O amor antigo vive de si mesmo...
Não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera...
Mas do destino vão nega a sentença.
O amor antigo tem raízes fundas...
Feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito...
E por estas suplanta a natureza.
Se em toda parte o tempo desmorona...
Aquilo que foi grande e deslumbrante...
O antigo amor, porém, nunca fenece...
E a cada dia surge mais amante.
Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor...
E resplandece no seu canto obscuro,
Tanto mais velho quanto mais amor.
Carlos Drumond de Andrade