Questão é curiosa nesta Filosofia, qual seja mais precioso e de maiores quilates: se o primeiro amor, ou o segundo?
Ao primeiro ninguém pode negar que é o primogênito do coração, o morgado dos afetos, a flor do desejo, e as primícias da vontade.
Contudo, eu reconheço grandes vantagens no amor segundo.
O primeiro é bisonho, o segundo é experimentado...
O primeiro é aprendiz, o segundo é mestre...
O primeiro pode ser ímpeto, o segundo não pode ser senão amor.
Enfim, o segundo amor, porque é segundo, é confirmação e ratificação do primeiro, e por isso não simples amor, senão duplicado, e amor sobre amor.
É verdade que o primeiro amor é o primogênito do coração; porém a vontade sempre livre não tem os seus bens vinculados.
Seja o primeiro, mas não por isso o maior.
Padre António Vieira