto. Evite as coisas belas e comoventes. A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música. Brahms e Mahler são especialmente contraindicados. Já o rock pode ser tomado à vontade.
Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago? Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais.
Seguindo esta receita você terá uma vida tranquila, embora banal. Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é.
E, em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram.

Rubem Alves

terça-feira, 18 de novembro de 2014

"Vende-Se Grande Amor... Peça Já O Seu"!!!

Alguns procurariam nos supermercados, como item de necessidade básica.
Outros procurariam em perfumarias, como item para ocasiões especiais.
Há ainda os que buscariam em lojas de roupas, como item para melhorar a aparência. Enquanto outros arriscariam as farmácias, tentando encontrar, enfim, o remédio para suas dores ou a cura para suas doenças.
Parece piada, mas infelizmente é verdade que muitas pessoas ainda acreditam que é possível encontrar um "grande amor" prontinho para ser consumido, e se iludem com essa possibilidade, desperdiçando a chance incrível de encontrar suas próprias ferramentas.
Não se empenham em inverter o olhar... Insistem em continuar olhando para fora, onde não há respostas. Pelo menos não as certas... Não as delas.
E para completar o quadro de fracasso e frustração, insistem também em se lamentar da falta de sorte ou de um mundo que não se alinha aos seus valores mais nobres, elas querem dizer.
Que pena! Perdem a incrível chance de arrancar, de uma vez por todas, essa máscara de vítima ou de quem não se importa. Desperdiçam a fantástica oportunidade de abrir suas portas e janelas, abrir sua mente e seu coração, e simplesmente deixar a luz entrar. Acender-se. Enfim, enxergar-se!
E feito repetições de regras, comportamentos e desejos que não são seus, elas continuam procurando amores prontos. Chegam a apostar que vão encontrar algum sob medida. Feito especialmente para elas. Como se ao menos soubessem quais são as suas próprias medidas.
Não sabem! Não se sabem sob os ângulos mais importantes...
Porque se ver dá trabalho... Pede ajustes... Requer um olhar acolhedor e justo... É preciso ter amor... Por si, pelo outro e pela vida.
Sim, dá mesmo trabalho. Não é fácil. Mas é simples, como sempre digo.
Quanto mais simplificamos, mais fácil se torna.
O problema é que a maioria prefere o complicado. O difícil mesmo.
Alguns até se encantam pelo impossível. Sabe qual o nome para esta dinâmica? Sabotagem! E contra si mesmo! Ama quem está longe! Ama quem está comprometido! Ama quem não quer saber de amor! Ama a história que não vai rolar! E assim o ciclo se repete!
Mas o pior é que tais pessoas continuam procurando fora, como se existissem mesmo prateleiras expondo amores à venda. E o que eu mais queria era ser capaz de fazê-las entender que o caminho é o de dentro. E que um grande amor não é resultado de uma busca insana e desconecta. É consequência de um encontro leve e absolutamente essencial, mas que acontece primeiro consigo mesmo e com sua noção de merecimento!


Rosana Braga

sábado, 15 de novembro de 2014

"O Milagre da Empatia"!!!


O mais difícil dos sentimentos é o sentimento do outro...
O outro é ele e és tu.
Ele é realmente o outro ou é a parte tua que não queres ser, saber, ver ou aceitar? Tu és o outro para os outros, logo és igual a ele.
Todos somos “outros”. E, no entanto o outro invade, ameaça, mastiga de boca aberta, irrita, eriça, machuca.
Até teu filho é o outro. E tu, pobre pretensioso, pensas que ele é teu...
O sentimento do outro quantas vezes te faz parar, meditar, deixar de fazer o melhor que tens ou podes, só porque o outro é o mistério que te ameaça.
Por que o outro te ameaça? Porque és tu. Quanto maior teu sentimento do outro, maior será teu o sentimento do melhor e do pior que tens.
O sentimento do outro não é sentir por ele... É saber o que ele sente...
É avaliar o como e o quanto ele sente.
O sentimento do outro não é o masoquismo de fazer teu, um sofrimento que só a ele pertence. É dimensionares a medida certa do sofrimento dele e só poderes ajudar porque não fazes teu um sofrimento que é alheio mas o entendes e sentes, na exata medida de sua extensão, sem as marcas e as limitações da dor enquanto dói. Não é ficar como o outro... É ficar com o outro.
O sentimento do outro é quase um milagre. Cuidado com ele, vai te obrigar a ceder, a entender. Atrapalhará para sempre teu desejo, tua gula e vontade.
Ele freará tua vitória, calará teu brilho e tua boca, impedirá tua vaidade. Pode, até, te pregar a suprema peça de te fazer entender os detestáveis. Cuidado com ele! Quanto maior, mais anulador!
Quanto mais anulador... Mais repleto de grandeza.
O sentimento do outro, talvez te faça tímido, herói, cais, antena.
Ser antena dilacera, sabias? O sentimento do outro te exigirá nervos, músculos, e uma paciência de anacoreta. Quanto mais o outro o perceba em ti, mais ele te invadirá, cobrará, exigirá, até quando, exaurido, ainda consigas juntar os cacos do teu cansaço para, ainda assim, prosseguir.
O sentimento do outro é tua glória e tua tragédia! Tanto mais o terás quanto encontres em ti os escaninhos escurecidos do que és e, ao mesmo tempo as luzes do que, ainda puro, brilha em ti.
O sentimento do outro é o conteúdo oculto do amor ao Próximo.

Arthur da Távola

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

"O Conceito De Pós-Modernidade"!!!


O conceito de pós-modernidade tornou-se nos últimos anos, um dos mais discutidos nas questões relativas à arte, à literatura ou à teoria social, mas a noção de pós-modernidade reúne rede de conceitos e modelos de pensamento em “pós”, dentre os quais podemos elencar alguns: sociedade pós-industrial, pós-estruturalismo, pós-fordismo, pós-comunismo, pós-marxismo, pós-hierárquico, pós-liberalismo, pós-imperialismo, pós-urbano, pós-capitalismo. A pós-modernidade coloca-se também em relação com o feminismo, a ecologia, o ambiente, a religião, a planificação, o espaço, o marketing, a administração.
O “pós” é incontornável, o fim do século XX se conjuga em “pós”. Mal estar ou renovação das ciências, das artes, da filosofia estão em uso.
As características da pós-modernidade podem ser resumidas em alguns pontos: propensão a se deixar dominar pela imaginação das mídias eletrônicas; colonização do seu universo pelos mercados (econômico, político, cultural e social); celebração do consumo como expressão pessoal; pluralidade cultural; polarização social devido aos distanciamentos acrescidos pelos rendimentos; falências das meta narrativas emancipadoras como aquelas propostas pela Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade.
A pós-modernidade recobre todos esses fenômenos, conduzindo, em um único e mesmo movimento, à um a lógica cultural que valoriza o relativismo e a (in)diferença, a um conjunto de processos intelectuais flutuantes e indeterminados, á uma configuração de traços sociais que significaria a erupção de um movimento de descontinuidade da condição moderna: mudanças dos sistemas produtivos e crise do trabalho, eclipse da historicidade, crise do individualismo e onipresença da cultura narcisista de massa.
Em outras palavras: a pós-modernidade tem predomínio do instantâneo, da perda de fronteiras, gerando a idéia de que o mundo está cada vez menor através do avanço da tecnologia. Estamos diante de um mundo virtual, imagem, som e texto em uma velocidade instantânea.
No campo urbano, a cidade é vendida aos pedaços porque nela há caos, (des)ordem: padrões de diferentes graus de complexidade: o efêmero, o fragmentário, o descontínuo, o caótico predomina.
Mudam-se valores: é o novo, o fugidio, o efêmero, o fulgaz, o individualismo, que valem. A aceleração transforma o consumo numa rapidez nunca vivenciada: tudo é descartável (desde copos a maridos/ou esposas). A publicidade manipula desejos, promove a sedução, cria novas imagens e signos, eventos como espetáculos, valorizando o que a mídia dá ao transitório da vida.
As telecomunicações possibilitam imagens vistas em todas as partes do planeta, facilitando a mercadificação de coisas e gostos. A informatização, o computador, o caixa-rápido 24 horas, a telemática são compulsivamente disseminadas. As lutas mudam: agora não é contra o patrão, mas contra a falta deles. Os pobres só dizem presente nos acontecimentos de massa, lugar de deslocamento das energias de revolta.
Testemunhas da pós-modernidade são o DVD, o CD, o MP3, a clonagem, o implante de órgão, próteses e órgãos artificiais engendram uma geração de seres em estados artificiais que colocam em xeque a originalidade ou naturalidade do humano.
As invenções tecnológicas decodificadas como o computador, o relógio digital, o telefone celular, as secretarias eletrônicas, o vídeo, os satélites, as Nets redes (sistema htt// e www), os códigos de barras, “os cartões magnéticos multicoloridos que alimentam sonhos da era digital”.
Modelos geram replicantes. As pichações viram grafites. O corpo enxuto é exaltado pela TV e por revistas. Juízos de autoridade ou defesa, na ausência de visão pessoal, são expressos em conceitos opacos como: vanguarda atual, avançado, progressista, elitista, popular, conservador, moderno, pós-moderno. Como o corpo enxuto, a garganta, os pulmões, a glote, os dentes, a língua, as cavidades bucal e nasal devem produzir um único significado num único sentido: ser STAR.
Os shoppings, os condomínios e novos prédios são cápsulas autônomas de vivência...
Tudo é performance: os motoristas transformam-se em pilotos; a voz dos locutores das rádios FM é igual em todas as estações... Vale o extra forte, o super doce, o minúsculo, o gigantesco... Vale o novo; um novo produto mais eficaz, um novo alimento mais saudável; uma nova TV mais interativa... Vale o extra, o super, o super extra, o macro.
Fantasmas e desvios nos rodeiam: no corpo, a doença (AIDS); na mente, a loucura; na natureza, a catástrofe; na economia, a queda das bolsas; na paixão, a morte; no orgasmo, o desprazer; no computador, o vírus.
As informações e a preocupação com a saúde da natureza são colocadas em xeque ou em cheque; no Brasil já existe uma nova indústria parecida com a da seca. É a “Indústria do meio ambiente”, recursos destinados à proteção das florestas, dos rios e dos animais são desviados pelo o Poder público, pelas ONG’s e organismos privados.
As senhas, para entendimento da pós-modernidade, são: a saturação, a sedução, o simulacro, o soft, o light, a globalização, a automação, a fragmentação, o chip. Os modelos são artistas e cantores famosos, que qualquer dia destes farão um grande show para ajudar crianças famintas da África; que gravarão um disco, com numerosos colegas, para ajudar os “americanos a salvarem” refugiados de algum país latino-americano.
“Ao lado da montagem, colagem, bricolagem, simulação e virtualidade”, muitas vezes combinando tudo isso, a mídia parece priorizar o espetáculo vídeo-clipe. Tanto é assim que guerras (como a do Iraque) e genocídios parecem festivais pop, departamentos do shopping center global, cenas da Disneylândia mundial. Os mais graves e dramáticos acontecimentos da vida de indivíduos e coletividades aparecem, em geral, como um vídeo-clipe eletrônico informático, desterritorializado entretenimento em todo o mundo”.
Estamos vivendo um momento de fenômenos insólitos. Tudo se passa como se o futuro tivesse se tornado um lugar vazio. O procedimento pós-moderno é antes uma paixão do “tecer das alteridades” enquanto estamos diante da TV, bebendo um refrigerante Coca-cola, mastigando um Mcdonald´s feliz ou experimentando um biscoito Nestlé, sem (des)entendimentos da Nova Ordem Mundial, nova sociedade ou sociedade de consumo.

Georges Benko

terça-feira, 11 de novembro de 2014

"Eu Sou O Que Ninguém Vê"!!!


Sou os brinquedos que brinquei, as gírias que usei, os nervosos e felicidades que já passei.
Sou minha praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, sou os amores que vivi, as conversas sérias que tive com meu pai...
Eu sou o que me faz lembrar!!!
Sou a saudade que sinto, sou um sonho desfeito ao acaso, sou a infância que vivi, sou a dor de não ter dado certo, sou o sorriso por tudo que conquistei, sou a emoção de um trecho de livro, da cena de filme que me arrancou lágrimas:..
Eu sou o que me faz chorar!!!
Sou a raiva de não ter alcançado, sou a impotência diante das injustiças que não posso mudar, sou o desprezo pelo que os outros mentem, sou o desapontamento com o governo, o ódio que isso tudo dá. Sou o que eu remo, sou o que eu não desisto, sou o que eu luto, sou a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta ao ver um animal abandonado...
Eu sou o que me corrói!!!
Eu sou o que eu luto, o que consigo gerar através de minhas verdades, sou os direitos que tenho e os deveres a que me obrigo, sou a estrada por onde corro, sou o que ensino e, sobretudo, o que aprendo...
Eu sou o que eu pleiteio!!!
Eu não sou da forma como me visto, não sou da forma como me comporto, não sou o que eu como, muito menos o que eu bebo. Não sou o que aparento ser...
EU SOU O QUE NINGUÉM VÊ!!!

Clarice Lispector

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

"Sobre A Velhice"!!!


O jovem almeja viver muito, mas dificilmente se imagina idoso.
A juventude parece-lhe eterna e raramente verá no velho diante de si o espelho que reflete a sua imagem futura, isto se tiver a sorte, ou azar, de viver muito, pois a ninguém é garantido atingir a velhice. Os jovens, em geral, sentem-se imortais, a morte parecem-lhes mais apropriada aos que chegaram à terceira idade, recusam-se a pensar na morte e nisto são acompanhados por muitos idosos iludidos com a seqüência do passar dos dias. Alguns até desdenham dos mais velhos, talvez, inconscientemente, seja uma reação de auto-proteção e de recusa do futuro que se anuncia.
“Um jovem”, escreve Ernst Bloch, “pode imaginar-se como homem, mas dificilmente como idoso: a manhã aponta para o meio dia, não para a noite. Em si é estranho que o envelhecimento, na medida em que se refere à perda da condição anterior com ou sem razão sentida como mais bela, só comece a ser percebido por volta dos 50anos. Não haveria perda para o jovem que deixa para trás a criança? E não haveria uma perda para o homem quando deixa a florescência da juventude, quando o impulso se atrofia?”
O cinquentenário parece anunciar o movimento de descida. Agora, a vida desce ladeira abaixo. Há o risco de deprimir-se diante da certeza de que a vida esvaece-se a cada dia e a morte parece mais próxima. O otimista reage fazendo de conta que a vida não passou, iludindo-se com o apego à juventude. O dito de que permanecemos jovens em espírito é um engodo. Não há como negar que o tempo passou, as marcas na face, as doenças que irrompem, as dores no corpo, a perda da vitalidade, etc., demonstram-no.
“O tempo passa com uma infinita velocidade, e só percebemos bem se olharmos para trás; o passado escapa aos que se absorvem no presente, tal o modo pelo qual essa fuga ocorre sutilmente”, afirma Sêneca.
Não é preciso enganar-se, fazer de conta de que o tempo não passou, nem cair em depressão diante das dificuldades que o avançar da idade impõe. Basta encarar com naturalidade. Começamos a morrer tão logo nascemos, é a dialética da vida.
Os jovens não estão isentos do sofrimento e as dores do tempo não são exclusividade dos idosos. “Mas incomoda”, dizes, “ter a morte em vida.”
Em primeiro lugar, ela está sempre presente, quer para o velho ou para o jovem, e não se trata aqui de consenso surgido de uma votação. Depois, ninguém é tão velho que não possa reivindicar para si mais um dia. Um dia é um degrau na vida”.
O mais importante na vida não é a longevidade, mas o viver bem. Chegar à velhice não significa necessariamente ter vivido mais, pois aquele que a morte abraçou em tenra idade viveu bem se intensamente. “Que importa, afinal de contas, sair antes ou mais tarde de onde se deve mesmo sair?
O essencial não é viver por muito tempo, mas viver plenamente”. Pois, de que adianta ao homem, “oitenta anos passados sem ter feito nada? Ele não morreu tarde, mas ficou morrendo por longo tempo. Viveu oitenta anos, mas viveu mesmo? Importa saber a partir de quando se conta sua morte?”
A medida da vida está em olhar para si mesmo e contabilizar não o tempo, mas as ações e as relações humanas construídas. Se olharmos para trás e sentirmos que valeu a pena viver, então a vida foi plena. Por que, então, temer a velhice? A morte não escolhe idade, por que temê-la?
“É um homem muito feliz e com plena posse de si mesmo o que espera o amanhã sem inquietude. Todo o que diz “já vivi” recebe cotidianamente mais um dia como lucro”.  O amanhã não nos pertence! Portanto, encaremos com alegria ter vivido o que nos foi permitido. Ainda que o tempo imprima marcas indeléveis no corpo e alma que chega aos 50 anos de existência, nos alegremos por cada dia acrescentado ao viver. Afinal, a velhice tem as suas vantagens!

"Carrego dentro de mim o que me mata. 
Falta-me tempo para as frivolidades, tenho nas mãos uma imensa tarefa. 
Como a realizarei? Vejo que a morte se apressa e a vida foge.
 Diante dessas duas pressões, ensina-me algum expediente! 
Faze com que eu não fuja da morte e que a vida não me escape. 
Exorta-me com relação ao que é difícil.
Dá-me longevidade contra aquilo que é inevitável. 
Vem alargar meu tempo, que é tão curto. 
Ensina-me que a boa vida não se mede pela duração mas como a empregamos. 
Acontece muitas vezes que uma longa vida não é realmente vivida”. (Sêneca) 

Antonio Ozaí da Silva

domingo, 9 de novembro de 2014

"Vaidade... Agressividade... Inveja"!!!.

Estamos tratando de um dos aspectos mais intrigantes da nossa condição: nascemos diferentes uns dos outros e vivemos numa sociedade onde, inexoravelmente, algumas propriedades serão mais valorizadas do que outras.
Os critérios de beleza poderão variar de uma sociedade para a outra, de uma época para a outra. Porém, sempre algumas pessoas serão tidas como mais belas; e elas sempre serão poucas, visto que o que é menos frequente chama mais a atenção.
A inteligência sempre será valorizada e, quando especial, criará facilidades para a vida prática de seus portadores. O mesmo vale para o vigor físico, para dotes artísticos especiais, para a facilidade no trato com as pessoas etc.
Mesmo em um contexto ideal, no qual a competição não seja estimulada e seja até mesmo desencorajada, penso que a questão da comparação das pessoas entre si tenderia a ocorrer, gerando desconforto e humilhação em algumas das que se sentissem menos favorecidas.
Acredito que num ambiente não competitivo muitas pessoas não se sentiriam tão prejudicadas por não serem portadoras de prendas excepcionais (o oposto do que acontece em sociedades como a nossa de hoje, onde a ambição, mesmo desmedida, é tida como virtude).
Talvez fosse possível observar mais atentamente até mesmo o lado negativo daquilo que é muito valorizado: mulheres muito bonitas se acostumam a chamar a atenção por esta via e, com frequência, se tornam displicentes no cultivo de outras prendas; a vida é longa, a beleza é efêmera e talvez tenham uma maturidade e velhice mais sofrida do que aquelas que nunca apostaram muito em sua aparência física. Este é apenas um exemplo, mas poderia ser estendido para outras propriedades muito valorizadas.
Ainda que em menor intensidade e envolvendo um menor número de pessoas, é provável que algumas pessoas se sentissem prejudicadas pelo fato de não terem sido as “eleitas” para serem portadoras de tantas prendas. Ao se compararem, sentirão a dor típica da ofensa à vaidade que é a humilhação. Sentir-se-ão agredidas pela simples presença daquelas virtudes no interlocutor. Reagirão com a agressividade típica deste tipo de mecanismo que chamamos de inveja: farão algum comentário depreciativo, desprezando justamente aquilo que gostariam de ter; farão com humor para disfarçar a sensação de inferioridade que está embutida em toda ação invejosa. A AGRESSIVIDADE SUTIL DIRIGIDA CONTRA PESSOAS, QUE NADA FIZERAM A NÃO SER EXISTIREM E SEREM COMO SÃO, É A MARCA REGISTRADA DA INVEJA.
Penso que é quase impossível que a inveja não exista. As pessoas teriam que ter a docilidade de aceitar sua condição sem nenhum tipo de frustração. Teriam que viver numa sociedade que não privilegiasse virtudes excepcionais e sim as de caráter democrático, acessíveis a todo o mundo. Teriam que, ao se comparar com as outras pessoas, não construir uma hierarquia: teriam que se reconhecer como diferentes e não como superiores ou inferiores. Este seria o mundo ideal, onde as pessoas seriam amigas e solidárias: estamos mais próximos do fim dos tempos do que dele.
O que não tem o menor sentido é atuarmos, consciente e deliberadamente, no sentido inverso, na direção de estimularmos a vaidade, a competição e, portanto, a rivalidade e a hostilidade entre as pessoas.
Não sei se todas as pessoas são plenamente conscientes, de modo que vale o alerta: não se trata de um caminho obrigatório, pois não somos assim escravos da nossa biologia. Podemos amenizar ou estimular uma dada predisposição que faça parte de nossa natureza. Estamos no sentido inverso, transformando as pessoas em inimigos, rivais. As pessoas estão cada vez mais solitárias e desamparadas. Quanto mais fracas emocionalmente estiverem, mais serão escravas das “felicidades” aristocráticas, por meio das quais se sentem momentaneamente importantes.
O círculo vicioso que estamos vivendo é terrível e já temos claros sinais de para onde é que estamos nos dirigindo.

Flavio Gikovate

terça-feira, 4 de novembro de 2014

"Carências"!!!

Quem não gosta de ser amado? Se Receber atenção especial? Quem não gosta de beijo na boca e abraços apertados? Quem prefere a solidão a uma boa companhia?
Nesse mundo maluco e agitado, as pessoas estão se encontrando hoje, se amando amanhã e entrando em crise depois de amanhã.
Uma coisa frenética e louca, que tem feito muita gente que se julgava equilibrada perder os parafusos e fazer muita besteira. Paixão, loucura e obsessão, três dos mais perigosos ingredientes que estão crescendo nos relacionamentos de hoje em dia por causa da velocidade das informações e medo de ficar sozinho.
As pessoas não estão conseguindo conviver sozinhas com seus defeitos, vícios e qualidades e partem desesperadamente para encontrar alguém, a tal da alma gêmea, e se entregam muitas vezes aos primeiros pares de olhos que piscam para o seu lado.
Vale tudo nessa guerra, chat, carta, agência, festas. É uma guerra para não ficar sozinho. Medo, medo de se encarar no espelho e perceber as próprias deficiências, medo de encarar a vida e suas lutas. 
Então a pessoa consegue alguém (ou acha que está nascendo um grande amor), fecha os olhos para a realidade e começa a viver um sonho, trancado em si mesmo, transfere toda a sua carência para o(a) parceiro(a), transfere a responsabilidade de ser feliz para uma pessoa que na verdade ela mal conhece.
Então, um belo dia, vem o espanto, vem a realidade, o caso melado, o “falso amor” acaba, e você que apostou todas as suas fichas nesse romance fica sem chão, sem eira nem beira, e 
o pior: muitas vezes fica sem vontade de viver.
Pobre povo desse século da pressa! Precisamos urgentemente voltar o costume “antigo” de “ter tempo”, de dar um tempo para o tempo nos mostrar quem são as pessoas.

Luis Fernando Veríssimo