Somos Anjos e Mestres!
Todos nós sabemos alguma coisa que alguém, em algum lugar, precisa aprender e, por vezes, nós mesmos recordarmos.

domingo, 29 de dezembro de 2013

""Ficar Triste"!!!

Irei falar sobre um dos tópicos, para mim, mais cruciais e importantes da sociedade pós-moderna: a questão da felicidade. Na realidade, será apenas uma abordagem, de muitas, dessa questão, justamente me apegando ao contrário, de algum modo, que é a questão da tristeza.
Bem, para começo de conversa, a felicidade é basicamente o principal objetivo de todo o ser humano (pelo menos civilizado - se ainda fôssemos animais irracionais, o objetivo primário, naturalmente, seria sobreviver, procriar e garantir a manutenção da espécie)... Mas não somos irracionais.
E o ser humano, por isso, primariamente, busca ser feliz. E, durante os muitos séculos de nossa existência, essa felicidade foi buscada de muitas maneiras diferentes.
A questão é que, hoje, há talvez uma super valorização da felicidade que causa um problema muito grave. Vemos em séries de televisão, filmes, revistas e pelas redes sociais, um mundo onde todos são felizes, o tempo inteiro; onde ser feliz, como bem me disseram uma vez, parece uma obrigação, mesmo quem não é, tenta parecer assim no facebook, no  twitter e etc... (com suas raras exceções).
O que isso cria? Uma impressão de que ser feliz o tempo inteiro é normal, de que todos são assim, de que todos devem ser assim. E o que isso cria num indivíduo normal, que naturalmente não é feliz o tempo inteiro? Uma simples pergunta: se eu não sou feliz assim, será que há algo de errado comigo?
E o maior problema é quando essa pergunta se torna uma afirmação... Há, de fato, algo de errado comigo.
Vejamos bem. A tristeza é um sentimento, como outro qualquer, como o sentimento de estar feliz (e não ser feliz). E, como todo o sentimento, ele é irracional (afinal, sentimentos são emoções) e independe de qualquer fator lógico externo para ocorrer. É claro que muitas vezes nos sentimos felizes por um motivo evidente (tivemos um filho! yay!) e nos sentimos tristes por um motivo evidente (perdemos um ente querido, etc...).
Mas em muitos casos não há motivo algum para nenhuma das duas emoções, elas simplesmente acontecem. E podem acontecer por uma quantidade tão grande de fatores (que estão até mesmo ligados à alimentação e à química do corpo) que é simplesmente impossível termos controle sobre elas. E é aí que mora o problema...
Nossa sociedade nos ensina a simplesmente não aceitar que estejamos tristes.
Como se a tristeza fosse um sentimento que precisa ser eliminado e que pode ser controlado, e que aqueles que estão tristes são os excluídos. A questão é que, como com toda emoção, controlá-la não é possível. O que acontece, então, é que o indivíduo entra em um ciclo vicioso negativo.
Se sente triste, não consegue aceitar, e como não consegue mudar, se sente ainda mais triste e ainda mais frustrado e, como dito anteriormente, passa achar que é um problema dele, que há algo de errado com ele, quando, na realidade, o problema está na sociedade... Na mentalidade por ela criada e transmitida.
A tristeza não é algo negativo. E nem deve, necessariamente, ser visto como oposto a ser feliz. É completamente natural estar triste por algum motivo e por um bom período de tempo até, sem que se deixe de ser feliz. O que a sociedade precisa é entender que estar triste é algo natural e, na realidade, positivo, pois se trata de um processo essencial à mente e ao corpo para a construção de um indivíduo saudável. Isto é... É necessário "abraçar" essa tristeza em alguns momentos em vez de tentar combatê-la e de, inutilmente, tentar transformá-la em felicidade (o que leva ao ciclo vicioso falado anteriormente).
Além disso, é necessário também repensar um pouco a questão da mídia, que a todo momento coloca o estar feliz o tempo inteiro como algo possível (o que não é) e normal; excluindo todos aqueles indivíduos que não estejam assim. Isso, assim como nas questões de padrões estéticos, acaba criando um padrão ilusório e inatingível, que leva inúmeras pessoas a se sentirem tão excluídas, mas tão excluídas, que a elas parece nem ser mais possível fazer parte, funcionalmente, dos ambientes sociais... E é claro que, naturalmente, a criação desse padrão ilusório tem muito a ver com uma sociedade de consumo.

Leonardo Schabbach