Somos Anjos e Mestres!
Todos nós sabemos alguma coisa que alguém, em algum lugar, precisa aprender e, por vezes, nós mesmos recordarmos.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Para se tocar o Amor



Para se tocar o amor...

É preciso uma clave singular, que expresse
tessitura ímpar, que não admite mudança de
linha. Não pode ser de dó... O amor não pode
ser mediano... Há de ser de fá ou sol... O
amor há de ser sempre extremado  — para se
tocar o amor.

Não é preciso ser tônico — estável.
Nem subdominante ou superdominante.

O amor que se toca na clave de fá, másculo e
viril, é sempre forte (ƒ), fortíssimo (ƒƒ) ou
fortessíssimo (ƒƒƒ). Mas de beleza sem par é
o amor pianíssimo (pp), presto ou
prestíssimo, com tempo rubato.

O amor que soa em clave de  sol guarda a beleza
feminina, a ginoclave... Em quinto grau,
dominante e instável, denota a natureza
feminina, pede sempre resolução tônica ou
acordes substitutos. O amor feminino admite
qualquer altura, dinâmica e cinética, mas
sobressai-se à mezzo forte, em larghetto ou
andantino.

No amor a tablatura é única para todos os
instrumentos...
Não permite acordes, só intervalos, nem
mesmo, e muito menos, tríades.

Há de ser tocado tão somente em duas notas,
intervalos simples e compostos, aumentados
quando possível e harmônicos...

Admite-se blue notes, sustenidas ou
abemoladas, mas devem ser sempre seguidas de
um andante cantabile, um allegro ou vivace,
no amor não se admite rallentar-se: nunca,
jamais — para se tocar o amor. 

L.E.Dinardi
(em memória a Vinicius)