Somos Anjos e Mestres!
Todos nós sabemos alguma coisa que alguém, em algum lugar, precisa aprender e, por vezes, nós mesmos recordarmos.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

"Somos Como O Ano Velho... Por Isso Tememos O Novo"!!!


O que estou fazendo com as minhas partes que ficaram paradas?
O que está você fazendo com as suas.
O que estou fazendo para renovar o que há de antigo em mim, tão arraigado que até já o suponho convicção?
O que você está fazendo como que há de antigo em você, e que talvez se exteriorize com a aparência de ser o mais moderno?
Somos como o ano velho. Como um montão de anos velhos, acumulados. Vivemos a repetir o que já sabemos, o que já experimentamos. Repetimos, também, sentimentos, opiniões, ideias, convicções
Somos uma interminável repetição, com raras aberturas reais e verdadeiras para o novo do qual cada instante está prenhe.
Somos muito mais memória do que aventura.
Somos muito mais eco do que descoberta.
Somos muito mais resíduo do que suspensão.
Somos indissolúveis, pétreos, papel carbono, xerox existencial, copiadores automáticos de experiências já vividas, fotografias em série das mesmas poses vivenciais. Somos um filme parado com a ilusão de movimento.
Só acreditamos no que conhecemos. Supomos que conhecer é saber.
O ser humano é feito de tal maneira inseguro que a sua tendência é sempre a de reter as experiências e fazer da vida uma penosa e longa repetição do já vivido. O ser humano adora repetir...
Ele precisa repetir, porque não está preparado para o novo de cada momento, para o fluir do Todo na direção da Transformação Permanente. Ele é uma unidade estática e acumuladora, num cosmos mutante e em permanente transformação.
Aceitar a mudança e a transformação é ameaçar tudo o que o homem adquiriu e guarda com avareza, para tentar explicar a realidade e a vida. Mas cada vez que o ser humano usa o instrumental guardado com tanta avareza para explicar o real, este já se transformou e o que antes era eficaz, novo, “descoberta importante”, logo se transformou numa informação parcial, num mero dado da realidade...
Esta é sempre mais rica. Está sempre grávida de transcendência.
Aí está o grande dilema: para explicar o real só temos a nossa experiência anterior, mas esta só é válida no momento da sua revelação. Um segundo depois já ficou parcial, relativa, incompleta. Não temos, então, instrumental de aceitação do novo e o que temos fica mais velho e superado a cada aplicação.
Por isso é mais cômodo, fácil e simples para o ser humano cair na repetição do que já é, do que já sabe, do que já viveu. Ele chega a chamar isso de “conhecimento”, quando é, apenas, cristalização de um saber anterior.
Por isso o ser humano tende tanto ao conservadorismo: atingida uma conclusão, montado um sistema de interpretação da realidade, logo o ser humano se aferra a ele (sistema) e, numa extensão, aplica-o a todo o real. Se o sistema é lógico, então, a mente racional se satisfaz e com isso o homem se supõe portador de uma verdade. Aferra-se então a ela, passando a ser um de seus defensores.
Cria, a partir da verdade na qual crê e passa a repetir escolas de pensamento, doutrinas, religiões, ideologias, esquemas de interpretação da realidade, correntes, seitas, crenças, opiniões, convicções e até fanatismos.
Cria uma espécie de dependência das próprias verdades. Passa de senhor a escravo. E quanto mais escravidão mental, mais sensação de liberdade.
Sim, somos viciados na próprias crenças, dependentes das próprias verdades, toxicômanos das próprias convicções. E, como ocorre em todas as dependências, precisamos repetir as nossas verdades para que não caiamos no pânico da dúvida, na ameaça da mutação. Inventamos uma pacificação ilusória e grandiloquente...
Seu nome: coerência.
Coerência passa a ser grande virtude. “Fulano, conheço-o há trinta anos...
Sempre na mesma posição. Tipo coerente está ali!” E assim saudamos a alguém que parou no tempo, que tão logo ganhou uma convicção fechou-se a todas as demais.
Assim nas crenças, assim nas ideias e assim, também, nos sentimentos, nas vontades e nos hábitos. Uma pessoa diz, com orgulho, que há quarenta anos torce pelo mesmo time. Fico a pensar no que ela perdeu de vida, alegria e descoberta nesse tempo todo, de oportunidade de apreciar a qualidade dos demais, a beleza da camisa dos outros, a virtudes dos antagonistas, o estilo dos adversários.
No afã de querer a vitória das suas cores, quantas outras vitórias dos outros ela deixou de fazer também suas, quantas alegrias perdeu.
A rigor não sabemos o que estamos fazendo para renovar o que há de antigo em nós. Em geral, nada. Não me refiro ao que há de permanente, pois o ser humano é feito de permanências e provisoriedades. As permanências (ligadas às essências) devem ficar. Mas as provisoriedades que se tornaram antigas, paradas e repetitivas e que ali estão remanescentes por nossa preguiça de examiná-las ou por nossa incapacidade (medo) de removê-las, estas precisam ser revistas, checadas, postas em discussão, em debate e arejamento...
Criar é manter a vida viva. Criar é ganhar da morte. Morte é tudo o que deixou de ser criado. Criatividade é, pois, um conceito imbricado no de vida. Não há como separar os dois conceitos.
Vida é criação e criação é vida. Só criatividade nos dará uma possibilidade de solução para cada desafio novo. As soluções jamais se repetem. Nós é que nos repetimos por medo, comodismo ou burrice. Adoramos repetir, tememos renovar, por isso tanto sofremos.

Arthur da Távola

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

"O Sentido Do Natal"

Um homem deixou para fazer suas compras de Natal no último instante.
Nas ruas o vai-e-vem da multidão apressada. Ele, entre esbarrões, comprando aqui e ali. De súbito, pula um moleque à sua frente pedindo, quase implorando para que ele comprasse duas canetas para ajudá-lo. Nervoso, ele manda o garoto sair da frente. Apressou o passo e só parou, quando percebeu que havia ganho certa distância do garoto.
Foi à loja de brinquedos e é mal atendido. A balconista, exausta e irritada, vende descortesias e ele prontamente deu o troco.
Ao voltar para casa, guiou o carro como se estivesse à frente de um exército inimigo, queixando-se sistematicamente de todos os que atravancavam o seu caminho.
Quando chegou enfim, mal-humorado, seu filho caçula recebeu-lhe com a ansiedade dos que aguardam uma notícia. A sala estava iluminada, em clima de festa. Sentindo a paz doméstica, recordou a sua vergonhosa performance naquela maratona de véspera de Natal. E observando a alegria de seu filho diante dos embrulhos coloridos, reviu arrependido a expressão tristonha da criança que tentou vender-lhe duas canetas . . .
Contou este fato a um amigo. Este, porém, disse-lhe:
- Meu amigo, você não entendeu o sentido do Natal. Esta comercialização é necessária para movimentar o comércio,  mas é lamentável que, sob indução da propaganda, transformaram o ato de presentear numa obrigação.
Há quem se ofenda se não recebe algo dos familiares. É bom presentear, nos dá alegria. É sempre um gesto de carinho, uma manifestação de bem-querer.
Mas, o ideal seria que não houvesse tempo certo para isso, tira muito a espontaneidade do gesto e a magia da dádiva. Porém, é sempre bom lembrar que nos reunimos para celebrar o nascimento de Jesus. E que Este, não pediu que trocássemos presentes, mas que vivenciássemos seus ensinamentos.
Portanto, amigo, vivencie o Natal amando ao próximo, fazendo aos outros o que gostaria que os outros lhe fizesse, porque tudo que fizermos ao menor de nossos irmãos, é ao "aniversariante" que estaremos fazendo.
Este é o verdadeiro sentido do Natal.
Mas lembre-se amigo, não espere o próximo Natal para consertar . . .
Envergonhado, o homem concordou com o amigo.

Autor Desconhecido


sábado, 19 de dezembro de 2015

"As Marcas do Ano Novo"!!!

Imagine uma frase sem ponto, um dia sem noite, um caminho sem parada.
Seria tudo igual, irrelevante, sem graça, dada a ausência do ritmo que fabrica o sentido, no contraste das situações. Quem vive quer contar e quando perdemos o ritmo entramos no contínuo mortífero.
O Ano Novo é uma das principais pontuações que nos marca...
Ele escande o tempo, classifica lembranças, promove o futuro. O ano novo é palco de nossos sonhos, de nossos planejamentos. Cada um tem seu método de jurar o ano novo: uns o fazem em segredo, fechando até os próprios olhos; outros, ao contrário, fazem um pacto em tabelas complicadas, com marcações dia a dia, especificando o caminho a trilhar; ainda outros preferem fazer compromissos com a pessoa amada, escolhendo o melhor lugar para testemunhar suas esperanças...
Uma praia, uma cachoeira, uma montanha, uma árvore, um rochedo, uma ponte.
O ano novo é generoso, pois se renovando todos os anos – uma vez que ele nunca é datado - o que não funcionou em um ano, terá outra chance no próximo ano novo. Nós, curiosamente, vamos ficando velhos, mas o ano é sempre novo. Já notaram?
E quanto mais velhos, vamos ficando espertos em anos novos. É uma paradoxal vantagem da idade. Acumulamos anos novos nas gavetas de nossas maiores emoções, de ponta a ponta de nossas vidas: os nascimentos, os acidentes, as formaturas, os prêmios, as perdas, as mortes e, muito especialmente, os amores.
O ano novo adora os amores, razão pela qual todas suas representações aludem aos encontros de amor. O navio, o champanhe, os fogos, os saltos das ondas, a dança, tudo isso é para ser feito de mãos dadas, nem que seja com a saudade.
O ano novo é flexível ao horário de cada país – muitos ficam em frente à televisão brindando em várias línguas a sua chegada e escolhendo, na comparação, o melhor cenário. Ele também é flexível aos nossos estados íntimos, se adequando do bom ao péssimo humor.
Uma coisa é certa, ninguém escapa ao ano novo. Não dá para resistir à sua chegada, não dá para atropelá-lo, não dá para ignorá-lo...
Ele marca uma data para todos, nisso é universal; ele possibilita a cada um contar e fazer a sua história, nisso é singular.
A você de jogar e fazer do seu, um bom ano novo. Sorte!

Jorge Forbes

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

"Natal... Ano Novo... E Nós No Terceiro Milênio"!!!


Passou-se uma década e meia após o Bug do Milênio, quando celebramos o ano 2000, iniciando assim o século XXI e o primeiro século do terceiro milênio.
Em quinze anos muitos fatos aconteceram. Antes da celebração de 2000, presumiu-se que aconteceria o Bug do Milênio, endoidecendo computadores ultra inteligentes, que recuariam um século, ocasionando um colapso mundial. A febre para salvar dados contaminou a todos, mas nada aconteceu.
Tragédias e fatalidades fizeram-se presentes em várias partes do mundo nesses quinze anos, a ressaltar o inimaginável ataque terrorista ao Word Trade Center, em 2001, que originou a Guerra ao Terrorismo, e em 2004, quando um tsunami gigantesco varreu a costa asiática um dia após o Natal, ceifando quase 300 mil vidas, estarrecendo o mundo, traumatizando todos que moram em cidades litorâneas.
Também confabulamos sobre o grande evento do fim do mundo, que aconteceria em 21 de dezembro de 2012, segundo profecia Maia. Nesse dia Mamãe Natureza sequer espirrou, graças! Ainda, para setembro de 2015, teóricos do fim do mundo anunciaram a colisão de um asteroide gigantesco contra a terra. Seria adeus a tudo que se move. A NASA desmentiu-os e, ainda bem não foi dessa vez, graça das graças!
No Brasil, o Cristo Redentor foi eleito uma das sete maravilhas do mundo moderno. Na política, a corrupção fumegou, borbulhou, aqueceu, ferveu, e alguns canalhas da nação foram encarcerados em celas cinco estrelas. Computadores e celulares invadiram os lares brasileiros. A liberdade de expressão via internet, tomou ares assustadores; preconceito, discriminação, racismo, intolerância religiosa, pornografia e pedofilia, ganharam força tremenda em redes sociais.
Entretanto, mesmo sofrendo dolorosamente com as tragédias naturais e ambientais que nos enluta, a vida segue, ela sempre segue. Entramos no novo milênio perdendo a batalha contra o câncer, a ressaltar o câncer de mama, mas a Ciência Médica trava uma batalha hercúlea para a descoberta da cura dos diversos cânceres que vitimam fauna e flora. O tratamento convencional, quimioterapia e radioterapia, terrivelmente agressivo, está perdendo a vez para as drogas mais potentes, com menos efeitos colaterais. É um avanço e tanto. Bravos cientistas do bem que trabalham arduamente em prol de salvar a humanidade!
Mormente, sigamos cuidando de nós com menos exposição ao sol, escolhamos bem os alimentos, sejamos bípedes conscientes e caminhemos mais a pé, sejamos menos consumistas e usemos menos os favores da tecnologia.
Que tal dar férias de vez em quando à parafernália eletroeletrônica e curtir lugares insólitos, exóticos, fantásticos? Que tal um banho na cachoeira mais próxima com a família? Wow! As criancinhas e as criançonas vão adorar!
Sim, busquemos minimizar situações exacerbadas de estresse. Exercitemos o corpo, façamos exames periódicos para prevenção e/ou detecção de possíveis problemas de saúde, posto que não devemos desprezar a aparelhagem do nosso corpo.
Nostradamus profetizou que o vulcão Vesúvio entrará em erupção no final de 2015 e começo de 2016, arrasando Nápoles. Balela! Nostradamus era apenas um adivinho como outro qualquer. O que o colocou no ápice das atenções foi ter registrado as suas adivinhações de forma singular.
Apostemos, isto sim, que a entrada no Novo Ano será auspiciosa para todos os povos da terra, sem violências, sem guerras, sem ditadores, carrascos, psicopatas e extremistas religiosos sangrando a nossa terra querida. Pondero que se possuíssemos varinhas mágicas poderíamos tocar o coração de pessoas ególatras e desumanas, com sua fome de sangue, ouro, poder. Assim teríamos o mundo com o qual sonhou um homem chamado Jesus de Nazaré, filho de Maria e José.
Demais, nos últimos minutos de 2015, prestemos homenagens aos que partiram para sempre. Pessoas morrem, mas bebezinhos nascem, animais procriam, sementes germinam, dando continuidade à vida. E, nos primeiros acordes de 2016, lembremo-nos de desejar paz ao mundo. Desejemos que a Terceira Guerra Mundial jamais aconteça. Ela seria nuclear e... É melhor nem discernir a esse respeito.
Finalizo, desejando a todos um Feliz Natal e um Novo Ano de sonhos realizados. Usufruam de muita saúde e pleno direito de viver uma vida bela.

Marlene A. Torrigo


quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

"Quem Somos Nós?"!!!

Transcorrem os dias tão depressa. As décadas que se sucedem não passam de instantes, momentos, átimos.
Ontem, recém-nascidos, os primeiros passos tortuosos. Eis o doce ensaio para a vida: passos vacilantes e quedas dolorosas. Até que um dia os passos se firmam, não mais caímos e aprendemos a viver.
E onde está a criança que há poucos instantes fomos nós?
A criança que olhava ao seu redor deslumbrada, colorindo e recolorindo o mundo com as cores da curiosidade, da inocência, do faz de conta.
Num breve instante, a adolescência. As descobertas, emoções, reações e sentimentalismos exacerbados.
E onde o jovem de outrora? Onde seus ideais, seus objetivos, o brilho no olhar?
Carrega ainda seus sonhos consigo ou já os perdeu pelo caminho, inundados pela maré das circunstâncias?
Hoje somos adultos. Temos papéis sociais a cumprir. Somos incumbidos de metas, deveres e obrigações.
Espera-se que sejamos o que devemos ser e façamos o que devemos fazer.
Todavia, quem somos nós?
Somos a criança que ensaia seus passos para a vida? O jovem imerso num sem-fim de emoções? Ou, ainda, o adulto em cujos ombros pesam grandes responsabilidades?
Passam os dias tão depressa. Das horas, restam apenas as cinzas.
Houve tempo suficiente para a criança crescer?
Para o jovem amadurecer?
Para o adulto aprender a viver?
Quem somos nós?
A ciência não mais trabalha com a noção de universo, mas sim com a de multiverso, um conjunto de todos os universos que estão relacionados, denominados universos paralelos.
Estima-se que, em nosso universo, devam existir algo em torno de duzentos bilhões de galáxias e uma delas é a nossa – a Via Láctea. De pequenas proporções, conta com cem bilhões de estrelas. Entre essas estrelas, uma em especial: o nosso sol.
Em torno dele, orbitam planetas. Um desses é onde vivemos, a Terra.
Na Terra, foram catalogadas mais de três milhões de espécies animais e, dentre elas, a nossa, homo sapiens. Essa espécie, por sua vez, tem sete bilhões de indivíduos.
E o questionamento se repete: quem somos nós?
Somos um individuo entre os sete bilhões de uma única espécie, computada entre as três milhões classificadas, que vive em um planeta que orbita uma estrela que é somente uma dentre as cem bilhões de estrelas que compõem nossa galáxia.
Esta é apenas uma dentre as duas centenas de bilhões de galáxias que existem no nosso universo, que é, finalmente, tão somente um, dentre diversos outros universos existentes.
É a grandeza da obra que revela o seu Criador.
As mesmas mãos que criaram todo esse esplendor em luz, também criaram a cada um de nós com infinitas oportunidades de progresso, de felicidade, de conhecimento, de evolução.
Somos, em nós mesmos, todo um universo a ser desbravado.
Não somos nosso sotaque, nem nossa posição social. Não somos nossos bens materiais, a religião que professamos, o cargo que exercemos e nem a cor de pele que temos.
Antes, somos o amor que cultivamos, o bem que praticamos, o conhecimento que adquirimos, as lições que aprendemos, a verdade que buscamos.
Do universo de possibilidades de que somos constituídos, nós somos as escolhas que fazemos.
Pensemos nisso!

 Momento Espírita


terça-feira, 1 de dezembro de 2015

" Avanços Tecnológicos e Afetivos"!!!

A diferença entre os avanços tecnológicos e os afetivos é alarmante!
Nos últimos 50 anos, os avanços conquistados na área da tecnologia, da ciência e da medicina foram (e tudo nos leva a crer que serão cada vez mais) inimagináveis. Nunca evoluímos tanto no desenvolvimento da informática, maquinários, descobertas científicas e também no universo da saúde, especialmente no que se referem à extensão da juventude, cirurgias estéticas e transplantes de órgãos.
Os meios de comunicação também surpreendem os que, há menos de 25 anos, ainda se comunicavam fundamentalmente por telex e linha telefônica – que era disputada a ferro e fogo e custava uma quantia considerável. Quem imaginava que tão rapidamente teríamos câmeras ao vivo, espalhadas pelo mundo todo?
Hoje, a tecnologia nos permite acompanhar a dinâmica do mundo em tempo real.
Já se fala até em construir um avatar de você mesmo para deixar para a posteridade. Ou seja, você já pode ser imortal, o que significa que seus bisnetos, tataranetos e gerações seguintes poderão falar com a sua versão virtual, através de qualquer computador.
Espantoso? Creio que não! Ou melhor, creio que esse avanço é totalmente compatível com a inteligência e a criatividade humana. Porém, espantoso mesmo é o quanto nos mantemos retrógrados e atrasados no campo das emoções.
Se traçarmos um paralelo entre esse estonteante crescimento e o amadurecimento afetivo que tivemos no mesmo período, constataremos que estamos diante de um dilema bastante perigoso.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), daqui a 10 anos, a depressão será a segunda causa de improdutividade das pessoas, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares. Prevê também que a cada 30 segundos, pelo menos uma pessoa cometerá suicídio no mundo. Além disso, sabe-se que cerca de 400 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de distúrbios afetivos, incluindo ansiedade, bipolar, TOC, depressão, entre outros.
Agora, pensemos: a expectativa de vida aumenta a cada ano, mas a nossa capacidade de lidar com nossas emoções, expressar nosso afeto ou simplesmente conversar sobre o que nos incomoda continua tão pequena. Bastaria analisarmos o fato de que uma mulher, por exemplo, pode voltar a “ser virgem” por meio de uma cirurgia de reconstituição do hímen e, no entanto, a maioria dos casais sequer consegue falar sobre sua sexualidade e suas dificuldades porque tem medo de se entregar, de confiar ou de compreender melhor suas crenças sobre sexo.
Tudo isso sem falar sobre a tão pouca atitude consciente que ainda temos a respeito da preservação da natureza, ou ainda sobre como ser gentil com as pessoas que mais importam, seja nosso cônjuge, nossos filhos ou familiares.
No ambiente de trabalho, quantos ainda cumprem sua carga horária exclusivamente em troca do salário mensal, sem nenhuma perspectiva de transformação humana, sem nenhum comprometimento com a qualidade das relações que mantém a maior parte do dia, da semana, do tempo de sua vida?
Se quisermos realmente vivenciar a felicidade enquanto desfrutamos de avanços como cura de doenças, possibilidades de novos relacionamentos e facilidades tecnológicas, é urgente adotarmos uma nova postura diante da vida.
Claro que as atitudes que nos conduzem ao amadurecimento não são resultado apenas de uma decisão, mas certamente este é o primeiro passo. Em seguida, por meio de leituras, terapias, espiritualização e novos aprendizados, é certo que poderemos fazer um ótimo trabalho.
Sobretudo, que não nos enganemos: conhecimento se dá pelo processo de assimilação das informações corretas... Mas sabedoria, aquela que promove a transformação de que tanto precisamos, só é possível quando nossas atitudes são coerentes com o que sabemos. Ou seja, exercício diário, consistente e ininterrupto!

Rosana Braga


domingo, 29 de novembro de 2015

"Eu... Quando Visto Pelo Outro"!!!

Quem sou eu? Eu vivo pra saber. Interessante descoberta que passa o tempo todo pela experiência de ser e estar no mundo. Eu sou e me descubro ainda mais no que faço. Faço e me descubro ainda mais no que sou. Partes que se complementam.
O interessante é que a matriz de tudo é o "ser". É nele que a vida brota como fonte original. O ser confuso, precário, esboço imperfeito de uma perfeição querida, desejada, amada.
Vez em quando, eu me vejo no que os outros dizem e acham sobre mim. Uma manchete de jornal, um comentário na internet, ou até mesmo um email que chega com o poder de confidenciar impressões. É interessante. Tudo é mecanismo de descoberta.
Para afirmar o que sou, mas também para confirmar o que não sou.
Há coisas que leio sobre mim que iluminam ainda mais as minhas opções, sobretudo quando dizem o absolutamente contrário do que sei sobre mim mesmo...
Reduções simplistas, frases apressadas que são próprias dos dias que vivemos.
O mundo e suas complexidades. As pessoas e suas necessidades de notícias, fatos novos, pessoas que se prestam a ocupar os espaços vazios, metáforas de almas que não buscam transcendências, mas que se aprisionam na imanência tortuosa do cotidiano. Tudo é vida a nos provocar reações.
Eu reajo. Fico feliz com o carinho que recebo, vozes ocultas que não publico, e faço das afrontas um ponto de recomeço. É neste equilíbrio que vou desvelando o que sou e o que ainda devo ser, pela força do aprimoramento.
Eu, visto pelo outro, nem sempre sou eu mesmo. Ou porque sou projetado melhor do que sou, ou porque projetado pior. Não quero nenhum dos dois. Eu sei quem eu sou. Os outros me imaginam. Inevitável destino de ser humano, de estabelecer vínculos, cruzar olhares, estender as mãos, encurtar distâncias.
Somos vítimas, mas também vitimamos. Não estamos fora dos preconceitos do mundo. Costumamos habitar a indesejada guarita de onde vigiamos a vida.
Protegidos, lançamos nossos olhos curiosos sobre os que se aproximam, sobre os que se destacam, e instintivamente preparamos reações, opiniões.
O desafio é não apontar as armas, mas permitir que a aproximação nos permita uma visão aprimorada.  No aparente inimigo pode estar um amigo em potencial...
Regra simples, mas aprendizado duro.
Mas ninguém nos prometeu que seria fácil. Quem quiser fazer diferença na história da humanidade terá que ser purificado neste processo. Sigamos juntos.
Mesmo que não nos conheçamos. Sigamos, mas sem imaginar muito o que o outro é.
A realidade ainda é base sólida do ser.

Padre Fábio de Melo

terça-feira, 24 de novembro de 2015

"A Universalidade De Uma Opinião"!!!

A universalidade de uma opinião, tomada seriamente, não constitui nem uma prova, nem um fundamento provável, da sua exatidão. Aqueles que a afirmam devem considerar que:
- O distanciamento no tempo rouba a força comprobatória dessa universalidade; caso contrário, precisariam de evocar todos os antigos equívocos que alguma vez foram universalmente considerados verdade: por exemplo, estabelecer o sistema ptolemaico ou o catolicismo em todos os países protestantes;
- O distanciamento no espaço tem o mesmo efeito: caso contrário, a universalidade de opinião entre os que confessam o budismo, o cristianismo e o islamismo os constrangerá.
O que então se chama de opinião geral é, a bem da verdade, a opinião de duas ou três pessoas; e disso nos convenceríamos se pudéssemos testemunhar como se forma tal opinião universalmente válida.
Acharíamos então que foram duas ou três pessoas a supor ou apresentar e a afirmar num primeiro momento, e que alguém teve a bondade de julgar que elas teriam verificado realmente a fundo tais colocações: o preconceito de que estes seriam suficientemente capazes induziu, em princípio, alguns a aceitar a mesma opinião: nestes, por sua vez, acreditaram muitos outros, aos quais a própria indolência aconselhou: melhor acreditar logo do que fazer controles trabalhosos.
Desse modo, dia após dia cresceu o número de tais adeptos indolentes e crédulos: pois, uma vez que a opinião já contava com uma boa quantidade de vozes do seu lado, os que se seguiram o atribuíram ao fato de que ela só podia ter conquistado tais votos graças à consistência dos seus fundamentos.
Os que ainda restaram foram constrangidos a concordar com o que já era considerado válido por todos, a fim de não serem considerados cabeças irrequietas que se rebelam contra opiniões universalmente aceitas, nem garotos intrometidos que querem ser mais inteligentes do que o mundo inteiro.
A essa altura, o consenso tornou-se uma obrigação. A partir de então, os poucos que têm capacidade de julgar precisam calar, e os que podem falar são aqueles completamente incapazes de ter opinião e julgamento próprios, são o mero eco da opinião alheia: contudo, são também defensores tanto mais zelosos e intransigentes dela. Pois, naquele que pensa de outro modo, odeiam menos a opinião diferente que ele professa do que o atrevimento de querer julgar por conta própria, experiência que eles mesmos nunca fazem e da qual, no seu íntimo, têm consciência.
Em suma, muitos poucos sabem pensar, mas todos querem ter opiniões: o que mais lhes resta a não ser, em vez de criá-las por conta própria, aceitá-las totalmente prontas de outros?
Uma vez que assim sucede, quanto poderá valer a voz de cem milhões de pessoas?
Tanto quanto um fato histórico que se encontra em cem historiadores, mas que depois se comprova ter sido transcrito por todos, um após outro, motivo pelo qual, no fim de contas, tudo reflui ao depoimento de um único homem.

Arthur Schopenhauer

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

"Jeitinho Brasileiro De Amar"!!!

Haveria um jeito brasileiro de amar?
Na onda de se apresentar o Brasil ao mundo, os brasileiros voltam-se sobre si mesmos e se perguntam com que roupa vão aparecer no baile das nações, inclusive no amor.
Não precisamos nos aprofundar muito, para perceber que cada povo ama de certo jeito peculiar. É o que nos permite brincar, em caricatura, que o amor francês é cheio de biquinhos e não me toques; que o alemão ama na dureza; que o americano até no carinho usa a régua do custo-benefício; que o argentino, especialmente o macho, abre e exibe todas as penas do pavão; que o italiano fala mais que confirma; que o inglês ama em hora marcada etc. E o brasileiro?
Sim, podemos falar de um jeito brasileiro de amar.
A principal característica é a ginga, a flexibilidade, como de resto em tudo.
O brasileiro não se leva muito a sério em declarações pomposas. Nem se preocupa em sustentar um pedido de casamento na realidade prática. Primeiro o brasileiro declara e assina o sonho, depois corre atrás de sua realização. Outros povos preferem adequar os sonhos aos fatos, coisa chatíssima nessas terras.
O brasileiro não se prende a uma forma convencional de expressão amorosa.
Por aqui, diz o poeta Milton Nascimento, todas as formas de amor valem à pena. Outro poeta, Vinícius de Moraes, destaca o desmedido do amor na terra onde tudo dá, na infinitude do sentimento enquanto dure.
A sensualidade brasileira está à flor da pele. Dizem os sociólogos que nos estudam, como Domenico de Masi, que isso é herança da escravidão. Os negros escravos tinham como seu único bem o seu corpo. Deles e dos índios teríamos herdado a cultura do cuidado com o corpo que acaba se refletindo na proeminência da nossa cirurgia plástica e da dermatologia, e nos espetáculos esculturais de nossas praias. Mesmo no silêncio do primeiro encontro os brasileiros dançam...
Com o olhar, o aceno, a cruzada de perna, o andar, o meneio.
E se você, nesse momento, está sorrindo ao se reconhecer nessas características, querendo delas saber mais, e está com vontade de acrescentar detalhes de sua forma de amar, é porque você é brasileiro e sabe que estamos agora privilegiados em uma pós-modernidade que valoriza o que já intuitivamente sabíamos: que nenhuma explicação de amor é em si suficiente.
Que o amor pede sempre um complemento, um jeitinho especial dos amantes...
Se não, ora, se não for assim, não tem jeito.

Jorge Forbes

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

"O Primeiro Amor"!!!

O Primeiro Amor...
Questão é curiosa nesta Filosofia, qual seja mais precioso e de maiores quilates: se o primeiro amor, ou o segundo?
Ao primeiro ninguém pode negar que é o primogênito do coração, o morgado dos afetos, a flor do desejo, e as primícias da vontade.
Contudo, eu reconheço grandes vantagens no amor segundo.
O primeiro é bisonho, o segundo é experimentado...
O primeiro é aprendiz, o segundo é mestre...
O primeiro pode ser ímpeto, o segundo não pode ser senão amor.
Enfim, o segundo amor, porque é segundo, é confirmação e ratificação do primeiro, e por isso não simples amor, senão duplicado, e amor sobre amor.
É verdade que o primeiro amor é o primogênito do coração; porém a vontade sempre livre não tem os seus bens vinculados.
Seja o primeiro, mas não por isso o maior.

Padre António Vieira

domingo, 15 de novembro de 2015

"Do Horror Político Ao Horror Econômico... De Paris Ao Rio Doce"!!!

Os atentados em Paris e o crime ambiental em Mariana não são hierarquizáveis; o problema consiste em minimizar uma das tragédias por determinadas conveniências
Muita gente no Brasil está falando sobre os atentados em Paris, com mais de cem mortos, em comparação com a maior tragédia socioambiental brasileira do século XXI, o rompimento de barragens em Mariana (MG), com mais de 20 mortos e desaparecidos e uma destruição incalculável do ambiente, entre espécies extintas, impacto por décadas e ameaça direta à sobrevivência de um rio importante, o Rio Doce.
Existe a percepção de que a tragédia francesa abafará a tragédia brasileira.
E a verbalização dessa percepção gera um ruído: como se quem dissesse isso fosse indiferente a cada francês morto e ao horror específico dos massacres em Paris, à covardia e ao fanatismo. Com isso se cria um falso problema. Ou, no mínimo, secundário: a nossa suposta insensibilidade. A dos cidadãos, a dos internautas.
E não, não somos nós os culpados. Existem dois horrores simultâneos acontecendo. Um deles é político, mais precisamente geopolítico: o horror que desemboca no massacre de Paris, nos atentados de 11 de setembro, no atentado ao Charles Hebdo, movido também a profundos abismos religiosos e culturais, potencializado por ações tresloucadas e cinicamente moralizantes do Ocidente...
O outro horror é econômico.
“Horror Econômico” é o nome de um livro da escritora francesa Viviane Forrester, que dissecava com qualidade literária, em 1996, a lógica abominável de nosso sistema econômico, e as farsas discursivas utilizadas para perpetuá-lo.
Era um libelo humanista em defesa dos trabalhadores, da vida e do ambiente, e sobre a planejada cegueira coletiva em relação às desigualdades inerentes ao nosso sistema de produção.
O economista francês Jacques Généreux respondeu no ano seguinte que o horror era político, e não econômico. E deu esse nome ao livro: “Horror Político”.
Tanto pela estratégia de poder dos governos (em parceria com as grandes corporações) como pela aceitação dos cidadãos, pelo silêncio, pela incapacidade de reação, de se fazer outras escolhas.
Horrores Simultâneos...
Os horrores coexistem e são simultâneos, muitas vezes convergentes.
Mas há diferenças... Dos arredores da Torre Eiffel (feita de ferro) ao ferro extraído irresponsavelmente em Mariana há uma hierarquia de fatores, e não de dor, uma gama de responsabilidades específicas.
O Estado Islâmico e a Vale não representam o mesmo campo ideológico; nem a mesma religião; nem têm os bolsos recheados com a mesma intensidade. Um aposta no desespero como recurso político; a outra aposta no amortecimento. Estado Islâmico é um inimigo conveniente para o sistema. O que não o exime de seus horrores.
A Samarco, não...
A Samarco é o próprio sistema. A Samarco é a brasileira Vale e a anglo-australiana Billinton. A Vale tem capital japonês, tem dedo do Estado brasileiro, tem fundo de pensão, tem o Bradesco. A Vale é o sistema que se perpetua diariamente nas páginas da imprensa – tanto as jornalísticas como as publicitárias.
E, portanto, essa mesma imprensa cantará com mais força o horror distante, com o inimigo consensual. Não há possibilidade de “acidente” em um massacre movido a metralhadoras, e fica decretada a impossibilidade de contextualização (nunca de justificação), de tentarmos entender o que acontece, por que acontece esse tipo de barbárie e qual o papel dos que não se julgam bárbaros na perpetuação dessa violência.
No Brasil, define-se uma lógica contrária. A morte de milhões de animais, a destruição de um povoado inteiro (que não mais existirá), as cinco crianças mortas ou desaparecidas e a incrível sequência de impactos ambientais (como a falta d’água em municípios inteiros de Minas) são tratadas como se fossem um mero detalhe, “desculpa aí, foi mal, mas nós geramos empregos na região e somos muito bem intencionados, nós somos o desenvolvimento”.
Não Foi Um Acidente...
O papel da imprensa graúda é o de reforçar a imagem de um “acidente” – como se esse acidente não fosse inerente a esse sistema econômico genocida. Não fosse também o horror. Alguns profissionais nos grandes jornais resistem e produzem notícias importantes. Mas o problema é o dimensionamento. Não haverá avalanche noticiosa sobre o desastre ambiental como o volume de exclamações sobre Paris. O efeito geral, a médio prazo, é o de minimização.
Um dos problemas desse noticiário é que ele só reporta os espasmos dos conflitos políticos e econômicos. Só as erupções. E não o rio diário de impactos sociais e ambientais.
Precisaríamos criar uma cultura de acompanhar o sistema político e o sistema econômico de forma mais orgânica, para que não apenas enxuguemos gelo midiático a cada tragédia. E entendamos melhor o que leva a tudo isso. Sempre questionando o poder – e não as vítimas.
O mundo não está dividido entre “os loucos do Estado Islâmico” e “as necessárias empresas geradoras de emprego”. Que se multipliquem as nuances e os adjetivos. Sem ilusão de que nossa sociedade e nosso modo de vida seja superior.
Nós também temos (e no poder) nossos fanáticos, nossos obsessivo-compulsivos e nossos psicopatas. Basta de naturalizar um modelo violento de apropriação dos recursos naturais sem que os trabalhadores e a sociedade possam dizer:
“Não!!! Desengatilhem essa metralhadora”.

Alceu Luís Castilho

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

"Desejo..."!!!

Desejo, primeiro, que você ame,e que, amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer e esquecendo não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim, mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que você tenha amigos que, mesmo maus e inconsequentes,sejam corajosos e fiéis,e que pelo menos em um deles você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos,nem muitos, nem poucos, mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas.
E que, entre eles, haja pelo menos um que seja justo, para que você não se sinta demasiado seguro. Desejo, depois, que você seja útil, mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,quando não restar mais nada, essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,não com os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com os que erram muito e irremediavelmente,e que fazendo bom uso dessa tolerância, você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,não amadureça depressa demais,e que, sendo maduro, não insista em rejuvenescer,e que, sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste.não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra que o riso diário é bom,o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra,com a máxima urgência, acima e a despeito de tudo, que existem oprimidos, injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato, alimente um cuco e ouça o joão-de-barroerguer triunfante o seu canto matinal, porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente, por mais minúscula que seja,e acompanhe o seu crescimento, para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano coloque um pouco dele na sua frente e diga "isso é meu", só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra, por ele e por você, mas que se morrer, você possa chorar sem se lamentar, sofrer e sem se culpar.
Desejo por fim que você, sendo um homem, tenha uma boa mulher,e que, sendo uma mulher,tenha um bom homem e que se amem hoje, amanhã e no dia seguinte,e quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda haja amor para recomeçar...
E se tudo isso acontecer, não tenho mais a te desejar.

Victor Hugo

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

"Amar Ou Ser Amado?"!!!

Que é o que mais deseja e mais estima o amor: ver-se conhecido ou ver-se pago?
É certo que o amor não pode ser pago, sem ser primeiro conhecido; mas pode ser conhecido, sem ser pago. E considerando divididos estes dois termos, não há dúvida que mais estima o amor e melhor lhe está ver-se conhecido que pago.
Porque o que o amor mais pretende, é obrigar; o conhecimento obriga, a paga desempenha. Logo muito melhor lhe está ao amor ver-se conhecido que pago; porque o conhecimento aperta as obrigações, a paga e o desempenho desata-as.
O conhecimento é satisfação do amor próprio; a paga é satisfação do amor alheio. Na satisfação do que o amor recebe, pode ser o afeto interessado; na satisfação do que comunica, não pode ser senão liberal. Logo, mais deve estimar o amor ter segura no conhecimento a satisfação da sua liberalidade, que ver duvidosa na paga a fidalguia do seu desinteresse.
O mais seguro crédito de quem ama, é a confissão da dívida no amado; mas como há-de confessar a dívida, quem a não conhece?
Mais lhe importa logo ao amor o conhecimento que a paga; porque a sua maior riqueza é ter sempre individado a quem ama.
Quando o amor deixa de ser credor, só então é pobre.
Finalmente, ser tão grande o amor que se não possa pagar, é a maior glória de quem ama: se esta grandeza se conhece, é glória manifesta; se não se conhece, fica escurecida, e não é glória.
Logo, muito mais estima o amor, e muito mais deseja e muito mais lhe convém a glória de conhecido, que a satisfação de pago.

Padre António Vieira


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

"Vida Exterior Simples e Modesta"!!!

Uma vida exterior simples e modesta só pode fazer bem, tanto ao corpo como ao espírito.
Não creio de modo algum na liberdade do ser humano, no sentido filosófico.
Cada um age não só sob pressão exterior como também de acordo com a sua necessidade interior.
O pensamento de Schopenhauer: "O homem pode, na verdade, fazer o que quiser, mas não pode querer o que quer", impressionou-me vivamente desde a juventude e tem sido para mim um consolo constante e uma fonte inesgotável de tolerância.
Esse conhecimento suaviza beneficamente o sentimento de responsabilidade levemente inibitório e faz com que não tomemos demasiado a sério, para nós e para os outros, uma concepção de vida que justifica de modo especial a existência do humor.
Do ponto de vista objetivo, pareceu-me sempre desprovido de senso querer-se indagar sobre o sentido ou a finalidade da própria existência ou da existência da criação. E, no entanto, cada homem tem certos ideais, que o orientam nos seus esforços e juízos. Neste sentido o bem-estar e a felicidade nunca me pareceram um fim em si (chamo a esta base ética o ideal da vara de porcos).
Os ideais que me iluminavam e me encheram incessantemente de alegre coragem de viver foram sempre a bondade, a beleza e a verdade.
Sem o sentimento de harmonia com aqueles que têm as mesmas convicções, sem a indagação daquilo que é objetivo e eternamente inatingível no campo da arte e da investigação científica, a vida ter-me-ia parecido vazia.
Os fins banais do esforço humano: propriedade, êxito exterior e luxo pareceram-me desprezíveis desde jovem.

Albert Einstein

sábado, 7 de novembro de 2015

"O Que É Serenidade?"!!!

O termo serenidade costuma estar associado a mais de um significado, sendo que o primeiro deles tem a ver com a capacidade de algumas pessoas de lidar com docilidade e tolerância com as situações mais adversas, especialmente aquelas que não dependem de nós.
Muitas vezes nos angustiamos e perdemos a serenidade quando nos sentimos pressionados por expectativas que nós mesmos produzimos em relação aos nossos projetos; é preciso cautela para que nossos planos de futuro, nossos sonhos e esperanças não se transformem em pesadelos e fontes de tensão e de decepções.
Os que fazem planos mais realistas sofrem menos e se aproximam mais da serenidade.
A serenidade corresponde a um estado de espírito no qual nos encontramos razoavelmente em paz, conciliados com o que somos e temos, com nossa condição de humanos falíveis e mortais. É claro que tudo isso depende de termos atingido uma razoável evolução emocional e mesmo moral: não convém nos compararmos com o que são ou tem as outras pessoas, não é bom nos revoltarmos com o fato de não sermos exatamente como gostaríamos; conciliados com nossas limitações, podemos usufruir da melhor maneira possível as potencialidades que temos.
Um aspecto que considero muito importante para a questão da serenidade é a competência dos indivíduos para lidar com o tempo.
Um exemplo disso é a inquietação que toma conta de muitos quando, presos no trânsito, não conseguem chegar a um encontro na hora marcada. Apesar do atraso não ser da responsabilidade deles, sofrem e se sentem por vezes até mesmo culpados pelo que está acontecendo. Chegam ao local esbaforidos e demoram um bom tempo para se recuperarem de um problema que, como regra, não tem a menor importância concreta.
Outra peculiaridade dessa dificuldade de lidar com o tempo própria da maioria das pessoas tem a ver com a condição de quem espera um acontecimento, o resultado de uma prova que irá indicar sua aprovação – ou não – em um concurso, a expectativa nervosa diante do resultado de um exame médico que irá dizer da sua condição de saúde. Saber esperar é uma das virtudes mais raras que tenho conhecido e certamente contribui enormemente para que uma pessoa desenvolva esse estado de calmaria correspondente à serenidade. Sim, porque é fato que, de certa forma, estamos continuamente esperando eventos que irão influenciar nossas ações futuras.
O momento presente é sempre uma ficção: vivemos entre as lembranças do passado e a esperança de acontecimentos futuros que buscamos, mais ou menos ativamente, alcançar. A regra é que estejamos indo atrás de alguns objetivos, perseguindo-os com mais ou menos determinação e persistência.
A maior parte das pessoas se sente muito triste quando está sem projetos, apenas usufruindo dos prazeres momentâneos que suas vidas oferecem.
Somos pouco competentes para vivenciar o ócio. Esse estado de não querer nada, não estar buscando nada e que os filósofos antigos consideravam como muito criativo é algo gerador de um estado de alma que chamamos de tédio e que não deixa de ser uma forma peculiar de depressão.
No tédio nos perguntamos acerca do sentido da vida e, como não temos meios de responder a essa pergunta, nos deprimimos.
De uma certa forma, fazemos tudo o que fazemos com o objetivo de fugir do ócio e do tédio que o acompanha. Mesmo nos períodos de férias percebidas como merecidas – por termos sido capazes de produzir bastante – temos que nos ocupar: abandonamos nossos afazeres habituais e nos entretemos com a visita a lugares que não conhecemos, com a prática de esportes exigentes, com a leitura…
Aqueles que não são capazes de se deleitar com essas outras ocupações, tendem a fazer uso excessivo do álcool ou de outras drogas. A verdade é que poucos são os que conseguem ficar em paz em prolongada inatividade.
Por outro lado, perseguir objetivos com obstinação e aflição de alcançá-los o quanto antes também subtrai a serenidade.
Assim, perdemos a serenidade quando andamos muito devagar, perto da condição do ócio – que traz o tédio e a depressão – e também quando nos tornamos angustiados pela pressa de atingirmos logo nossas metas. Mais uma vez, a sabedoria, a virtude está no meio, naquilo que Aristóteles chamava de temperança: cada um parece ter uma “velocidade ideal”, de modo que se andar muito abaixo dela tenderá a se deprimir, ao passo que se andar muito acima dela tenderá a ficar muito ansioso. Interessa pouco comparar nossa velocidade com a dos outros, posto que só estaremos bem quando estivermos em nosso ritmo, qualquer que seja ele.
Conhecer a si mesmo implica, entre outras coisas, conhecer a velocidade na qual nos sentimos confortáveis e conseguimos andar com competência e serenidade.

Flávio Gikovate

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

"O Homem E A Mulher"!!!

O homem é a mais elevada das criaturas...
A mulher é o mais sublime dos ideais.
O homem é o cérebro... A mulher é o coração.
O cérebro fabrica a luz... O coração, o amor.
A luz fecunda... O amor ressuscita.
O homem é forte pela razão... A mulher é invencível pelas lágrimas.
A razão convence... As lágrimas comovem.
O homem é capaz de todos os heroísmos... A mulher, de todos os martírios.
O heroísmo enobrece... O martírio sublima.
O homem é um código... A mulher é um evangelho.
O código corrige... O evangelho aperfeiçoa.
O homem é um templo... A mulher é o sacrário.
Ante o templo nos descobrimos... Ante o sacrário nos ajoelhamos.
O homem pensa... A mulher sonha.
Pensar é ter , no crânio, uma larva.. Sonhar é ter , na fronte, uma auréola.
O homem é um oceano... A mulher é um lago.
O oceano tem a pérola que adorna... O lago, a poesia que deslumbra.
O homem é a águia que voa... A mulher é o rouxinol que canta.
Voar é dominar o espaço... Cantar é conquistar a alma.
Enfim, o homem está colocado onde termina a terra...
A mulher, onde começa o céu.

Victor Hugo

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

"Os Mesmos Erros"!!!

Mesmo um exame superficial da história revela que nós, seres humanos, temos uma triste tendência para cometer os mesmos erros repetidas vezes.
Temos medo dos desconhecidos ou de qualquer pessoa que seja um pouco diferente de nós.
Quando ficamos assustados, começamos a ser agressivos para as pessoas que nos rodeiam.
Temos botões de fácil acesso que, quando carregamos neles, libertam emoções poderosas.
Podemos ser manipulados até extremos de insensatez por políticos espertos.
Deem-nos o tipo de chefe certo e, tal como o mais sugestionável paciente do terapeuta pela hipnose, faremos de bom grado quase tudo o que ele quer, mesmo coisas que sabemos serem erradas.

Carl Sagan

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

"Interconectados... Intersendo"!!!

A versão japonesa da fábula da tartaruga e do coelho é um tanto quanto diferente daquele da minha infância brasileira. Eu a ouvi há poucos dias do Reverendo Miura, que veio do Japão nos visitar.
Conta-se que a tartaruga e o coelho foram apostar uma corrida.
O coelho saiu na frente e quando estava no topo de um morro olhou para trás e viu a tartaruga lá longe, tão longe que ele resolveu deitar e dormir.
Passo a passo a tartaruga passou pelo coelho adormecido e chegou em primeiro lugar.
No Japão essa fábula é ensinada para enfatizar a importância da persistência, paciência, continuidade.
No entanto, quando essa história foi contada na Índia houve quem dissesse:
“A tartaruga foi má. Sabe por que? Porque ela não acordou o coelho.”
São maneiras diferentes de se interpretar a mesma história.
Talvez a tartaruga devesse ter parado e verificado se o coelho estava bem antes de continuar caminhando lenta e continuamente.
A história do Brasil era diferente. A tartaruga enganava o coelho e chegava primeiro.
Talvez por isso temos tantas pessoas envolvidas na corrupção. Não paramos para ajudar como na Índia, país pobre e sofredor. Nem vamos passo a passo até nossos objetivos, como no Japão, país próspero.
Como seria a versão de Buda?
Saíram juntos o coelho e a tartaruga.
Não se preocupariam em ganhar, mas em criar harmonia com sua passagem. Ofereceriam o prêmio um ao outro, pois não haveria perdedor...
Um ganharia pela velocidade. Outro pela persistência.
A tartaruga veria o coelho sair rapidamente. Da poeira levantada onde nem suas patinhas poderiam ser encontradas, a tartaruga apreciando, cada passo, flor, estrada se apiedaria do amigo que na grande correria se esquecia de ver cada detalhe sagrado.
O coelho por sua vez, pernas fortes e longas, se preocupava com a amiga tartaruga, de casco pesado e pernas curtas. Estaria sendo absurda essa competição?
Olhava para trás e a via caminhando, lenta e decididamente. Parava o coelho e a esperava. Perguntava como estava. Juntos descansavam na sombra das árvores.
E o melhor é que não havia gol a obter, não havia corrida a ganhar. Tudo que havia era o prazer de viver. Cada um com seu passo, seu estilo, sem competir, caminhando o Caminho, sendo o Caminho iluminado.
E nessa caminhada iam encontrando pessoas e animais, árvores e minerais, água, terra, ar, fogo, tudo que existe e sempre se prontificando a ajudar e a procurar a maneira correta de fazer com que todos percebessem a beleza de caminhar o caminho sem começo e sem fim.
No budismo ambos seriam bodisatvas, seres iluminados disfarçados a mostrar o Caminho verdadeiro a todos os seres.
Essa versão me apetece e se parece sonho, fantasia, ilusão, utopia – é dessa matéria prima sagrada que a vida é celebrada.
Somos um com o mundo. O mundo é uno em nós.
Quando inspiramos o mundo inspira. Além da dualidade o que resta é a unidade.
A diversidade não é rival da unidade. Pelo contrário: no uno tudo está incluído. Cada parte, como um corpo de coração e pulmões, rins e fígado.
Outro monge, Reverendo Saikawa, bebeu de um copo de água. Era a água e eu...
Agora a água sou eu. Eu sou a água. "Interconectados. Intersendo".
Olhar capaz de ver com clareza luminosa como espelho de cristal.
Audição de ouvir com clareza sonora como espelho de cristal.
Assim com todos os sentidos. Tudo vendo, tudo ouvindo, todos os odores sentindo, todos os sabores, na pele o frio, o calor, as texturas.
Mas a mente precisa estar luminosa e aberta, pois se estiver cheia de si mesma não é capaz de se tornar flexível e sensível.
Tartaruga e coelho não se opõem. São... Intersendo.
Cada um é como é. Tem sua função e ação. Se tartaruga quiser ser coelho terá problemas dores, sofrimentos. Não aceitará a si mesma. Estará o tempo todo reclamando, se rejeitando, julgando, se rebaixando. Triste sina.
Se o coelho pensasse ser tartaruga, com uma casa nas costas a se proteger dos caçadores, seria triste seu fim.
Cada um é cada um. Tem valor e tem lugar. Nada é fixo. Não há melhor nem pior.
Há o que é correto em sua função e posição.
Ser humano, estrela, cão.
Somos todos apenas você.
E você sou eu.
Tartaruga e coelho. Além da competição.

Monja Coen Sensei

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

"O Saudosismo... E O... Hoje Em Dia"!!!


Salve as histórias contadas, os causos, as memórias ainda vivas em mentes férteis, a disposição e competência para contá-las.
Mesmo profissionalmente, sempre digo que é impossível planejar o futuro, sem um histórico para se ter uma base de informações anteriores e com isso poder planejar e projetar o porvir.
Há quem diga que a contação de histórias, de casos e causos é puro e pobre saudosismo. Não é... É valorização da história vivida e importante para a formação de conceitos e busca de experiências para se fazer o melhor no futuro. Não fosse assim, a cultura com um todo, não estaria atrelada aos livros, ao estudo da história universal, aos museus e suas mostras e tudo que se estuda sobre o passado para se entender o presente e poder pressupor o futuro.
Da mesma forma que vivo ouvindo o falatório de que é falta de praticidade, falta de objetividade, quando alguém se alonga na exposição e nos detalhes do relato de fatos; vejo sim é falta de capacidade ou de habilidade das pessoas que fazem tais críticas, que não conseguem versar suas idéias, histórias e conceitos, de forma mais rica, de forma mais clara, por absoluta falta de conhecimento gramatical, por pobreza de vocabulário ou mesmo por cegueira de argumentos.
Pobreza é essa história do "hoje em dia". Para mim, não existe expressão mais chula, mais pobre, mais vazia, que essa história do "hoje em dia".
Como se todos os hábitos, se todas as vidas, se toda a vivência fosse apagada todo dia e somente o hoje valesse e como se o hoje fosse sempre diferente do ontem. Vejo nessa expressão, uma absurda pedância de modernidade vazia e besta, como se apagar o passado e tudo de bom que se fez e que reflete no presente e refletirá no futuro, fosse inútil e oco.
Se a tecnologia, se a comunicação realmente muda e evolui a cada dia, numa velocidade crescentemente galopante, nós homens, não mudamos assim, com essa dinâmica. Nossa memória genética sempre está muito bem fincada, enraizada e ditando nossos sentidos, nossa intuição e a mudança, a evolução humana, é muito lenta. Muito mais lenta que os hipócritas desejam.
Exatamente esse desprezo ao ontem, à história e às origens, das quais nossas ações instintivas não fogem, é que provocam tantos e tantos conflitos nas almas de tantos moderninhos chulos e que se apegam a coisas todas do “hoje em dia”, como droga, álcool e virtualidades, para tentar conciliar seus sentidos instintivos, com seus modernos desejos impostos pelo “hoje em dia”
Essa frustrada e pobre expressão "hoje em dia", usada em demasia e de forma abusada, soa para mim absolutamente azeda, vazia, inculta e hipócrita, num desrespeito idiota da própria evolução.
Da mesma forma que a cada dia ouço mais e mais em meio a exposição de respostas, a expressão "na verdade", "vou lhe falar a verdade" e outras tantas formas de invocar a verdade, que cada vez que alguém fala comigo usando tais expressões, não raras vezes já retruco: "Então tudo que dissestes até agora era mentira?" Então quando você não começar a frase com essa expressão "na verdade", é tudo mentira?
São, pois, quatro coisas que me “aporrinham”; a cultura sendo taxada de saudosismo, a riqueza de vocabulário e conhecimento apelidado de falta de praticidade, a ignorância somada a pedância do modernismo idiota sendo mascarada pelo “hoje em dia” e a verdade precisando ser afirmado como intróito, cada vez que ela, a verdade, estará sendo utilizada.
Assim, nessas poucas linhas finais, tentei sintetizar – não por falta de vocabulário nem verbos, nem adjetivos – a diferença entre a cultura e o bom senso, fundamentado no estudo e na história, comparada a intelectualidade virtual dos cartões postais, do “ouvi dizer”e do “hoje em dia”, bem do jeito que uma banda de rock (Kid Abelha), já ultramoderna e hoje já constando do saudosismo, dita em sua música mais conhecida, que mencionava:”conheço quase o mundo inteiro, por cartão postal. E sei de quase tudo um pouco, mas quase tudo mal.

E A Coelho


terça-feira, 27 de outubro de 2015

"Será Que Temos Fé?"!!!


Muitos de nós estamos no mesmo barco...
Acreditamos numa força superior que nos criou e que é Luz e Amor, nos acompanha em todos os momentos, principalmente se o permitirmos. A essa crença chamamos FÉ. Ocorreu-me fazer algumas perguntas bastante desafiadoras, a mim mesma, com referência a essa certeza que dizemos ter.
- Será que apesar de toda a tristeza que está presente em nosso viver atual, continuaremos firmes e sem entrar em depressão, em desânimo?
- Será que mesmo sentindo uma indignação tão grande diante dos acontecimentos estarrecedores que estamos sendo obrigados a conhecer, poderemos nos manter equilibrados?
- Será que na vida corrida de hoje em dia, quando nossos amigos não têm tempo de nos procurar, nossos familiares também, continuaremos seguros do amor de cada um deles, procurando compreender as suas razões para tal atitude?
- Será que, embora cercados de convites ao consumismo desenfreado, ao uso de drogas as mais diversas, lícitas ou ilícitas, seremos capazes de resistir e seguir adiante, apoiados em nossa essência?
- Será que num mundo onde falar de ternura, amor, compreensão, compaixão, romantismo, se tornou piegas e ultrapassado, ainda continuaremos a expressar os nossos sentimentos mais carinhosos, sempre que a oportunidade se apresentar?
Tudo isso e muito mais, poderia enumerar, mas me cansaria e a você também.
Enfim, se apesar de vivermos imersos neste mundo sombrio a maior parte do tempo, pudermos manter nossa luz acesa, nossa esperança viva, nossas alegria pronta a se expressar, nossa pureza intacta... sim, SOMOS PESSOAS QUE TÊM FÉ!
Penso que ter fé não é manifestar isto apenas através de idas a templos, recitação de preces prontas, novenas, mas sim, ter uma vida feliz - apesar da maré contra!
A Fé precisa ser vivida, mostrar pra que veio...
Ou eu acredito na Divina Ordem que mantém todo o Universo harmonioso, ou não.
Se acreditar, não posso desanimar por muito tempo...
Se cair, a Fé vai me levantar.
Ela dá a cada um de nós saúde e anticorpos contra todas as malevolências e tristezas dessa vida. Ela nos faz mais fortes e seguros a cada queda e nos impulsiona pra frente, mesmo que o cansaço esteja nos amolecendo...
Esta é a verdadeira Fé... Nasce no coração, se apóia nos estudos e sabedoria de todos os Mestres –festejados ou não– que já passaram por este nosso pequeno planeta azul e deixaram suas contribuições.
A Fé precisa ser validada pela razão, ou não terá força para se conservar viva nos infortúnios. O raciocínio, em cada um de nós, precisa dizer “sim” ao que a fé nos acena e hoje a ciência já consegue nos ajudar perfeitamente nisto.
Basta que a gente se interesse em estudar e o estudo atualmente pode ser gratuito e livre - pois a Internet contém um Universo de informação, para quem quiser se aprofundar; livros existem aos montes; enfim, não falta informação.
Se acreditar que sou energia num corpo, preciso usar bem o meu pensamento, ou estarei prejudicando a mim mesma e aos outros. Enfim, a verdade é que o momento mundial está exigindo coerência, integridade.
A idade das trevas já passou há alguns séculos. A ciência nos iniciou na idade da razão e o que precisamos é compreender melhor e com segurança o que estamos fazendo aqui, neste mundo material, mesmo sendo espíritos.
Se a nossa Fé não for segura, embasada em respostas confiáveis –para nós– talvez não suportemos os grandes desafios deste nosso tempo de grandes verdades, mas também de muitas mentiras...
Quem nos responde à pergunta se realmente somos pessoas de Fé é o nosso coração. Ele não nos mente jamais. É difícil falar sobre o sentir, pois eu sinceramente fico sem palavras pra explicá-lo. Mas penso que você sabe do que estou falando. Quando sentimos, não duvidamos. Não precisamos de teorias complicadas, de teoremas difíceis - apenas sentimos. A Fé é também assim.
O Amor que nos criou está nos esperando... Precisamos andar com Fé e não podemos nos atrasar muito, pois o momento é este. O trem está partindo da estação em direção a um novo momento de mais paz, mais harmonia e mais luz!

Maria Cristina Tanajura 

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

"Estamos Desabituados do Trabalho de Verificar"!!!

Todos nós hoje nos desabituamos, ou antes nos desembaraçamos alegremente, do penoso trabalho de verificar.
É com impressões fluídas que formamos as nossas maciças conclusões.
Para julgar em Política o facto mais complexo, largamente nos contentamos com um boato, mal escutado a uma esquina, numa manhã de vento.
Para apreciar em Literatura o livro mais profundo, atulhado de ideias novas, que o amor de extensos anos fortemente encadeou, apenas nos basta folhear aqui e além uma página, através do fumo escurecedor do charuto. Principalmente para condenar, a nossa ligeireza é fulminante.
Com que soberana facilidade declaramos:-"Este é uma besta! Aquele é um maroto!"
Para proclamar:-"É um gênio" ou "É um santo", oferecemos uma resistência mais considerada.
Mas ainda assim, quando uma boa digestão ou a macia luz de um céu de Maio nos inclinam à benevolência, também concedemos bizarramente, e só com lançar um olhar distraído sobre o eleito, a coroa ou a auréola, e aí empurramos para a popularidade um maganão enfeitado de louros ou nimbado de raios.
Assim passamos o nosso bendito dia a estampar rótulos definitivos no dorso dos homens e das coisas. Não há ação individual ou colectiva, personalidade ou obra humana, sobre que não estejamos prontos a promulgar rotundamente uma opinião bojuda E a opinião tem sempre, e apenas, por base aquele pequenino lado do fato, do homem, da obra, que perpassou num relance ante os nossos olhos escorregadios e fortuitos.
Por um gesto julgamos um carácter: por um carácter avaliamos um povo.

Eça de Queirós

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

"Tuareg"! Você Tem O Relógio ... Eu Tenho O Tempo!!!

Não sei minha idade. Nasci no Deserto do Saara, sem documentos.
- Nasci em um acampamento dos nômades tuaregs entre Timbuctu e Gao, ao norte de Mali, Fui pastor de camelos, cabras, cordeiros e vacas de meu pai.
Hoje estudo gestão na Universidade de Montpellier. Estou solteiro. Defendo aos pastores tuaregs. Sou muçulmano, sem fanatismo.
- Que turbante tão formoso!
É uma fina tela de algodão: permite tapar o rosto no deserto, e continuar a ver e respirar através dele.
- É de um azul belíssimo…
Nós, os tuaregs, somos chamados de homens azuis por isso:
- O tecido solta alguma tinta e nossa pele adquire tons azulados
- Como conseguem esse tom de azul anil?
- Com uma planta chamada índigo, mesclada com outros pigmentos naturais.
Para os tuaregs o azul é a cor do mundo.
- Porque?
- É a cor dominante: é a cor do céu, do teto de nossa casa.
- Quem são os tuaregs?
Tuareg significa “abandonados”, porque somos um velho povo nômade do deserto, solitários e orgulhosos: “Senhores do Deserto, é como nos chamam. Nossa etnia é a amasigh (bereber), e o nosso alfabeto, o tifinagh.
- Quantos são?
- Uns três milhões, e a maioria permanece nômade.
Mas a população diminue. “É preciso que um povo desapareça, para que saibamos que ele existiu!” Apregoava um sábio. Eu luto para preservar esse povo.
- A que se dedicam?
- Pastoremos rebanhos de camelos, cabras, cordeiros, vacas e asnos num reino de imensidão e de silêncio
- O deserto é realmente tão silencioso?
- Quando se está sozinho naquele silêncio, ouve-se o batimento do próprio coração. Não há lugar melhor para se estar sozinho.
- Quais recordações de sua infância vc conserva com maior nitidez?
- Desperto com a luz do sol e ali estão as cabras de meu pai. Elas nos dão leite e carne, nós a levamos onde há água e pasto… Assim fizeram meu bizavô, meu avô e meu pai… e eu.
- Não havia outra coisa no mundo além disso. E eu era muito feliz com isso.
- Mas é muito! Aos sete anos já te deixam afastar-se do acampamento para que aprendas coisas importantes: farejar o ar, escutar, apurar a vista, orientar-se pelo sol e as estrelas… E a deixar-se levar pelo camelo, se vc se perder.
Ele te levará onde há água.
- Saber isso é valioso, sem dúvida…
-Ali tudo é simples e profundo.
Existem muito poucas coisas. E cada uma tem um enorme valor!
- Então esse mundo e aquele são muito diferentes, não?
-Ali cada pequena coisa te proporciona felicidade.
Cada toque é valorizado. Sentimos uma enorme alegria pelo simples fato de nos tocarmos e estarmos juntos. Ali ninguém sonha com chegar a ser, porque cada um já o é!
- O que mais o chocou em sua primeira viagem à Europa?
- Ver as pessoas correndo pelo aeroporto. No deserto só se corre quando vem uma tempestade de areia. Me assustei. É claro!
Eles apenas iam buscar suas malas…
- Sim! Era isso. Também vi cartazes de mulheres nuas. Me perguntei: porque essa falta de respeito para com a mulher?
Depois, no Íbis Hotel, vi a primeira torneira da minha vida, vi a água correndo e senti vontade de chorar…
- Que abundância! Que desperdício! Não?
- Todos os dias da minha vida consistiam-se em procurar água.
Quando vejo as fontes ornamentais aquí e acolá, continuo sentindo por dentro uma dor tão intensa…
-Tanto assim?
- Sim! No começo dos anos 90 houve uma grande seca. Morreram os animais e nós adoecemos. Eu tinha uns 12 anos e minha mãe morreu. Ela era tudo para mim! Me contava histórias e ensinou-me a contá-las muito bem. Ela me ensinou a ser eu mesmo.
- O que sucedeu com sua família?
- Convenci meu pai que me deixasse ir à escola. Quase todo dia caminhava 15km. Até que um dia o professor me arranjou um lugar para dormir e uma senhora me dava o que comer, quando eu passava em frente à sua casa.
Entendi que essa ajuda vinha de minha mãe.
- De onde surgiu esse desejo de estudar?
Uns dois anos antes, havia passado pelo nosso acampamento o rally Paris-Dakar, e uma jornalista deixou cair um livro de sua Mochila. Eu o apanhei e lhe entreguei. Ela me deu o mesmo de presente. Era um exemplar do Pequeno Príncipe e eu me prometi que um dia conseguiria lê-lo.
- E conseguiu.
- Sim! Foi assim que consegui uma bolsa de estudos na França.
- Um Tuareg na universidade!
- Ah, o que mais sinto falta aqui é o leite de camela... E o calor da
fogueira, e de andar com os pés descalços na areia quente.
Lá nós olhamos as estrelas todas as noites e cada estrela é diferente das outras como cada cabra é diferente. Aqui, à noite, você olha para TV.
- Sim! E o que vc acha pior aqui?
- Vocês tem tudo, mas não acham suficiente. Vocês se queixam.
Na França passam a vida reclamando! Aprisionam-se pelo resto da vida à uma dívida bancária, num desejo de possuir tudo rapidamente ...
No deserto não há congestionamentos. E você sabe por quê?
Porque lá ninguém quer ultrapassar ninguém!
- Conte-me um momento de extrema felicidade no seu deserto distante.
- Todo dia, duas horas antes do pôr do sol: a temperatura abaixa, mas ainda não chegou o frio, e os homens e os animais, lentamente voltam para o acampamento e seus perfis são recortados em um céu cor de rosa, azul, vermelho, amarelo, verde...
Fascinante, na verdade...
É um momento mágico ...
Entramos todos na cabana e colocamos o chá para ferver.
Sentamo-nos em silêncio, a ouvir a ebulição ...A calma invade todos nós, e o nosso coração bate ao ritmo do barulho da fervura...
-Que paz!
- Aquí vocês tem relógio…lá temos TEMPO.
VOCÊ TEM O RELÓGIO, EU TENHO O TEMPO!
NA NOSSA VIDA O TEMPO NÃO DEVE SER APENAS O MARCADO NO RELÓGIO.
QUANTAS VEZES NOS NOSSOS DIAS NOS FALTA “O TEMPO”?
O tempo é como um rio.Você não pode tocar a mesma água duas vezes, porque a água que passou, não passará de novo. Aproveite cada momento da vida...
ENCONTRE TEMPO PARA VIVER
Se você vive dizendo como você está ocupado, então você nunca estará livre.
Se você vive dizendo que você não tem tempo, então você nunca terá tempo.
Se você vive dizendo o que vai fazer amanhã, esse amanhã nunca chegará.
Valorize cada momento vivido, e esse tesouro terá muito mais valor se você compartilhá-lo com alguém especial, especial o suficiente para vc gastar com ele o seu tempo... e lembre-se que o tempo não espera por ninguém

Entrevista realizada por 
Victor M Amela

Moussa Ag
(Tuareg)