Somos Anjos e Mestres!
Todos nós sabemos alguma coisa que alguém, em algum lugar, precisa aprender e, por vezes, nós mesmos recordarmos.

domingo, 2 de junho de 2013

"Audácia... Prudência... Temperança"!

Uma sociedade é sustentável quando consegue articular a cidadania ativa com boas leis e instituições sólidas. São os cidadãos mobilizados  que fundam e refundam continuamente a sociedade e  a fazem funcionar dentro de padrões éticos.
O presente momento da política brasleira e a situação atual do mundo estigmatizado por várias crises  nos convidam a considerar três virtudes urgentes: a audácia, a prudência e a temperança.
A audácia  é exigida dos tomadores de decisões face à situação social brasileira que vista a partir das grandes maiorias é desoladora. Muito se tem feito no atual Governo, mas é pouco face à chaga histórica que extenua os pobres.
Nunca se fez uma revolução na educação e na saúde, alavancas imprescindíveis para transformações estruturais. Um povo ignorante e doente jamais dará um salto para frente.
Algo semelhante ocorre com a política mundial face à escassez de água potável e ao aquecimento global do planeta. Audácia  é aquela coragem de tomar decisões e pôr em prática iniciativas que respondem efetivamente aos problemas em questão.
O que vemos, especialmente, no âmbito do G-8, do FMI, do BM e da OMC diante dos problemas referidos  são medidas tímidas que mal protelam catástrofes anunciadas. No Brasil a busca da estabilidade macroeconômica inibe a audácia que os problemas sociais exigem. Dever-se-ia ir tão longe na audácia que um passo além seria insensatez. Só assim evitar-se-ia que as crises, nacional e mundial se transformassem em drama coletivo de grandes proporções.
A segunda virtude é a prudência . Ela equilibra a audácia. A prudência é aquela capacidade de escolher o caminho que melhor soluciona os problemas e mais pessoas favorece. Por isso a prudência é a arte  de congregar mais e mais agentes e de mobilizar mais vontades coletivas para garantir um objetivo bom para o maior número possivel de cidadãos. Como em todas as virtudes, tanto a audácia quanto a prudência podem conhecer excessos.
O excesso de audácia é a insensatez. A pessoa vai tão longe que acaba se isolando dos outros ficando sozinha como um Dom Quichote. O excesso da prudência é o imobilismo. A pessoa é tão prudente que acaba morrendo de ajuizada...
Engessa procedimentos ou chega tarde demais na compreensão e solução das questões.
Há uma virtude que é o meio-termo entre a audácia e a prudência: a temperança ...
Em condições normais significa a justa medida, o ótimo relativo, o equilíbrio entre o mais e o menos. Ela é a lógica do universo que assegura o equilíbrio entre a desordem originária do big bang (caos) e a ordem produzida pela expansão/evolução(cosmos). Mas em situações de alto caos social como é o nosso caso, a temperança assume a forma de sabedoria política.
A sabedoria  implica levar tão longe a audácia até aquele ponto para além do qual não se poderá ir sem provocar uma grande instabilidade. O efeito é uma solução sábia que resolve as questões das pessoas mais injustiçadas, quer dizer, traz-lhe sabor à existência (donde vem sabedoria).
Ninguém expressou melhor esse equilíbrio sutil entre audácia corajosa e prudência sábia que Dom Pedro Casaldáliga ao escrever: "Saber esperar, sabendo ao mesmo tempo forçar as horas daquela urgência que não permite esperar".    

Leonardo Boff